O Mendigo Amigo
Na rua Pompom da aldeia Piririca,
encostado a um velho muro de pedra estava o mendigo Pepe a olhar para as
pessoas que passavam na rua.
Pepe era um homem que raramente se
aproximava das outras pessoas e a sua única companhia era o cão Rufas.
Uma tarde, enquanto fazia festas a
Rufas, Pepe viu os três amigos Gonçalo, Tiago e André a brincar nos baloiços.
Gostando das crianças, aproximou-se e continuou a observá-las.
Alguns minutos depois, as crianças
viram-no e sorriram. Sentindo que já lhes tinha mostrado que era amigo, Pepe
aproximou-se um pouco mais e disse:
- Olá meninos!
Os amigos responderam:
- Olá!
Pepe sorriu e disse:
- Que bom que não têm medo de mim. São
os únicos, porque as outras pessoas nem me dizem um olá. Eu sou o Pepe e moro
neste jardim.
Espantado, Gonçalo apresentou-se e
perguntou:
- Eu sou o Gonçalo. Como é que mora no
jardim!?
Explicando a sua história, Pepe contou:
- Quando era pequeno, andava sempre a
ajudar nas terras e por isso não andei na escola. Comecei a trabalhar muito
cedo e era muito difícil. Quando fiquei sem pais, tive que vir viver para as
ruas pedir esmolas.
Querendo saber mais, Tiago perguntou:
- Mas, como dorme na rua?
Pepe explicou:
- Nas noites de calor, durmo ou na relva
ou nos bancos do jardim e quando chove, vou dormir para a cabana velha que está
ao pé dos pescadores.
André perguntou:
- Não tem medo?
Pepe respondeu:
- Já perdi o medo.
Rindo, Gonçalo perguntou:
- Como é que se perde o medo?
Pepe explicou:
- Quando crescemos e vivemos muitas
coisas, deixamos de ter medos e por isso, dizemos que o perdemos. Eu, como já
tenho alguns anos, não tenho medo de quase nada.
Sorrindo, Tiago disse:
- Eu também gostava de não ter medos.
Olhando para os meninos, Pepe disse:
- Vamos para ao pé do lago que, vou-vos
contar umas coisas.
Sentados na beira do lago, Pepe começou
a falar:
- Uma vez, estava ao pé da estufa aberta
e chegaram lá umas pessoas com uns penteados despenteados e com umas roupas
muito esquisitas. Quando estavam a sair, ouvi-os dizer que nunca tinham visto
frutos assim.
Rindo, Gonçalo disse:
- Na estufa não há frutos!
Pepe disse:
- Pois não. Mas eles viram as flores e
pensaram que eram frutos.
Os amigos riram-se e Pepe disse:
- Há pessoas que não sabem distinguir
flores e frutos. Outra vez, veio cá um homem que começou a cortar flores
porque, a mulher fazia anos e ele não tinha dinheiro para lhe comprar uma
prenda. O problema, foi que o segurança viu e obrigou-o a semear e cuidar do
jardim até nascerem outras flores. Mas, o pior foi uma vez que um menino caiu
ao lago e os patos não o largavam.
André disse:
- Pensava que o jardim era mais calmo.
Pepe disse:
- O jardim também nos ensina muitas
coisas. Ensina-nos a importância da natureza, o valor da sua beleza e como ela
nos faz bem.
André sorriu e disse:
- Nunca pensei que ela nos pudesse
ensinar tanta coisa.
Pepe respondeu:
- A natureza ensina-nos muita coisa e
algumas, nem notamos. Eu, como vivo aqui sinto que a natureza é a minha mãe. É
a ela que conto algumas coisas e é com ela que percebo outras.
Olhando para uma borboleta, Tiago disse:
-Vou começar a espeitar a natureza e a
trata-la como merece.
Gostando do que ouvira, Pepe disse:
- A natureza merece o nosso respeito e o
nosso carinho. Sem ela, não conseguíamos viver e o nosso planeta não podia ter
ninguém. Se não existisse natureza, não tínhamos nada que renovasse o ar que
respiramos, nem tínhamos a água de precisamos para viver.
Sorrindo, Gonçalo disse:
- A natureza é mesmo muito importante.
Pepe olhou para o chão e disse:
- O problema é que as pessoas estão a
acabar com a natureza.
Curioso, Tiago perguntou:
- Como?
Pepe explicou:
- Para além de cortarem as florestas e
não as plantarem, cada vez inventam mais coisas para fazer mal ao planeta. Um
dia destes, ouvi duas senhoras comentarem que o buraco da camada de ozono é
cada vez maior e que não conseguem evitar que ele aumente. Também disseram que
num pais qualquer, inventaram um produto que misturado com a água, consegue
matar os animais que lá moram.
