O Pequeno André
Numa manhã, André de 9
anos levantou-se e foi brincar para a sala. Enquanto se divertia, a mãe Dolores
aproximou-se a sorrir.
- Filho. Fui á nova
escola fazer a matricula – disse Dolores.
- Como é a escola? –
perguntou André.
- É grande. Tem muitas salas,
um campo para correr e saltar e muitas outras coisas – respondeu Dolores.
Nesse momento, o pai
Cristóvão aproximou-se.
- Pai! A mãe foi á nova
escola matricular-me – disse André.
- Pois. Agora que estás
quase um homenzinho, tens que ir para outra escola – disse Cristóvão.
Feliz, André ocupou o
resto do dia com brincadeiras e diversões.
Os dias foram passando
e, o primeiro dia de aulas chegou.
Ao atravessar o portão
principal, André sentiu-se estranho e com um bocado de medo. Apertando a mão da
mãe, viu que a escola era muito mas, muito maior do que a primária o que, era
um pouco assustador.
Durante a aula de
apresentação, André ficou a conhecer os colegas e a escola.
Nos dias que se
seguiram, tudo parecia fácil e maravilhoso mas, André estava sempre sozinho.
Mais alguns dias se
passaram e tudo continuava igual.
Numa tarde durante uma
aula, todos os alunos saíram para o recreio com o objetivo de apanharem flores
e assim, conhecerem-nas melhor.
Terminada a tarefa,
regressaram á sala de aula e lá, começaram a identificá-las e a distribui-las
por uma cartolina. Enquanto trabalhavam, André tentava dar o seu melhor.
No dia seguinte quando
chegou à escola, André viu que outros alunos o olhavam e cochichavam com
sorrisos maldosos.
Seguindo para as aulas,
André tentou esquecer tudo mas, o acontecido não lhe saía da cabeça.
Ao regressar a casa,
André estava muito calado e pensativo o que fez com que Dolores desconfiasse
que algo tinha acontecido.
Na manhã seguinte na
hora do intervalo, enquanto os colegas jogavam ao berlinde, André olhava-os
calado. Nesse momento, dois rapazes começaram à bulha.
Assustado, André
afastou-se e foi sentar-se num banco do recreio.
Os dias foram passando e
tudo continuava igual para André que, se sentia sozinho.
Numa manhã, enquanto esperava
pela professora, André ouviu alguns colegas falarem.
- Olha prás calças dele
– disse um, apontando para André.
- E os sapatos!? Parecem daqueles que o meu
avô calça – disse outro.
Quando a professora
chegou, André entrou na sala, triste e calado. Atento, à aula, tentava aprender
o máximo mas, em certos momentos, a conversa dos colegas era lembrada.
Mais alguns dias
passaram e numa manhã, a diretora da turma interrompeu a aula, acompanhada por
um menino.
- Meus alunos. Hoje,
vamos conhecer o Diogo, o vosso novo colega – disse a diretora.
Nesse momento, todos os
alunos olharam para o menino.
- O Diogo é da vossa
idade e espera aprender muito – disse a diretora.
Continuando calado,
Diogo sentou-se sozinho numa mesa no fundo da sala.
Chegado o intervalo, os
alunos saíram da sala e, tanto André como Diogo foram para locais afastados dos
colegas e terminado o dia, regressaram às suas casas.
Dias depois durante uma
aula, todos os alunos foram para o jardim recolher plantas diferentes e
variadas.
Escolhendo as mais
bonitas, não só André mas também Diogo continuavam sozinhos. Perto do final da
atividade, ao passar perto de outros colegas, André deixou cair o material que
tinha recolhido. Tentando apanhá-lo rapidamente, André viu um colega calcar as
suas plantas e só conseguiu apanhar uma em boas condições.
Já na sala, enquanto os
colegas mostravam as plantas que tinham recolhido, André sentia vergonha por só
ter uma.
Nesse momento, Diogo
aproximou-se.
- Tenho muitas plantas e
podes ficar com estas – disse Diogo, entregando-lhe algumas flores.
- Obrigado – agradeceu
André com vergonha.
Depois da tarefa
terminada, já no intervalo, André aproximou-se de Diogo.
- Se não fosses tu,
nunca tinha conseguido fazer o trabalho – disse André.
Olhando para o amigo,
Diogo sorriu.
- Onde moras? –
perguntou Diogo.
- Moro numa aldeia aqui
perto – respondeu André.
- Eu moro longe. Todos
os dias, demoro mais de uma hora no caminho – disse Diogo.
- Porque vieste para
esta escola? – perguntou André.
- Perto de minha casa
não há escolas – respondeu Diogo.
