sábado, 23 de agosto de 2025

Os amigos Xexé e Chiclete

        O sol já brilhava com muita força e quando o relógio marcava as 8:50, Diogo de 9 anos acordou.
- Mãe! Pai! Venham cá!
No quarto ao lado, Custódia e Adriano acordaram e foram até ao quarto do filho.
- O que se passa!?
- Dói-me muito a barriga!
- Não chores. Veste-te para irmos ao médico.
Diogo vestiu-se com alguma dificuldade e foi para o carro. Durante o caminho, Diogo continuava a queixar-se e a chorar.
Ao chegarem à pediatria, Diogo e os pais foram encaminhados para um gabinete onde o doutor Filipe os esperava.
- Bom dia.
- Bom dia.
- Dói-me muito a barriga.
- Indica com a tua mão onde dói.
Diogo apontou para a região inferior da barriga e o médico observou-o.
Depois de o auscultar e de tocar na região indicada por Diogo, o médico pegou no telefone.
- Tenho aqui um caso de apendicite e preciso de um bloco disponível.
Após desligar o telefone, o dr. Filipe olhou para Diogo.
- Já sei porque é que tens tantas dores.
- Porquê!?
- Estás com apendicite.
- E agora!?
- Agora a única solução é tirar o apêndice.
Nesse momento, Diogo olhou para a mãe.
- E quando vai ser a operação?
- Estou à espera que me indiquem um bloco e uma equipa que esteja disponível para avançar já.
Minutos depois, o telefone do gabinete tocou.
- Sim. Estou a perceber. Preciso então de um quarto e de um comprimido para as dores.
Terminado o telefonema, o médico começou a escrever e pouco depois, uma enfermeira bateu à porta do gabinete.
- Sim!?
- Aqui está o comprimido que pediu.
- Dê-o a este rapaz. Já prepararam o quarto?
- Sim. É o 123.
- Então, no fim de tomar o comprimido, acompanho-o até lá.
Diogo olhou para o comprimido azul e tomou-o.
- Uiii! Sabe mal!
- Mas faz bem. De certeza que ficas melhor.
Sorrindo, a enfermeira levou Diogo até ao quarto 123.
Ao entrarem, Diogo viu três camas e uma, estava ocupada por um rapaz de cabelos ruivos encaracolados.
- Este vai ser o teu quarto e ficas na cama 10, ao lado deste rapaz.
- Está bem.
- Tens aqui um pijama para vestir e depois, podes-te deitar.
- A minha mãe?
- A tua mãe já vem. Só ficou no corredor a fazer um telefonema.
- Está bem.
Depois da enfermeira sair, Diogo vestiu o pijama e deitou-se.
Segundos depois, a mãe aproximou-se.
- Como estão as dores?
- Já não dói tanto.
- Ainda bem.
- Pois é.
Enquanto isso, Custódia virou-se para a cama do lado e sorriu.
- Olá.
- Olá.
- Como te chamas?
- Gonçalo.
- O que tens?
- O médico disse que era apendicite.
- O mesmo que o meu filho, o Diogo.
Gonçalo olhou para Diogo.
- Olá.
- Olá.
- Sou o Gonçalo.
- Eu sou o Diogo.
- Quantos anos tens?
- Tenho 9. E tu?
- Eu tenho 10.
Custódia aproximou-se da cama do filho.
- Como estás?
- Estou melhor. Já não dói tanto.
- Ainda bem.
- Pois é.
Nesse momento, ouviu-se um apito parecido com o dos comboios.
“U-uuu”
- O que foi isto!?
Instantaneamente, Diogo e Gonçalo olharam para a entrada do quarto e viram lá duas pessoas. Uma, tinha vestida uma bata florida, calçava chinelas com pompons coloridos e no cabelo, tinha vários ganchos em forma de borboletas. Enquanto isso, a outra vestia um macacão azul claro, decorado com peixes coloridos e na cabeça, tinha um chapéu com várias bandeiras também coloridas.
“- Podemos entrar?”
- Sim.
“- Viemos conhecer o novo doente do quarto 123.”
- Sou eu.
“- É o eu!??? Mas que nome mais esquisito!”
“- Os nossos também são esquisitos. Eu sou a Chiclete.”
“- E eu sou o Xexé.”
- O meu nome não é eu! É Diogo.
“- Ahhhhh!!! Assim está bem!
- Quem são vocês?
  “- Somos os enfermeiros mais divertidos do hospital.”
“- Pois é. E temos o poder de transformar qualquer dor, seja de barriga ou de unha encravada, numa grande risada.”
Nesse momento, o médico entrou no quarto e trazia um xarope.
- Finalmente chegou o xarope para o Gonçalo. Tens que o tomar 2 vezes por dia mas, os enfermeiros dão-to.
- Mais xaropes!? Eles sabem tão mal.
- Eu sei mas, tens que tomar.
Instantaneamente, Xexé aproximou-se de Gonçalo, pegou no frasco do xarope e elevou-o acima da sua cabeça.
“-Xaropi, xaropá, vai prá barriga do Gonçalo já!”
De seguida, Xexé deu o copo ao Gonçalo que o bebeu a fazer caretas.
- Yuck!!
“- Só custa esta vez. Vais ver que já passa.”
Enquanto isso, Custódia aproximou-se da filho.
- Tenho que ir embora. Sabes que não posso deixar o teu pai muito tempo sozinho senão, vai logo para casa do vizinho.
- Eu sei.
- E para mais, ficas bem acompanhado.
- Está bem.
- Então, adeus.
- Adeus mãe.
Depois da mãe se ir embora, Diogo olhou para Gonçalo e percebeu que ele estava a chorar.
- Porque estás a chorar?
- Por nada.
- É por alguma coisa. Diz-me.
- Não te importes.
- Tu é que sabes.
No dia seguinte logo de manhãzinha, alguns enfermeiros levaram Gonçalo do quarto. Enquanto isso, outra enfermeira media a temperatura ao Diogo. Pouco depois, o termómetro apitou.
- A temperatura está boa e, daqui a pouco vai ficar tudo ainda melhor.
- Porquê?
- Neste momento, o Gonçalo está a ser operado e depois és tu.
Quando Diogo ia para fazer uma pergunta à enfermeira, ouviu novamente o barulho do apito do comboio e olhou instantaneamente para a porta. Lá, Chiclete e Xexé olharam para a enfermeira e sorriram.
“-Bom dia.”
- Bom dia. Entrem e venham ajudar-me.
“- Se for para dar injeções vai o Xexé. Eu só sei dar palmadas meigas.”
- Não é preciso nada disso. Mas se quiserem, podem esperar juntos.
“- Eu não gosto de esperar.”
“- Nem eu.”
“- Já sei o que podemos fazer.
“- O quê!?”
“- Podemos fazer palhaçadas.”
- Boa ideia. Assim, tenho a certeza que o tempo vai passar a voar.
“- Eu não quero voar! Posso bater contra alguma nuvem e depois é o cabo dos trabalhos.”
“- Nem eu. Dorminhoco como sou, ainda adormecia no ar.”
“- Sim. E depois, tenho a certeza que acertavas em todos os postes.”
“- Em todos e mais alguns.”
“- Já para não falar nos coitados dos pássaros.”
“- Pois é.”
“- É melhor não pensarmos nisso.”
“ Ah! Ah! Ah!
Pouco depois, os enfermeiros regressaram com Gonçalo e levaram Diogo para a operação.
Algum tempo depois, Diogo regressou ao quarto e já acordado, viu coloridos balões espalhados pelo quarto. Viu também a mãe e Chiclete que, o olhavam silenciosos.
“- Olá Diogo.”
- Olá.
- Como estás?
- Estou bem.
“- Foi difícil?”
- Não sei. Estava a dormir.
“- Pois é. Os médicos apanham-nos sempre a dormir e então é que fazem estas coisas. Eu e o Xexé estivemos a trabalhar. Enchemos tantos balões que, já não consigo soprar.”
Segundos depois, chegou Xexé que vinha a espreguiçar-se.
“- Que rica sesta! Estes cinco minutos a dormir, deram-me força.”
- Força para quê!?
“- Força para alegrar a rapaziada.”
Diogo sorriu e olhou para Gonçalo que, estava a acordar.
- Olá Gonçalo. Como estás?
- Estou mole.
- É o efeito da anestesia.
- Pois é.
Nesse momento, Gonçalo viu os balões.
- O que é isto?
- O Xexé e a Chiclete enfeitaram o quarto com balões.
- Que giro.
- Pois está.
À tarde, Gonçalo recebeu a visita dos pais e ficou muito feliz, o que também alegrou Diogo.
Dois dias depois, quando se preparavam para regressar a casa, Xexé e Chiclete despediram-se de Diogo e de Gonçalo que, ficaram muito amigos. 