André olhou muito sério para Pepe e
disse:
- Há pessoas muito más.
Pepe disse:
- Elas não percebem é que também estão a
fazer mal a elas mesmas.
Concordando, Gonçalo disse:
- Pois não.
Olhando para uma grande árvore, Pepe
disse:
- Aquela árvore, entende quando as
pessoas são más.
André perguntou:
- Como é que ela faz isso!?
Pepe respondeu:
- Às vezes, quando cá vêm algumas
pessoas e ela percebe que são más, deixa cair algumas folhas e fica com o
tronco mais escuro.
Rindo, Tiago disse:
- Ah! Ah! Ah! Que mentira tão esquisita.
Muito sério, Pepe disse:
- Isto não é mentira. Mas, só acreditam
se quiserem.
Gonçalo olhou para Tiago e disse:
- Tiago, está calado e não digas mais
nada disso.
Vendo que estava a ficar tarde, André
disse:
- Está na hora de irmos embora. Gostámos
muito de falar com o Pepe, pode ser que voltemos cá outro dia.
Pepe disse:
-Também gostei muito de falar com vocês.
Espero que voltemos a falar.
Os amigos despediram-se e foram-se
embora.
No fim de semana seguinte, os amigos
foram ao jardim ao pé de Pepe e quando o encontraram, viram-no muito triste.
Foram ao pé dele e ele contou-lhes:
- Ontem, veio aqui um homem e esteve-me
a dizer que eu tinha que sair do jardim. Agora, não sei onde hei-de viver.
Pensativos, os amigos começaram a pensar
numa solução para aquele problema. Alguns minutos depois, André disse:
- O Pepe sabe muita coisa do jardim.
Vamos ao clube União Natural e pode ser que eles nos ajudem.
Correndo para o clube, os amigos foram
falar com o director Germano e Gonçalo contou-lhe:
- No jardim da rua Pompom, mora um homem
que não tem casa nem nada.
Germano interrompeu e disse:
- Quando eu era pequeno, já o velho
homem lá morava.
Tiago olhou para Germano e disse:
- As pessoas têm medo dele e pensam que
ele lhes quer fazer mal.
Rapidamente, André disse:
- O Pepe não faz mal a ninguém. Ontem,
estivemos a falar com ele e ele não se cansou de falar do parque e da natureza.
Ele sabe muitas coisas.
Germano disse:
- Como vocês são crianças, ele deve ter
gostado da vossa companhia.
Gonçalo olhou melhor para Germano e
disse:
- Ele sabe tanta coisa, que era bonito
se as contasse às crianças.
André interrompeu o amigo e disse:
- Podia ensinar a trabalhar com a
natureza e a cuidar dela.
Achando uma ideia bonita, Germano disse:
- Como estamos na primavera, vou ver o
que posso fazer.
De regresso ao jardim, os amigos
encontraram Pepe e disseram-lhe:
- Falámos com o presidente Germano e
pode ser que ele arranje alguma coisa gira aqui para o parque.
Sem saber o que os amigos tinham falado,
Pepe ficou calado a observá-los.
Alguns dias depois, os amigos
regressaram ao jardim e, no coreto viram muitas cadeiras. Nesse momento,
apareceu Germano e disse:
- Está tudo preparado para que o Pepe
possa falar com as crianças.
Pouco depois, apareceu Pepe que ao olhar
para o coreto, perguntou:
- Que vai acontecer ali?
Germano respondeu:
- Preparámos aquilo, para o Pepe falar
do jardim e da natureza para quem quiser ouvir. Daqui a pouco, os meninos da
escola primária da freguesia, vêm cá.
Sem saber o que dizer, Pepe ficou calado
a olhar para os amigos.
Entretanto, chegaram os meninos e envergonhado,
Pepe falou-lhes da importância da natureza e de todos os cuidados que ela
merece.~
No fim, depois de um grande aplauso,
Germano levou Pepe até uma pequena casa, dizendo-lhe:
- Esta é a sua nova casa. A partir de
agora, vai deixar de dormir no jardim e aqui terá tudo o que necessita.
Com lágrimas nos olhos, Pepe só
conseguiu dizer:
- Obrigado.
Os amigos aproximaram-se e felizes
disseram:
- Bem-vindo.
A partir desse dia, Pepe começou a
partilhar as suas histórias com todos os habitantes de Piririca, sendo
respeitado por toda a aldeia.
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