quarta-feira, 11 de maio de 2016

O Pequeno André

Numa manhã, André de 9 anos levantou-se e foi brincar para a sala. Enquanto se divertia, a mãe Dolores aproximou-se a sorrir.
- Filho. Fui á nova escola fazer a matricula – disse Dolores.
- Como é a escola? – perguntou André.
- É grande. Tem muitas salas, um campo para correr e saltar e muitas outras coisas – respondeu Dolores.
Nesse momento, o pai Cristóvão aproximou-se.
- Pai! A mãe foi á nova escola matricular-me – disse André.
- Pois. Agora que estás quase um homenzinho, tens que ir para outra escola – disse Cristóvão.
Feliz, André ocupou o resto do dia com brincadeiras e diversões.
Os dias foram passando e, o primeiro dia de aulas chegou.
Ao atravessar o portão principal, André sentiu-se estranho e com um bocado de medo. Apertando a mão da mãe, viu que a escola era muito mas, muito maior do que a primária o que, era um pouco assustador.
Durante a aula de apresentação, André ficou a conhecer os colegas e a escola.
Nos dias que se seguiram, tudo parecia fácil e maravilhoso mas, André estava sempre sozinho.
Mais alguns dias se passaram e tudo continuava igual.
Numa tarde durante uma aula, todos os alunos saíram para o recreio com o objetivo de apanharem flores e assim, conhecerem-nas melhor.
Terminada a tarefa, regressaram á sala de aula e lá, começaram a identificá-las e a distribui-las por uma cartolina. Enquanto trabalhavam, André tentava dar o seu melhor.
No dia seguinte quando chegou à escola, André viu que outros alunos o olhavam e cochichavam com sorrisos maldosos.
Seguindo para as aulas, André tentou esquecer tudo mas, o acontecido não lhe saía da cabeça.
Ao regressar a casa, André estava muito calado e pensativo o que fez com que Dolores desconfiasse que algo tinha acontecido.
Na manhã seguinte na hora do intervalo, enquanto os colegas jogavam ao berlinde, André olhava-os calado. Nesse momento, dois rapazes começaram à bulha.
Assustado, André afastou-se e foi sentar-se num banco do recreio.
Os dias foram passando e tudo continuava igual para André que, se sentia sozinho.
Numa manhã, enquanto esperava pela professora, André ouviu alguns colegas falarem.
- Olha prás calças dele – disse um, apontando para André.
 - E os sapatos!? Parecem daqueles que o meu avô calça – disse outro.
Quando a professora chegou, André entrou na sala, triste e calado. Atento, à aula, tentava aprender o máximo mas, em certos momentos, a conversa dos colegas era lembrada.
Mais alguns dias passaram e numa manhã, a diretora da turma interrompeu a aula, acompanhada por um menino.
- Meus alunos. Hoje, vamos conhecer o Diogo, o vosso novo colega – disse a diretora.
Nesse momento, todos os alunos olharam para o menino.
- O Diogo é da vossa idade e espera aprender muito – disse a diretora.
Continuando calado, Diogo sentou-se sozinho numa mesa no fundo da sala.
Chegado o intervalo, os alunos saíram da sala e, tanto André como Diogo foram para locais afastados dos colegas e terminado o dia, regressaram às suas casas.
Dias depois durante uma aula, todos os alunos foram para o jardim recolher plantas diferentes e variadas.
Escolhendo as mais bonitas, não só André mas também Diogo continuavam sozinhos. Perto do final da atividade, ao passar perto de outros colegas, André deixou cair o material que tinha recolhido. Tentando apanhá-lo rapidamente, André viu um colega calcar as suas plantas e só conseguiu apanhar uma em boas condições.
Já na sala, enquanto os colegas mostravam as plantas que tinham recolhido, André sentia vergonha por só ter uma.
Nesse momento, Diogo aproximou-se.
- Tenho muitas plantas e podes ficar com estas – disse Diogo, entregando-lhe algumas flores.
- Obrigado – agradeceu André com vergonha.
Depois da tarefa terminada, já no intervalo, André aproximou-se de Diogo.
- Se não fosses tu, nunca tinha conseguido fazer o trabalho – disse André.
Olhando para o amigo, Diogo sorriu.
- Onde moras? – perguntou Diogo.
- Moro numa aldeia aqui perto – respondeu André.