quinta-feira, 26 de junho de 2025

O quarto trancado

O sol espreitava por entre as nuvens e aos poucos, os irmãos Diogo e Simão de 10 e 11 anos acordavam com muita preguiça. Minutos depois, levantaram-se e o gato deu um mio. 
 - Bom dia Ginjas. 
Depois de se prepararem, foram até à cozinha onde a mãe Matilde preparava o pequeno-almoço. 
 - Bom dia rapaziada. 
 - Bom dia, mãe. 
 - Tomem o pequeno almoço que, eu tenho que ir a casa da tia Julieta. 
 - Para quê!? 
 - Vocês sabem que a tia às vezes tem ideias malucas e hoje, às 6:00 da manhã telefonou a dizer que tinha que limpar e arrumar os armários da sala.
 - Mas, porquê!? 
 - O porquê não sei. Mas, sei que ela, quando mete uma ideia na cabeça, não à quem lha tire. 
 - Podemos ir e ficar no pátio a brincar com as engenhocas do tio Bartolomeu? 
 - Claro que podem. Mas, têm que se despachar. 
 - Eu já acabei. 
 - Eu também. 
 - Então, vamos. 
Alguns minutos depois, ao chegarem perto da casa, viram o tio Bartolomeu a mexer num velho guarda-chuva enferrujado. 
 - Olá tio. 
 - Olá sobrinhos. 
 - O que está a fazer? 
 - Estou a tentar arranjar uma armadilha para afastar uns cães que à noite, vêm cá e espalham as minhas ferramentas. 
 - Não era mais fácil se o tio as arrumasse dentro da oficina. 
 - Até podia ser mas, eu já estou tão habituado a não ter nada arrumado que, depois ainda ia ser mais difícil lembrar-me dos sítios onde estavam. 
 - Está bem. O tio é que sabe. 
 Entrando em casa, Diogo e Simão aproximaram-se da tia. 
 -Olá sobrinhos. 
 - Olá tia. 
 -Tenho na cozinha um bolo acabado de sair do forno e que vos está a chamar. Vão até lá e provem-no.
 - Obrigado. 
Enquanto iam para a cozinha, ouviram um estrondo parecido com o de vidros a partir. Olharam para todos os lados mas, só viram uma grande cortina encostada à parede. Curiosos, arredaram-na e viram uma porta de madeira preta. Tentaram abri-la mas, a maçaneta não rodou nem um milímetro. Pouco depois, a mãe e a tia aproximaram-se. 
 - O que se passa? 
 - Ouvimos um barulho parecido com o de vidros a partir mas, só aqui está esta porta trancada. 
 - Não deve ter sido nada de importante. 
 - Tia, mas o barulho veio mesmo daqui. 
 - Então, não vamos mesmo saber o que foi. 
 - Porquê!? 
 - Desde que me lembro de ser gente, esta porta nunca foi aberta. Quando era mais nova, procurei a chave mas, nunca a encontrei. 
 - Oh! 
 - Pois é. 
 - Podemos procurar a chave? 
 - Poder podem. Mas, não se entusiasmem muito pois, cá para mim, a chave não existe. 
 - Que estranho. 
 - É mesmo.
 Depois de a tia se afastar, os irmãos começaram a procurá-la. Viram nos armários, nas louças, nas estantes de livros e até abanaram as almofadas, não estivesse a chave lá dentro mas, nada. Já um pouco desanimados, os irmãos sentaram-se. 
 - Será que a porta não tem mesmo chave? 
 - Para que queriam uma porta se não a abriam!? 
 -Vamos ao pé dela. 
 - Sim. Pode ser que as chaves apareçam por magia. 
 - Já agora, caíam do teto. 
 - Não gozes. 
 - Era uma ideia. 
 - Ok. Vamos lá. 
 Ao chegarem à porta, olharam para todos os cantos, recantos mas, nada. Com o desânimo a aumentar, Simão encostou-se à parede e sem querer, tocou num quadros de madeira que, caiu. No momento em que se baixavam para o apanhar, viram que preso à moldura, estava uma chave de ferro. Sorridente, Diogo apanhou-a e experimentou abrir a porta com ela. Depois de rodar a chave, a fechadura fez um “click” e abriu-se. Os irmãos entraram no espaço e, com a ajuda da luz dos telemóveis, viram vários vestidos muito bonitos. Saíram do espaço e foram ter com a tia Julieta. -Tia! Conseguimos abrir a porta! - Abriram a porta!? 
 - Sim. 
 - Vamos lá. 
 - É melhor levarmos uma lanterna. 
 - Tenho ali uma. Vou buscá-la.
 Entraram e, com a luz da lanterna, viram os vestidos maravilhosos e, vidros no chão. 
 - Olhem os vidros que ouvimos partir. Parece que foi um candeeiro. 
 - Sim. E olhem também para estes vestidos que parecem de princesas. 
 - Estou agora a lembrar-me de uma conversa que ouvi em pequena. 
 - Que conversa!? 
 - Um dia, os meus pais contaram-me uma história onde havia uma princesa que não era vaidosa e que, deu os seus melhores vestidos à sua melhor amiga, como agradecimento pela amizade. 
 - Quem era a melhor amiga? 
 - Pelo que estou a perceber agora, a melhor amiga era a minha avó, vossa bisavó. 
 - Como é que ela se chamava? 
 - Ela era a Bernardina e, sempre me disse que ter amigos é uma das maiores riquezas do mundo. 
 - E é mesmo. 
 - Não ter amigos é muito triste. 
 - Por essa razão, não os abandonem nem afastem pois, os amigos são aqueles que confiam em nós e, em quem podemos confiar os nossos maiores segredos.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

