O segredo da tia Cornélia
Um novo dia estava a começar e os irmãos Bruno e André de 8 e 10 anos levantaram-se e foram até à cozinha. Lá, viram a mãe Solange que, cantava enquanto lavava a loiça.
- Bom dia, mãe.
- Bom dia.
- Podemos tomar o pequeno-almoço?
- Não só podem, como devem.
Entre risadas, os irmãos tomaram o pequeno-almoço e enquanto arrumavam a mesa, um cheiro a chocolate espalhou-se pela cozinha. Curiosos, aproximaram-se do forno e viram lá dentro um bolo.
- Estás a fazer um bolo?
- Que bom! É de quê!?
- Sim. Estou a fazer um bolo de chocolate.
- Adoro bolo de chocolate.
- Eu também. E quando leva o chocolate derretido por cima, fica melhor que bom.
- Pois. Mas, este bolo é para a tia Cornélia que, tem estado na cama com dores nos dedos dos pés.
- Dores nos dedos dos pés!?
- Sim. No inicio da semana ela teve um problema qualquer.
Nesse momento, o relógio do forno apitou e Solange aproximou-se.
- O bolo já está pronto. Agora, vou esperar que ele arrefeça e depois, tenho que o ir entregar.
- Se quiseres, eu e o Bruno vamos levá-lo.
- Isso era o ideal. Tenho tanta roupa para arrumar que, nem sei como.
- Não te preocupes que, nós vamos lá.
Depois de fechar o bolo numa caixa, Solange entregou-o aos filhos.
- Aqui está. Vão então até lá e entreguem-lho.
Já na rua, os irmãos começaram a andar e ao chegarem à casa da tia Cornélia, bateram à porta. Depois de esperarem um bocado, a porta abriu mas, só viram um gato preto.
Sem saberem o que fazer, os irmãos olharam um para o outro.
- O que fazemos?
- Vamos chamá-la. Tia Cornélia! Tia Cornélia!
Sem resposta nenhuma, Bruno e André olharam para várias partes da casa e, viram um fumo esquisito a sair debaixo de uma porta. Um pouco assustados, aproximaram-se e começaram a sentir um cheiro muito, muito desagradável.
- Pfffff! Que cheirete!
- É mesmo!
Nesse momento, o gato preto apareceu novamente e olhou-os muito quieto. Eles, sem saberem o que dizer ou fazer, ficaram quietos e em silêncio.
Segundos depois, viram a porta abrir um bocadinho e o gato a entrar novamente.
- Isto está cada vez mais esquisito.
- Pois está.
Enquanto pensavam o que iriam fazer, pousaram o bolo numa mesa e, instantaneamente ouviram:
“Aiiiiiiiiiiiii!!!”
Assustados, correram para a porta mas, quando a tentaram abrir, não conseguiram. Tentaram várias vezes mas, ela parecia colada pois, não se mexia nem um milímetro.
Segundos depois, olharam para a porta em que o gato tinha entrado e viram-na um bocadinho aberta.
- Vamos lá espreitar.
- Ok.
Em silêncio aproximaram-se e, no momento em que se preparavam para espreitar, a porta abriu completamente e então, viram a tia Cornélia com uma grande saia preta e um chapéu muito esquisito.
- Desculpem a demora mas, estava a arrumar umas coisas.
- Não à problema.
- A nossa mãe mandou-nos vir entregar este bolo.
- Muito obrigado. Digam à vossa mãe que já estou melhor e que, daqui a uns dias já saiu de casa.
Nesse momento, ouviram um barulho parecido com o de um trovão. Assustados, os irmãos abraçaram-se e olharam para a tia.
- Não se assustem! O barulho foi só o do meu caldeirão a começar a aquecer.
- Caldeirão!?
- Sim. Nunca viram nenhum?
- Não.
- Então, venham comigo que, vou vos mostrar o meu. Ele já está um bocado velho mas, ainda serve.
Cornélia abriu uma porta e olhou para os sobrinhos.
- Venham. Vamos descer as escadas que, o caldeirão está lá em baixo.
Os irmãos desceram os primeiros degraus e, de repente ficou tudo às escuras.
- Estou a ficar com medo.
- Eu também.
-Não tenham medo.
Cornélia bateu as palmas e instantaneamente as escadas iluminaram-se.
Admirados, André e Bruno olharam um para o outro. Ao chegarem ao último degrau, viram muitas prateleiras com vários frascos que mostravam uns líquidos muito coloridos.
- O que têm os frascos?
- Os frascos têm várias coisas. Poções, ensaios e ingredientes.
- Para quê!?
- Para as minhas magias.
Nesse instante, o caldeirão voltou a fazer barulho mas, desta vez o som parecia o de uma corneta.
- Ouviram!?
- Sim!
- Vou tirar um pouco da poção e ver se já está pronta.
Cornélia aproximou-se do caldeirão e, com uma grande colher de madeira tirou um pouco. Então, cheirou-a e fez uma careta.
- Está horrivelmente mal-cheirosa.
- Para que é a poção?
- É para acabar com os carrapatos.
- Acabar com os carrapatos!?
- Sim. Desde que fui ao bosque apanhar pinhões, tenho andado com os pés miseráveis.
- Mas, tia!? Como é que essa poção acaba com os carrapatos?
- Vou-vos contar um segredo. Eu sei fazer magias mas, não sou feiticeira.
- Magias!? Como!?
- À muitos anos atrás, conheci uma velha feiticeira e ela, ensinou-me.
- Deve ser muito fixe fazer magias.
- A magia é uma arte que deve ser usada com muito cuidado. As pessoas podem fazer o bem mas, também podem ser maldosas.
- Mas, a magia não serve só para transformar coisas?
- Não. A magia, quando é mal feita ou feita por alguém que quer fazer o mal, pode ser muito, mas muito perigosa.
- Então, já não quero aprender magias.
- Nem eu.
- Mas, acho que vocês trouxeram alguma coisa mágica.
- Não! Nós só trouxemos um bolo de chocolate.
- Então!? O bolo é quase uma magia culinária. Pensem lá, ovos, farinha, açúcar e, pouco depois têm um lindo e saboroso bolo.
Os irmãos riram.
- Pois é! E também não podemos esquecer as mãos da vossa mãe que, são muito hábeis.
Então, Cornélia cortou o bolo e deu uma fatia a Bruno e outra a André.
Pouco depois, os irmãos regressaram a casa felizes e divertidos.
Adorei. E ao final a sensação de também receber uma fatia do bolo.
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