Uma Viagem Atribulada
Com
o despertar de mais um dia, toda a aldeia Ziricó se preparava para um fim de
semana feliz. Sentados à mesa, os irmãos Edu de 9 anos e Mia de 8 tomam o
pequeno almoço na companhia dos pais Pedro e Sónia.
-
Durante a noite estivemos a planear estes dois dias – disse a mãe Sónia.
-
Vocês vão adorar os planos que temos – disse o pai Pedro.
-
Quais são!? – perguntou Edu.
-
Vamos á aldeia Caracol ver o festival das sopas, vamos á praia dos Encalhados e
temos que ir visitar a tia Felisberta – respondeu Sónia.
-
Eu não gosto de ir a casa da tia. Tenho medo dos cães que lá estão – disse Edu.
-
Eu também não gosto dos cães mas, adoro o baloiço do jardim – disse Mia.
-
Pois. Mas, vão ver que vão gostar. Ela disse que tem lá novidades – disse
Sónia.
-
Espero que não tenha adotado a cadela da vizinha que estava quase a ter
cachorrinhos – disse Pedro.
Com
o rádio ligado, os irmãos começaram a cantar e, de repente ouviram um barulho parecido
com uma explosão. Assustados, Mia e Edu abraçaram-se.
-
Que foi isto? – perguntou Sónia.
-
Deve ter sido algum pneu que rebentou – respondeu Pedro.
Agora
com o carro parado, Pedro saiu ao verificar os pneus, viu que estavam todos em
bom estado. De regresso ao carro, rodou a chave e o barulho repetiu-se.
-
Só nos faltava isto. Vou ligar ao Zeca mecânico a pedir que nos venha ajudar –
disse Pedro.
Pegando
no telemóvel, Pedro procurou o contacto e após tê-lo encontrado, marcou-o.
Esperando o sinal de toque, o telemóvel não fez qualquer barulho e Pedro
insistiu algumas vezes. Olhando para o telemóvel, viu que este não tinha
qualquer sinal de rede o que tornava impossível a realização de chamadas.
-
Sónia. Tens aí o teu telemóvel? – perguntou Pedro.
-
Já estou cansada de te dizer que o meu telemóvel está avariado. Não faz nem
recebe chamadas – respondeu Sónia.
-
Só a nós é que isto acontece. Depois de tanto tempo a planear estas férias,
tinha que acontecer alguma coisa – disse Pedro.
Sentados
na erva, olharam para o carro e tentaram encontrar uma solução para o problema.
No
momento seguinte, Pedro olhou para as bicicletas e sorriu.
-
Já tenho a solução! – exclamou.
-
Qual é!? – perguntou Sónia.
-
Eu e o Edu podemos ir com as bicicletas até à aldeia mais próxima – respondeu
Pedro.
-
Vão. Eu e a mãe ficamos aqui a guardar o carro – disse Mia.
Afastando-se,
Pedro e Edu percorreram alguns quilómetros e ao longe, ao verem alguns telhados
pedalaram ainda com mais força e vontade.
Ao
chegarem ás casas, Pedro olhou para diversos locais tentando encontrar algum
habitante mas, não estava ninguém nas ruas. Um pouco mais longe, viram uma
placa onde leram:
“Café
Fofocas”.
Pensando
ter encontrado a solução, apressaram-se até lá. Em frente à porta, viram que
estava fechado e Edu começou a mostrar alguma impaciência.
-
Tem calma. Eu prometo que tudo se vai resolver – disse Pedro.
Continuando
a observar o espaço, Pedro e Edu não se aperceberam que o céu tinha ficado
carregado de nuvens escuras e, de um momento para o outro começou a chover. Sem
terem um local para se abrigar, regressaram ás bicicletas e começaram a
pedalar.
Ao
fim de alguns minutos, encontraram um casebre e, vendo-o abandonado, decidiram
entrar e assim protegerem-se da chuva. Enquanto respiravam de alivio, começaram
a ouvir o som Grrrrrrrr, que os fez olhar para todos os lados. Apesar da luz
ser reduzida, Edu viu que num canto, estava um cão que não parecia gostar da
companhia e que mostrava os seus dentes perigosos.
-
Vamos embora. Prefiro apanhar uma chuvada que ser comida para cão – disse
Pedro.
-
Eu também – respondeu Edu.
Já
fora do casebre, viram que a chuva tinha parado e afastaram-se alguns metros.
Agora com as bicicletas, afastaram-se e de repente, Edu ouviu um barulho
esquisito.
-
Que barulho foi esse? – perguntou Edu.
Pedro
não respondeu e Edu olhou para trás, vendo o pai caído no meio da lama e de
alguns arbustos.