O menino do quarto 17

O sol estava a nascer e aos poucos, furava as nuvens.
Numa casa da rua Rabisco, Simão de 11 anos acordou e quando se começou a vestir, sentiu dores muito fortes perto da barriga.
- Mãe! Estou com dor de barriga.
- Ontem, de certeza que comeste o que não devias e por isso é que estás assim. 
- Não comi nada.
- Então, isso passa.
Simão abraçou a barriga e começou a chorar. Segundos depois, a mãe Dulce encostou a mão à testa do filho. 
- Tens a testa muito quente. Vamos ver se é febre.
Dulce foi buscar um termómetro, colocou-o na axila do filho e esperaram 8 minutos. Passado esse tempo, a mãe tirou-o e viu que marcava 38ºC graus.
- Estás mesmo com febre. Temos que ir às urgências.
- Mas, mãe!? A barriga dói-me muito.
- Vamos lá e o médico vê o que se passa.
- Está bem.
Durante o caminho, Simão continuou a queixar-se.
- Ai, mãe! Dói tanto!
- Já falta pouco.
Pouco depois, chegaram às urgências e Simão entrou logo para o gabinete médico.  Depois de dizer ao médico o que sentia e de este o ter observado, Dulce perguntou:
- Qual é o problema?
- Pelo que consigo perceber, o seu filho está com uma apendicite.
- E agora?
- O mais indicado é retirar o apêndice.
- Quando?
- O mais rápido possível. Só preciso ver se o bloco está a ser utilizado e se não estiver, podemos avançar já com a remoção.
Simão olhou muito sério para o médico que, se levantou e abriu a porta do consultório, saindo.
- Mãe. Vai doer muito?
- Não. Não vais sentir nada e assim, deixas de ter essas dores.
Pouco depois, o médico regressou.
- O bloco estará disponível amanhã de manhã e já marquei a intervenção. O enfermeiro vai acompanhar ao quarto e ajudar no que for necessário.
- Obrigado sr. Doutor.
Segundos depois um enfermeiro entrou no consultório.
- Bom dia. Quem é o paciente que vou acompanhar ao quarto?
- É este rapaz, o Simão.
- Muito bem. Vamos lá então.
Seguindo o enfermeiro, Simão e a mãe andaram alguns metros e chegaram ao quarto número 16.
- Aqui está o quarto. Podes vestir um pijama e deitar-te. Eu já volto com medicação para as dores.
- Obrigado.
Depois do enfermeiro sair, Dulce ajudou o filho e quando ele já estava deitado, deu-lhe um beijo na testa.
Pouco depois, o enfermeiro regressou e aproximou-se da cama de Simão.
- Toma este comprimido e vais ver que ficas melhor.
Simão tomou o comprimido e ficou á espera que fizesse efeito.
- Filho. Eu vou num instante a casa buscar umas roupas. Queres que te traga algum livro?
- Sim. Traz o livro das histórias e o meu peluche.
- Está bem. Vou depressa.
Quando a mãe saiu do quarto, Simão olhou para a cama ao lado da sua e viu lá um rapaz com árias ligaduras na cabeça, a dormir.
Pouco depois, ouviu alguém gritar:
“Não quero! Não tenho fome e isso parece outra coisa!”
Em silêncio, Simão sorriu.
Minutos depois, Dulce regressou e entregou o livro e o peluche ao filho.
- Aqui está o teu peluche e o livro.
- Está bem.
Segundos depois, uma enfermeira aproximou-se.
- Tenho que levar este rapaz para fazer análises.
- Está bem.
Ao sair do quarto, ouviu novamente:
“Já disse que não quero! Não como nada disso!”
Quando passou em frente à porta do quarto ao lado, Simão olhou lá para dentro e viu vários enfermeiros ao pé de uma das camas mas, continuou a andar, seguindo a enfermeira.
Depois de fazer as análises, Simão voltou para o quarto e já deitado, perguntou á enfermeira:
- Porque estão tantos enfermeiros no quarto do lado?
- O menino que lá está, o Daniel, não quer comer nada e os meus colegas estão a tentar que coma.
- Mas, não come porquê!?
- Diz que não tem fome e que não quer nada.
- Se calhar não tem mesmo fome.
- Ele foi internado ontem de manhã e ainda não comeu nada.
- Se calhar, quer é guloseimas. 
- Acertaste. Ele só quer comer doces e coisas que fazem mal.
- Eu também gosto de doces.
- O problema é que ele não faz uma alimentação correta e por isso, está com falta de nutrientes essenciais para o funcionamento do corpo humano. Tem falta das vitaminas A, C, D, E e ferro por isso, está sempre cansado, com dores de cabeça, problemas de visão e outras coisas.
