Os Instrumentos Mágicos
Numa manhã, enquanto os
raios de sol tentavam furar as nuvens, os irmãos Ricardo e Mariana acordavam
com muita preguiça. Depois de se prepararem, foram tomar o pequeno-almoço e
ouviram a mãe Custódia a atender o telefone.
- Quando acordarem, digo-lhes – disse
ela.
Depois de desligar o telefone, Custódia
foi à cozinha e lá encontrou os filhos.
- Filhos. A avó Chica ligou a dizer que
vai arrumar o sótão e perguntou se vocês a querem ir ajudar – disse ela.
- Eu quero. Gosto tanto de ajudar a avó
– disse Mariana.
-
E eu também. Da última vez, encontrei um pião e ela deu-mo – disse Ricardo.
-
Então, acabem de tomar o pequeno-almoço e vão – disse Custódia.
Após
terminarem, os irmãos correram até à casa da avó. Lá, abraçaram-na e
entusiasmados começaram aos saltos.
-
Olá netinhos. Ainda bem que estão cheios de energia pois, temos muito trabalho
para fazer – disse a avó, sorrindo.
Já
no sótão, começaram por guardar algumas bugigangas em sacos e arrumaram--nos a
um canto. De seguida, varreram o sótão e, enquanto limpavam o vidro de uma
pequena janela, viram lá ao pé uma arca de madeira muito antiga. Curiosos,
tentaram abri-la mas, o fecho enferrujado não facilitou a tarefa.
-
Avó! O que está aqui dentro? – perguntou Ricardo.
-
Não faço ideia. O vosso avô nunca o abriu para me mostrar o lá está guardado –
respondeu Chica.
-
Se calhar, está lá algum tesouro – disse Mariana.
-
O tesouro deve ser alguma das invenções estrambólicas do vosso avô – disse
Chica.
-
Mas, podemos tentar abrir? – perguntou Ricardo.
-
Claro que sim – respondeu Chica.
Depois
de várias tentativas falhadas, Ricardo pegou num ferrito e começou a raspar a
ferrugem. Minutos depois, ouviu-se um “click” e Mariana conseguiu abrir o
fecho.
Levantando
o tampo, os irmãos viram que lá dentro, estavam alguns instrumentos musicais.
Pegando num tambor, Mariana começou a tocar mas, o único som que ouviu foi um
“ai”.
Surpresa,
Mariana largou o tampo que, ao cair fez o mesmo som.
-
Quem está aí!? – perguntou ela.
-
Sou eu – respondeu o tambor.
-
Eu quem!? – perguntou Mariana.
-
O tambor que deixaste cair – respondeu o tambor.
Olhando
para o tambor, Mariana ficou em silêncio durante alguns segundos.
-
Tu falas? – perguntou ela.
-
Sim – respondeu o tambor.
-
Como!? Se os instrumentos não falam? – perguntou Mariana.
-
Eu sou mágico – respondeu o tambor.
-
Como podes ser mágico? – perguntou Mariana.
-
Vou contar a minha história, a minha e dos outros instrumentos. Uma noite,
depois de um espetáculo, os músicos arrumaram-nos num canto do palco e, de um
momento para o outro, quando tudo estava escuro, começou uma chuva de
pirilampos e a partir daí, começámos a falar – respondeu o tambor.
Nesse
momento, os outros instrumentos começaram a sair da arca.
O
primeiro foi o trompete que, ao tossir, fazia uns sons grossos parecidos ao do
apito do comboio.
-
Ainda bem que já saí daquele mofo. Quase não conseguia respirar – disse o
trompete.
De
seguida, saiu a pandeireta que feliz se abanava.
-
Agora já me posso mexer. Estava tão apertada que quase não conseguia respirar –
disse ela.
Seguiu-se
o acordeão que se esticava lentamente.
-
Pensei que nunca mais ia conseguir tocar. Parecia que estava preso por cordas
invisíveis – disse ele.
Depois
foi a vez das castanholas saltarem para fora da arca e enquanto sacudiam o pó
que as cobria, sorriam.
-
Que bom! É ótimo voltar a ter liberdade – disseram as castanholas.
A
seguir, saiu a flauta que cansada, mal conseguia respirar.
-
Aquele pó, deixou-me mesmo estafada. Acho que já não aguentava mais continuar a
soprá-lo – disse a flauta.
Por
último, saiu o triângulo.
-
Estava a ver que não conseguia sair – disse ele.
Felizes
com a liberdade, os instrumentos ficaram lado a lado e sorriam.
Alguns
dias depois, Mariana e Ricardo regressaram a casa da avó Chica. Já no sótão, os
irmãos reuniram-se com os instrumentos que já não sorriam.
-
Porque estão tristes? – perguntou Ricardo.
-
É que, nós queríamos tocar mas, este sótão é muito escuro e temos medo –
respondeu a pandeireta.
-
Já sei o que podemos fazer – disse Mariana.
-
O quê!? – perguntaram os instrumentos.
-
No parque dos Sapinhos, há um coreto e vocês podiam ir para lá tocar –
respondeu Mariana.
-
Boa! Mas, como vamos para lá? – perguntou o acordeão.
-
Eu peço à avó Chica e ela leva-vos lá – respondeu Ricardo.
A
correr, Ricardo foi até ao pé da avó.
-
Avó! Na velha arca, estavam guardados uns instrumentos musicais mágicos e,
queríamos pedir-te para os levares pró coreto para que outras pessoas os possam
ouvir – pediu Ricardo.
-
Mágicos! Como!? – perguntou Chica.
-
Eles falam e tocam sozinhos – respondeu Mariana.
-
Não mintam que é muito feio – disse Chica.
-
Nós não estamos a mentir – disse Ricardo.
-
Vem ver, avó – disse Mariana.
Seguindo
os netos, Chica foi ao sótão. Lá, organizados por tamanhos, os instrumentos começaram
a tocar uma linda música.
Terminada
a música, Chica bateu as palmas.
-
Quando me disseram que eles eram mágicos, pensei que fosse invenção vossa. Mas,
agora vi que é mesmo verdade – disse Chica.
-
Então, avó. Ajudas-nos a levá-los para o coreto? – perguntou Ricardo.
-
Claro que sim – respondeu Chica.
Depois
de transportarem cuidadosamente os instrumentos para o carro, foram para o parque
onde o coreto, parecia esperar por eles.
Já
preparados, os instrumentos começaram a tocar.
Aos
poucos, as pessoas que passeavam no parque começaram a ouvir as músicas e aproximavam-se
do coreto. Surpresas por não verem nenhuns músicos a tocar, não se afastaram e viram
o espetáculo até ao fim.
Felizes,
os irmãos subiram ao coreto e bateram as palmas assim como todas as outras pessoas.
Segundos
depois, caiu do céu mais uma chuva de pirilampos e magicamente, os instrumentos
desapareceram e no ar, ficou uma melodia calma e suave.
A
partir desse dia, a melodia ficou no coreto e muitas vezes o seu som era ouvido
no parque.
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