Numa tarde, depois de
acabarem um trabalho de grupo, todos os alunos se prepararam para regressar às
suas casas. Ao pé do portão da escola, todos entravam nos carros dos pais mas,
Diogo não tinha ninguém á sua espera.
Pouco depois, o pai
Cristóvão chegou com o seu carro e, no momento em que André se preparava para entrar, olhou
Diogo.
- Quem é aquele menino?
– perguntou ele.
- É o meu colega Diogo –
respondeu André.
- Então e não vai para
casa? – perguntou Cristóvão.
- Ele diz que mora muito
longe e por isso, está á espera que o venham buscar – respondeu André.
- Já é quase noite.
Chama-o que eu levo-o a casa – disse Cristóvão.
De regresso a perto do
amigo, André viu-o muito sério a olhar para o relógio.
- Anda comigo. O meu
pai, leva-te a casa – disse André.
Aproximando-se do carro,
Diogo não sabia se devia aceitar ou não o transporte. Percebendo isso,
Cristóvão saiu do carro.
- Não tenhas medo. Entra
que eu levo-te – disse Cristóvão.
Apesar do medo, Diogo
entrou no carro.
- Onde moras? –
perguntou Cristóvão.
- Eu moro na Chicholina
– respondeu Diogo.
Durante o trajeto, André
olhava atento para as casas e a chegar à Chicholina, Diogo indicou a casa onde
morava que, estava em muito más condições.
No caminho de regresso a
casa, Cristóvão viu que André estava muito pensativo.
- Que se passa? –
perguntou ele.
- Nada – respondeu
André.
- Eu sei que passa.
Conta-me o que é – pediu Cristóvão.
- Estava a pensar no
Diogo. A casa dele está tão estragada que, parece que vai cair a qualquer momento
– disse André.
- Pois é, filho. Nem
todas as pessoas vivem em casas boas e bonitas. Muitas, apenas têm uma casita
simples – disse Cristóvão.
- Óóoooooo!!! – exclamou
André.
Algumas semanas depois,
tudo continuava igual na escola.
Uma manhã durante o recreio,
Diogo caiu e magoou-se num joelho.
Sem conseguirem
contactar os pais de Diogo, André que assistia a tudo, aproximou-se.
- Liguem para o meu pai.
Ele pode vir buscá-lo e levá-lo ao médico – disse André.
Depois de pensar um
pouco, o professor Ernesto viu que Diogo precisava mesmo de ir ao hospital para
curativos e, ele mesmo levou-o até lá.
Na semana seguinte,
Diogo continuou a faltar à escola e numa tarde, André pediu ao pai que o
levasse até casa do colega. Lá, André foi recebido pela mãe de Diogo que o
levou até ao quarto do filho.
- Olá Diogo – disse
André.
- Olá – disse Diogo.
- Então!? Porque não
vais à escola? – perguntou André.
- Estou com ligaduras no
joelho e não posso andar – respondeu Diogo.
- Mas, é grave? –
perguntou André.
- Não. Mas tenho que
estar quieto e evitar andar – respondeu Diogo.
- Vais ver que ficas bom
depressa – disse André, sorrindo.
- Só é pena que vou
ficar com a matéria atrasada – disse Diogo.
- Eu peço aos meus pais
e venho cá trazer-ta – disse André.
- Fazes isso? – perguntou
Diogo.
- Claro que sim. E
ajudo-te a aprendê-la – respondeu André.
- Obrigado – agradeceu
Diogo.
Nos dias que se
seguiram, André ia diariamente visitar o amigo e como tinha prometido,
explicava-lhe o que tinha aprendido e assim, estudavam juntos.
Duas semanas depois,
André continuava a ajudar Diogo e, a amizade entre ambos era cada vez mais
forte.
Numa manhã de fim de
semana, ao chegar a casa de Diogo, André bateu à porta. Ao entrar, viu Diogo
sentado no sofá com um grande sorriso de felicidade.
- Estás melhor? –
perguntou André.
- Sim. Já tiraram as
ligaduras e só lá tenho uma espécie de fita – respondeu Diogo.
- Que bom – disse André.
- Prá semana, se tudo
correr bem já volto á escola – disse Diogo.
- Ainda bem – disse
André.
- Pois. Mas, vou ter que
usar muletas durante algumas semanas – disse Diogo.
- Eu ajudo-te – disse
André.
Dias depois, ao chegar à
escola, André viu Diogo e aproximou-se dele.
- Ainda bem que já
voltaste. Estou farto de estar sempre sozinho – disse André.
- E eu estava farto de
estar sempre parado – disse Diogo.
Com o passar dos dias,
André e Diogo estavam cada vez mais companheiros e a amizade entre ambos,
crescia de dia para dia.
A partir daí, a solidão
deixou de existir e André e Diogo, agora amigos inseparáveis, partilhavam os
momentos da vida.
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