- Eu só como doces às vezes.
- Fazes muito bem. Não devemos abusar dos doces nem das comidas pré- fabricadas.
- Às vezes como um hambúrguer mas, não é sempre.
- Uma vez de vez em quando não faz mal.
- Pois não.
No dia seguinte logo de manhãzinha, Simão foi operado e já no quarto, ao acordar viu o pai e a mãe.
- Bom dia.
- Bom dia, filho. Como estás?
- Estou bem.
- Tens dores?
- Não. Só uma impressão ao pé da barriga.
- É normal. Mas, tenho a certeza que vai passar depressa.
- Pois vai.
Pouco depois, o enfermeiro entrou no quarto e aproximou-se de Simão, sorrindo.
- Pelo que estou a ver, o nosso doente já acordou.
- Sim.
- E como te sentes?
- Agora já não dói.
- Ainda bem. Senão, tínhamos que voltar a operar.
- O quê!?
- Estou a brincar.
- Ainda bem.
- Quando posso ir para casa?
- Se não houver complicações, podes ir daqui a uns dias.
- E quando é que me posso levantar?
- Daqui a umas horas.
- Ainda bem.
Nesse momento, ouviram:
“- Não quero e não me podem obrigar!”
- O Daniel continua a não querer comer?
- Pois. Os meus colegas tentam de todas as maneiras que ele coma mas não conseguem.
- Quando me levantar, posso ir ao pé dele?
- Podes. Quem sabe se não lhe fará bem conversar com alguém da mesma idade.
- Pois.
Algum tempo depois, os pais foram embora e Simão viu que já eram 11 horas e 30 minutos. Nesse momento, chamou uma enfermeira que veio rapidamente.
- Precisas de alguma coisa?
- Já me posso levantar?
Depois de olhar para o relógio, a enfermeira sorriu.
- Podes. Mas, nada de correrias.
- Está bem.
Com calma, Simão saiu do quarto aproximando-se da porta do quarto número 17 que, estava aberta. Em silêncio, olhou lá para dentro e viu um rapaz sentado na cama. Entrou devagarinho e nesse momento, o rapaz viu-o.
- Quem és tu!?
- Sou o Simão e estou no quarto aqui ao lado.
- O que queres?
- Vim te conhecer e perguntar porque não queres comer.
- Isso não te interessa!
- Pois não. Mas, gostava de saber.
- Eu não gosto desta comida.
- Gostas de quê?
- Batatas fritas, cachorros quentes, hambúrgueres e doces.
- Só comes disso?
- Sim. E aqui não dão nada disso.
- Aqui no hospital dão comida saudável que devemos comer.
- Mas eu não gosto.
Nesse momento, outro enfermeiro entrou no quarto e aproximou-se da cama de Daniel. Trazia numa mão uma seringa e na outra um frasco.
- Para que é isso!?
- Estás com falta de nutrientes e, tenho que te dar uma dose deles.
- Eu não quero.
- Tem que ser.
- Já disse que não quero.
Simão aproximou-se um pouco mais.
- Se comeres, não precisas das injeções.
- Não como!
- Então não há escolha.
O enfermeiro olhou para Simão e depois para Daniel que, estava quase a chorar.
- O que preferes que eu faça? Trago-te a refeição e comes ou, tenho que te dar a injeção mesmo á força?
- Eu como. Mas, pouco.
- Está bem. Vou já buscar.
Enquanto isso, Simão sorriu para Daniel.
Pouco depois, o enfermeiro regressou com a refeição de Daniel.
- Aqui está.
- O Simão pode comer ao pé de mim?
- Se ele quiser.
- Eu não me importo.
Sorrindo, o enfermeiro foi buscar o tabuleiro para Simão e, deixou-o ao lado do de Daniel.
- Vamos então comer.
Daniel olhou para a refeição que era esparguete com carne cozida e fez logo uma expressão de desagrado.
- Nem sei o que isto parece.
- Eu sei.
- O que é que parece?
- Parece um grande prato de esparguete à bolonhesa.
- Não.
- Não é. Mas, se pensares que é, vais ver que parece.
Rindo, Daniel provou o esparguete e depois de o engolir, olhou para Simão.
- Tens razão.
- Pois tenho.
Daniel comeu e no fim, olhou para Simão que também estava a acabar de comer.
- Esse truque resulta mesmo.
- Pois é. É o que faço quando o comer da escola não é nada do que gosto.
No dia seguinte, Simão teve alta médica e regressou a casa, continuando a manter contacto com Daniel que, lhe ficou muito agradecido pela ajuda.