-
Ajuda-me – pediu Pedro.
Com
dificuldade, Edu aproximou-se do pai e com algum esforço, conseguiu ajudá-lo a
levantar.
Novamente
nas bicicletas, continuaram o caminho e agora com o sol a querer aparecer, tudo
parecia estar a melhorar. Ao longo de vários de vários metros, pedalaram,
pedalaram, pedalaram e, ao chegarem ao topo de uma colina, começaram a observar
os arredores tentando encontrar alguma povoação.
Depois
de muito procurarem, desistiram pois não encontraram nada, o que os desanimou
ainda mais.
Tristonhos,
começaram a descer a colina e, de repente a bicicleta de Edu fez um barulho
esquisito e a corrente partiu-se.
Rapidamente,
Edu desceu da bicicleta e com a ajuda do pai, tentaram colocá-la no local
correto. Após várias tentativas mal sucedidas, Edu sentou-se numa pedra e
começou a olhar para o local.
-
Vou tentar ligar para alguém e pedir ajuda – disse Pedro.
Ao
pegar no telemóvel, Pedro viu que o visor estava vazio e tentou ligá-lo mas,
não conseguiu pois a bateria tinha terminado.
-
É melhor irmos para o carro que está quase noite – disse Pedro.
No
carro, Sónia tentava manter-se calma.
-
Ainda falta muito? – perguntou Mia.
-
Não. O pai deve estar quase a chegar com ajuda – disse Sónia.
-
Mas, ainda falta muito? – perguntou Mia.
-
Tem calma que já falta pouco – respondeu Sónia.
-
Mas quanto? – perguntou Mia.
-
Não sei. Mas, não te preocupes – respondeu Sónia.
-
Quero ir para casa – disse Mia.
-
Queres tu e queremos todos – disse Sónia.
-
Eu não gosto de estar á espera – disse Mia.
-
Ninguém gosta. Mas, a vida é feita de esperas, umas boas e outras más – disse
Sónia.
Nesse
momento, Pedro e Edu chegaram.
-
Então!? Já falaram com alguém? – perguntou Sónia.
-
Nada. Fomos a uma aldeia mas, não encontrámos ninguém. E, como se isto já não
estivesse mau, a bateria do meu telemóvel acabou – respondeu Pedro.
-
Onde vamos dormir? – perguntou Edu, vendo que já anoitecera.
-
Vamos ter que dormir no carro – respondeu Pedro.
-
Como!? – perguntou Mia.
-
Não vai ser fácil mas, temos que nos arranjar – respondeu Pedro.
Depois
do pai estender os bancos, todos se colocaram o mais confortável possível e
prepararam-se para dormir. Durante a noite, as melgas incomodaram—nos e, ao
acordarem no dia seguinte, viram que foram muitas vezes mordidos e que por
isso, estão cheios de marcas.
Depois
de Pedro se afastar para procurar novamente ajuda, Sónia ficou junto dos
filhos.
-
Estou cheio de fome – disse Edu.
-
E eu também – concordou Mia.
Sónia
remexeu na sua carteira e tirou de lá um pequeno pacote de bolachas de água e
sal.
-
Só tenho isto. Comam-nas – disse Sónia.
Depois
de as repartir, Sónia saiu do carro e ficou a olhar o horizonte. Nesse momento, ouviu um barulho esquisito
parecido com o de uma ventoinha enferrujada.
Então,
aproximaram-se da estrada principal e segundos depois, viram um trator que
avançava naquela direção.
Ao
vê-los tão agitados na berma, o condutor parou.
-
Bom dia. Precisam de algo? – perguntou o senhor.
-
Bom dia. Sim. Ontem saímos para ir passear mas, o carro avariou e não consigo
contactar com ninguém. Tivemos que dormir no carro e agora, quando ouvimos o
barulho do seu trator, ficámos muito felizes – respondeu Pedro.
-
Muito bem. Eu sou o Aniceto e vou a caminho da vila Miluca. Se quiserem, posso
levar alguém até lá – disse Aniceto.
-
Muito obrigado. Nem imagina como nos está a ajudar – disse Sónia.
Subindo
para o trator, Pedro partiu para ir buscar ajuda.
Na vila, Pedro foi á policia e esta,
rapidamente disponibilizou um carro e um reboque que, seguindo as indicações de
Pedro, chegaram a junto da restante família. Correndo para o carro, Pedro
abraçou Mia e Edu.
- Eu disse que tudo se ia resolver –
disse Pedro.
Já dentro do carro da polícia,
regressaram a casa e assim terminou um passeio recheado de aventura.
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