 


sábado, 22 de março de 2025

Amigo Fiel

        A chuva caía e aos poucos, o dia começava a nascer.
No momento em que o grande sino da igreja batia as 8:00, quase toda a aldeia Pimpum despertava. Na rua Cambalhota, Carla acordava o filho Pedro.
- Bom dia. Toca a levantar que, temos que fazer.
- Já, mãe!?
- Sim.
- Está bem.
Com muita preguiça, Pedro levantou-se e depois de se preparar, foi para a cozinha. Enquanto tomava o pequeno-almoço, viu que a chuva tinha parado e um bonito arco-íris coloria o céu.
Enquanto isso, Carla regressou à cozinha e segundos depois, ouviram um apito.
- Vamos que já está na hora.
- Onde?
- A casa do tio Casimiro.
- Oh! Fazer o quê!?
- O tio comprou um carro e precisa de arrumar a garagem. Por isso, pediu para irmos ajudar.
- Está bem.
Durante a curta viagem, Pedro pensou numa garagem cheia de lixo e muito desarrumada. Ao chegarem a casa do tio, viu vários caixotes em frente a garagem.
- Tanta caixa.
- Realmente. Parece que vão mudar de casa.
Pouco depois, a tia Dulce apareceu e trazia mais uns caixotes.
- Bom dia.
- Bom dia.
- O Casimiro só sabe dar trabalho.
- Não faz mal. Nós ajudamos.
- Só vos peço é que tenham paciência com ele. Desde o inicio da semana, anda de uma maneira que, não à quem o ature.
- Isso passa-lhe.
- Espero que passe e depressa.
Enquanto isso, Pedro sentou-se num canto e minutos depois, a tia aproximou-se.
- Precisas de alguma coisa?
- Não.
- Se quiseres, podes ir para o jardim e levar alguns dos livros que estão neste caixote.
- Obrigado.
Pedro escolheu três livros e foi sentar-se no jardim. Pouco depois, um cão aproximou-se e ficou a olhá-lo.
- Também queres ler?
O cão abanou o rabo e deitou-se na relva.
- Mas estes livros não estão escritos na tua língua. Só se quiseres que eu leia em voz alta.
Pedro começou a ler em voz alta e o cão, ouvia-o atentamente.
No dia seguinte, foi para a escola e quando regressou a casa, o cão esperava-o em frente à porta. Durante o jantar, Pedro olhou muito sério para o pai Leonel.
- Pai. Posso ficar com o cão que estava à porta quando eu cheguei da escola?
- Os cães são muito desarrumados e, não precisamos que esburaquem o jardim.
- Mas ele é bem comportado.
- Não! Sabes bem que, quando eu digo não, é mesmo não!
Triste, Pedro foi para o seu quarto e esteve lá durante o resto do dia.
Na manhã seguinte, durante um intervalo da escola, Pedro viu o cão à sua espera no exterior da escola. Sorrindo, aproximou-se das grades de segurança e dividiu com ele o lanche que tinha levado de casa.
Ao regressar a casa, aconteceu o mesmo que no dia anterior e por isso, Pedro continuava triste.
No dia seguinte, Pedro não tinha escola e ao acordar, viu que estava sol. Então, depois de tomar o pequeno-almoço foi até à garagem. Lá, o pai arrumava algumas ferramentas e assobiava.
- Olá pai.
- Olá Pedro. Precisas de alguma coisa?
- Vim só buscar uma bola.
- Está bem.
Depois de a encontrar, Pedro saiu para o jardim e lá, o cão esperava-o abanando a cauda.
- Queres brincar?
“Au, au!”
- Então, vamos lá.
No jardim, Pedro atirava a bola e o cão ia buscá-la feliz. Algum tempo depois, já cansados os amigos deitaram-se na relva. Pouco depois, apareceu uma borboleta e silenciosa, voou por cima da cabeça do cão. Este, levantou-se rapidamente e começou a ladrar e a pular.
Rindo, Pedro observava tudo.
Depois da borboleta ir embora, o cão voltou para perto de Pedro.
- Pensavas que a conseguias apanhar?
“Au, au!”
- Elas são muito leves, voam e são rápidas.
“ Au, au!”
Sentado, o cão mexeu uma das patas dianteiras e tocou em Pedro.
Durante o resto do dia, Pedro e o cão brincaram muito.
À noite, antes de dormir, quando já não se ouviam barulhos, Pedro pegou num papel e numa caneta e escreveu:
“O meu novo amigo.”
De seguida, foi até à janela e largou o papel ao vento, desejando que o pai o deixasse ficar com o cão.
No fim de semana seguinte, Pedro acordou com febre e com dores na garganta.
A mãe, foi a uma farmácia e comprou remédios para Pedro tomar.
No entanto, Pedro deixou de ir à escola e passava os dias deitado ou na sua cama, ou no sofá.
Uma semana depois, o avô Serafim foi visitá-lo e, quando se preparava para entrar, olhou para trás.
- Já vens à muito tempo a fazer-me companhia mas, agora não podes entrar.
  Nesse momento, o cão que o seguia ladrou.
“Au, au, au”
Ao ouvir o ladrar, Pedro reconheceu como sendo o do mesmo cão com o qual tinha convivido antes de adoecer.
Então, levantou-se à pressa e correu até à entrada da casa. Lá, viu o avô e confirmou que era o cão que pensava.
Instantaneamente, o cão correu para Pedro e feliz, abanou a cauda. Sem entender o que estava a acontecer, o avô sorriu.
- Estava cheio de saudades.
“Au, au, au!!!”
- Eu sei que tu também.
  “Au, au, au!!!”
Abraçados, Pedro e o cão estiveram vários minutos quietos o que, surpreendeu o avô.
- Já se conhecem?
- Sim. Antes de eu ficar doente, este cão estava sempre à minha espera quando chegava da escola.
- Então, é teu amigo.
- Pois é.
- Agora tens que cuidar dele como amigo.
- Eu gostava mas, o meu pai não me deixa ficar com ele.
- Acho que, quando ele souber o que aconteceu, vai mudar de ideias.
Nesse momento, o pai aproximou-se e abraçou o filho.
- Pedro. Esquece o que disse acerca do cão. Se ainda quiseres, podes ficar com ele.
Feliz, Pedro abraçou o pai, a mãe, o avô e por fim o cão.
- Agora só temos que lhe dar um nome.
- E eu já sei qual vai ser.
- Então!?
- Vai ser Fiel.
- Bonito nome.
- Sim. E, depois do que aconteceu, é perfeito.
- A partir de agora, o Fiel pertence à família e, vai ser sempre nosso companheiro.
  A partir desse dia, Pedro e Fiel estavam quase sempre juntos e eram muito felizes.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Diogo e o pinheirinho de natal

         A neve caía e na rua Luminosa, muitas crianças brincavam felizes. Enquanto isso, os adultos começavam a decorar as casas para o natal e, parecia que uma magia pairava no ar.
Numa casa branca com um bonito jardim, morava Diogo de 9 anos, os pais e o gato Pipoca.
Diogo adorava brincar e por isso, sempre que podia, corria para a rua para se encontrar com os amigos Hugo e André.
Naquele dia, Diogo acordou com muita preguiça e ligou a televisão para ver os seus desenhos animados preferidos. Pouco depois, ouviu:
“Levanta-te. Preciso de ajuda.”
Diogo levantou-se rapidamente e foi tomar o pequeno-almoço. De seguida, procurou os pais por toda a casa mas, não os encontrou. Olhou para Pipoca mas, ele dormia todo esticado no sofá.
Sem saber o que fazer, Diogo saiu para a rua e, enquanto atravessava o jardim, viu que a sua casa estava toda enfeitada e colorida. Enquanto observava tudo, olhou para o pinheirinho que lá estava e, viu-o sem nenhum enfeite ou luz.
Então, entrou em casa e foi à arrecadação buscar os enfeites para o pinheirinho. Escolheu bolas brilhantes, fitas coloridas, sinos e laços e correu para o jardim. Aproximou-se do pinheirinho e começou a distribuir os enfeites.
Quase no final, quando Diogo estava a prender a última fita, o pinheirinho abanou durante uns segundos e, todos os enfeites caíram.
Diogo apanhou-os e voltou a enfeitar o pinheirinho mas, ele abanou novamente e mais uma vez, a decoração caiu. Chateado, Diogo olhou para o pinheirinho que agora, estava muito quieto.
- Vou enfeitar-te mais uma vez.
Com cuidado, Diogo voltou a distribuir os enfeites e, quando só faltava uma bola, ouviu:
“Se pendurares essa bola, mando tudo para o chão.”
Assustado, Diogo olhou para todos os lados mas não viu ninguém.
- Quem está aí!?
“ Sou eu, o pinheirinho.”
- Os pinheirinhos não falam.
“Eu falo.”
- Não pode ser.
“Pode, pode. Eu falo e não quero ser enfeitado.”
- Porquê!?
“Porque quando estou enfeitado, todos olham para mim e sorriem mas, depois do natal ninguém se importa comigo nem olha para os meus ramos.”
- Mas, no natal todos os pinheirinhos dos jardins são enfeitados.
  “Eu não.”
- O que é que eu posso fazer?
“Não sei.”
Triste, Diogo regressou a casa e foi para o quarto. Lá, pensou em como podia ajudar o pinheirinho. Depois de muito pensar, encontrou uma solução.
Então, foi ao cesto de costura da mãe e, tirou de lá um grande e bonito laço vermelho.
A correr, regressou ao jardim e aproximou-se do pinheirinho, mostrou-lhe o laço.
- Gostas deste laço?
“É bonito.”
- Este laço é para ti. Vai ficar preso num dos teus ramos e, prometo-te que ninguém te vai cortar.
“Prometes mesmo?”
- Prometo.
“Ainda me queres enfeitar?”
- Sim.
“Então, enfeita. Vou ser um lindo pinheirinho de natal.”
- Vou já começar.
Diogo enfeitou então o pinheirinho que, brilhava feliz.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

A amiga Zefa

        Um novo dia estava a começar e, o sol tentava furar as nuvens que, não queriam deixá-lo brilhar.
A pequena aldeia Chêpa também começava a despertar e aos poucos, as ruas começavam a ganhar algum movimento e animação.
Na rua Pimponeta, os irmãos Diogo e Lara de 9 e 7 anos levantaram-se com muita preguiça e foram até à cozinha. Lá, a mãe Dalila preparava o pequeno-almoço e ralhava com o gato Panças.
- Não te podias lembrar de mais nada! Tinhas logo que ir mexer na caixa de costura.
- Bom dia, mãe.
- Bom dia.
- O que aconteceu!?
- Esta noite, o Panças esteve a aprender costura e, como devem imaginar, fez asneiras.
- Ele é assim.
- Pois. Mas o pior é que espalhou tudo e não encontro a maior parte das coisas.
- De certeza que queria fazer um casaco.
- Ou uns calções para usar no verão.
- O que ele queria fazer não sei. Mas, vou atrasar os trabalhos de costura e fico com o tempo apertado para acabar no tempo combinado.
- Queres ajuda?
- Não. Vou buscar o material que tenho guardado para emergências e tentar acabar os trabalhos.
- Nós vamos para o largo Pirisca, brincar.
- Primeiro tomam o pequeno almoço.
- Está bem.
Depois de tomarem o pequeno almoço, os irmãos foram para o largo. Lá, encontraram o amigo Edgar que estava a andar de bicicleta.
- Amigos! Vejam este pião!
Edgar fez o pião com a bicicleta e os amigos bateram palmas.
- Muito bem.
- Foi mesmo bom.
- Obrigado. Mas, se quero que seja mesmo bom, tenho que continuar a praticar.
- Isso é verdade.
- Lara. Vamos buscar as nossas bicicletas e assim podemos andar todos. 
- Vamos lá.
A correr, os irmãos foram até casa, pegaram nas bicicletas e regressaram ao largo. Lá, Edgar esperava sentado na beira do repuxo.
- Fiquei aqui a pensar e, lembrei-me que podíamos ir até ao Cabeço Achatado.
- Para quê!? Lá só há caracóis e não temos nenhum amigo que lá more.
- Pode ser que os novos moradores tenham algum filho ou filha.
- Novos moradores!?
- Sim. A casa do Sebastião foi vendida e quem a comprou pode ter filhos que, queiram brincar connosco.
- Boa ideia. Vamos lá!
Felizes, cada um subiu para a sua bicicleta e, entre risadas e apitos, chegaram.
Então, viram a casa pintada de novo e o jardim todo bonito.
- Será que está alguém em casa a esta hora?
- Não sei. Vamos ver.
Depois de arrumarem as bicicletas num canto, começaram a andar à volta da casa. No momento em que passavam perto da garagem, um cão começou a ladrar. Assustados, os amigos saíram do local a correr, só parando alguns metros à frente.
- Que susto! Não volto lá.
Nesse momento, ouviram uma voz.
- Calma Fufias. Não está cá ninguém.
No entanto, o cão continuava a ladrar.
- Acalma-te.
Nesse momento, os três amigos apareceram.
- Olá.
- Olá.
- Desculpa por termos assustado o teu cão.
- Não faz mal. Ele ladra por tudo e por nada. É um cão de guarda e por isso, pensa sempre que são ladrões.
- Então, vou-lhe dizer que não sou ladrão.
Edgar aproximou-se do cão e esticou o braço.
- Muito prazer. Eu sou o Edgar e eu e os meus amigos não somos ladrões.
Rindo, também os amigos esticaram os braços.
- Prazer. Sou a Lara.
- Muito gosto. Sou o Diogo.
Então, a rapariga esticou também o seu braço na direção dos amigos.
- Muito gosto. Eu sou a Josefa mas, odeio o meu nome.
- Se quiseres, chamamos-te pelo segundo nome.
- Alexandrina também é horrível.
- Então o teu nome é Josefa Alexandrina?
- É. Mas quando me chamam por esses nomes, eu nunca respondo.
- Mas, como te chamamos?
- Não sei. Desenrasquem-se.
- Vai ser difícil mas, havemos de arranjar solução.
Segundos depois, Edgar olhou para o seu relógio.
- Tenho que ir para casa. Prometi à minha mãe que a ajudava a limpar o alpendre e se não for, ela corta-me logo a semanada.
- Ok.
- Então, vamos pensar numa maneira de ajudar a Josefa.
- Eu também vou pensar.
- Até amanhã.
- Até amanhã.
Edgar afastou-se e os irmãos ficaram a pensar.
- Como a podemos ajudar?
- Não faço ideia.
- Às vezes, as pessoas fazem os nomes mais pequenos como o José que, é chamado de Zé.
  - É verdade. 
- Vamos pensar em alguns e amanhã, dizemos-lhe.
Diogo e Lara começaram então a pensar.
- Alexia.
- Zeca.
- Zefa.
- Pode ser que ela goste de algum.
No dia seguinte, Diogo e Lara foram à procura de Edgar que, estava no largo ao pé do repuxo. 
- Bom dia.
- Bom dia, amigos.
- Vamos ter com a Josefa. Queres vir?
- Sim. Deixem-me só arrumar a bicicleta ali ao pé da mercearia.
Edgar foi então arrumar a bicicleta e regressou para junto dos amigos.
- Já está. Podemos ir.
Ao chegarem ao Cabeço Achatado, viram Josefa sentada na relva.
- Olá.
- Olá amigos.
- Estivemos a pensar numa maneira de te ajudar com o nome.
- Sim. Pensámos numas alcunhas e queremos saber se gostas de alguma.
- Digam.
- Alexia.
- Não! Parece nome de marca de lixívia.
- Zeca.
- Também não. É nome de rapaz.
- E Zefa?
- Esse é giro. Gosto.
- Então está resolvido. Agora és a Zefa.
- Está ótimo.
- A nossa amiga Zefa.
Podem chamar as vezes que quiserem. Vou já para casa dizer a todos que agora, sou a Zefa.
- Então, adeus.
- Adeus.
- Adeus.
A partir desse dia, Zefa estava sempre feliz e sorridente e, juntamente com Diogo, Lara e Edgar, divertia-se e aproveitava a vida ao máximo.

domingo, 7 de janeiro de 2024

A rainha Chicholina

Um novo dia esta a começar e aos poucos, o reino Fantasia começava a despertar.          No cimo do monte Carrapito, as nuvens desapareciam lentamente e, já se começava a ver o grande castelo azul onde morava o rei Ernestino e a sua esposa, a rainha Chicholina.     
Enquanto se preparava, Chicholina viu-se ao espelho e reparou numa ruga que lhe marcava o queixo.
- Ernestino!!! Ernestino!!!
Ensonado, o rei Ernestino levantou-se e aproximou-se da rainha.
- O que aconteceu!?
- Olha para aqui! Ontem não tinha nada e hoje acordei assim. De certeza que a bruxa Zazá é a culpada.
- Isso passa.
- Tragam-me essa bruxa que, quero falar com ela!
Não querendo contrariar a rainha, o rei chamou o aprendiz Fungas que se aproximou a correr.
- Diga sua alteza.
- Vai rápido buscar a Zazá.
- A bruxa!?
- Sim. Ela que venha depressa pois é urgente!
Fungas saiu a correr do castelo e entrou no bosque. Andou um bocado e, ao chegar perto da gruta onde Zazá costumava estar, começou a ouvir vozes.
Misturei cascas de amendoim, caroço de banana, gotas de orvalho e, fiz este bolo que trouxe para provarmos.”
“Eu vou fazer um chá de fagulhas para acompanhar.”
“Então, vamo-nos despachar que daqui a pouco, tenho que ir à oficina do Garibaldo fazer a revisão à minha vassoura.”
Enquanto isso, Fungas entrou na gruta com medo e chamou:
- Bruxa Zazá! Bruxa Zazá!
Rapidamente, Zazá apareceu e olhou muito séria para Fungas.
- Quem me chama!?
- Sou eu, o Fungas.
- O que queres!?
- A rainha Chicholina quer falar consigo.
- Espero que seja muito importante para me fazer interromper o encontro com as minhas amigas.
- Acho que é muito.
- Vamos lá ver qual é o problema.
Zazá pegou na sua vassoura e, quando se preparava para levantar voo, olhou para Fungas.
- Sobe. Vais ver como é andar de vassoura.
Fungas subiu para a franja da vassoura e segurou-se com todas as suas forças.
Pouco depois, chegaram ao castelo e a correr, foram até ao quarto onde Chicholina continuava a olhar-se ao espelho.
- Que vida a minha! Agora está tudo estragado!
Zazá aproximou-se e olhou para a rainha.
- Tanto barulho por causa de uma ruga. Até parece o fim do mundo.
- E é quase!
- Tem que misturar 10 patas de formigas, 5 línguas de abelhas, 7 unhas de burro e 3 orelhas de pernilongo amarelo. Depois de estar tudo bem mexido, junta-se gelo derretido e 1 pétala de papoila. Quando começar tudo a ferver, ainda tem que se juntar 2 pingas de chuva seca e 1 pitada de musgo azul.
- Mas, o que faço com essas coisas horríveis?
- Coza e triture tudo. Misture bem e depois espalhe pela cara. Vai ver que a ruga desaparece.
- Obrigada Zazá. Vou já mandar o Fungas comprar tudo isso.
- Então, está certo. Adeus.
- Adeus.
Zazá saiu pela janela e Chicholina, chamou Fungas.
- Vai comprar tudo o que a Zazá disse. Rápido.
Fungas saiu a correr e foi até à loja o senhor Gilberto.
- Senhor Gilberto, bom dia. A rainha Chicholina precisa de 10 patas de formiga, 5 línguas de abelha, 7 unhas de burro, 3 orelhas de pernilongo amarelo, gelo derretido, 1 pétala de papoila, 2 pingas de chuva seca e 1 pitada de musgo azul.
- Para que é tanta coisa esquisita?
- É para a rainha pôr na cara.
- Que coisa estranha e esquisita. Com esses nomes, parece bruxaria.
- É quase.
Gilberto começou a procurar os produtos nas prateleiras.
- As patas de formigas estão aqui. Levas duas caixas pois, cada uma tem só tem 5.
- Está bem.
- As línguas de abelha…
- Sim!?
- Estão neste caixote ao pé dos bicos de papagaio. E, as unhas de burro estão aqui ao lado das ratoeiras. As orelhas de pernilongo amarelo estão nesta caixa mas, tem cuidado para elas não caírem pois, podem-se partir. O gelo derretido está nesta garrafa. A pétala de papoila tens que a ir apanhar ao jardim e, se procurares bem, deves encontrar as pingas de chuva seca e o musgo azul.
- Obrigado, senhor Gilberto. Vou já ao jardim buscar o que falta.
- Consegues levar tudo?
- Levo umas coisas agora e depois, volto cá.
- Não precisas de voltar. Eu ajudo-te.
- Obrigado.
Pouco depois, Fungas e Gilberto saíram da loja e foram em direção ao castelo.
Ao chegarem, entraram e foram até ao salão onde estava Chicholina.
- Alteza, aqui está o que pediu.
- Então, vá. Começa a preparar tudo. Rápido.
Fungas juntou as patas de formigas, as línguas de abelhas, as unhas de burro, as orelhas de pernilongo num caldeirão e mexeu tudo. Depois, acrescentou o gelo derretido, a pétala de papoila e por fim, a chuva seca e a pitada de musgo azul. Então, começou a aparecer um fumo roxo, acompanhado por um cheiro horrível.
Um pouco afastado, Gilberto via tudo o que estava a acontecer, silencioso.
Segundos depois, o fumo começou a ficar verde e, o cheiro ainda piorou.
- Será que já está pronto?
- Não sei, realeza.
- Não posso esperar mais. Vou experimentar.
- A realeza é que sabe.
- Podes começar por espalhar nesta ruga.
Fungas fez o que a rainha disse e, terminado, ficaram à espera de resultados.
Passou uma, duas, três, quatro horas e a rainha começou a ficar impaciente.
- Fungas. Vem tirar isto da minha cara que, já passou muito tempo.
Calado, Fungas fez o que a rainha lhe ordenou e, aos poucos, limpou-lhe a cara.
Rapidamente, Chicholina olhou-se ao espelho e viu que estava exatamente igual.
- Não acredito! Estou igual.
- Pois está.
- A culpa é da Zazá!!!
Aproximando-se, Gilberto olhou para a rainha.
- Alteza. Sei qual é a solução que procura.
- Então qual é!?
- A solução é ser feliz com a vida. Rir até doer a barriga, divertir-se e ajudar os outros.
- E fico mais nova?
- Mais nova não fica mas, de certeza que vai perceber que as pessoas podem e devem ser felizes em todas as idades.
- Vou já começar a fazer isso.
A partir desse dia, Chicholina começou a sorrir mais, a aproveitar o sol para passear nos jardins do castelo e a conviver mais.
Foi então que percebeu que, tudo tem um tempo e que devemos aproveitá-lo ao máximo.


Os amigos Xexé e Chiclete

          O sol já brilhava com muita força e quando o relógio marcava as 8:50, Diogo de 9 anos acordou. - Mãe! Pai! Venham cá! No quart...