- Eu moro longe. Todos os dias, demoro mais de uma hora no caminho – disse Diogo.
- Porque vieste para esta escola? – perguntou André.
- Perto de minha casa não há escolas – respondeu Diogo.
Numa tarde, depois de acabarem um trabalho de grupo, todos os alunos se prepararam para regressar às suas casas. Ao pé do portão da escola, todos entravam nos carros dos pais mas, Diogo não tinha ninguém á sua espera.
Pouco depois, o pai Cristóvão chegou com o seu carro e, no momento em  que André se preparava para entrar, olhou Diogo.
- Quem é aquele menino? – perguntou ele.
- É o meu colega Diogo – respondeu André.
- Então e não vai para casa? – perguntou Cristóvão.
- Ele diz que mora muito longe e por isso, está á espera que o venham buscar – respondeu André.
- Já é quase noite. Chama-o que eu levo-o a casa – disse Cristóvão.
De regresso a perto do amigo, André viu-o muito sério a olhar para o relógio.
- Anda comigo. O meu pai, leva-te a casa – disse André.
Aproximando-se do carro, Diogo não sabia se devia aceitar ou não o transporte. Percebendo isso, Cristóvão saiu do carro.
- Não tenhas medo. Entra que eu levo-te – disse Cristóvão.
Apesar do medo, Diogo entrou no carro.
- Onde moras? – perguntou Cristóvão.
- Eu moro na Chicholina – respondeu Diogo.
Durante o trajeto, André olhava atento para as casas e a chegar à Chicholina, Diogo indicou a casa onde morava que, estava em muito más condições.
No caminho de regresso a casa, Cristóvão viu que André estava muito pensativo.
- Que se passa? – perguntou ele.
- Nada – respondeu André.
- Eu sei que passa. Conta-me o que é – pediu Cristóvão.
- Estava a pensar no Diogo. A casa dele está tão estragada que, parece que vai cair a qualquer momento – disse André.
- Pois é, filho. Nem todas as pessoas vivem em casas boas e bonitas. Muitas, apenas têm uma casita simples – disse Cristóvão.
- Óóoooooo!!! – exclamou André.
Algumas semanas depois, tudo continuava igual na escola.
Uma manhã durante o recreio, Diogo caiu e magoou-se num joelho.
Sem conseguirem contactar os pais de Diogo, André que assistia a tudo, aproximou-se.
- Liguem para o meu pai. Ele pode vir buscá-lo e levá-lo ao médico – disse André.
Depois de pensar um pouco, o professor Ernesto viu que Diogo precisava mesmo de ir ao hospital para curativos e, ele mesmo levou-o até lá.
Na semana seguinte, Diogo continuou a faltar à escola e numa tarde, André pediu ao pai que o levasse até casa do colega. Lá, André foi recebido pela mãe de Diogo que o levou até ao quarto do filho.
- Olá Diogo – disse André.
- Olá – disse Diogo.
- Então!? Porque não vais à escola? – perguntou André.
- Estou com ligaduras no joelho e não posso andar – respondeu Diogo.
- Mas, é grave? – perguntou André.
- Não. Mas tenho que estar quieto e evitar andar – respondeu Diogo.
- Vais ver que ficas bom depressa – disse André, sorrindo.
- Só é pena que vou ficar com a matéria atrasada – disse Diogo.
- Eu peço aos meus pais e venho cá trazer-ta – disse André.
- Fazes isso? – perguntou Diogo.
- Claro que sim. E ajudo-te a aprendê-la – respondeu André.
- Obrigado – agradeceu Diogo.
Nos dias que se seguiram, André ia diariamente visitar o amigo e como tinha prometido, explicava-lhe o que tinha aprendido e assim, estudavam juntos.
Duas semanas depois, André continuava a ajudar Diogo e, a amizade entre ambos era cada vez mais forte.
Numa manhã de fim de semana, ao chegar a casa de Diogo, André bateu à porta. Ao entrar, viu Diogo sentado no sofá com um grande sorriso de felicidade.
- Estás melhor? – perguntou André.
- Sim. Já tiraram as ligaduras e só lá tenho uma espécie de fita – respondeu Diogo.
- Que bom – disse André.
- Prá semana, se tudo correr bem já volto á escola – disse Diogo.
- Ainda bem – disse André.
- Pois. Mas, vou ter que usar muletas durante algumas semanas – disse Diogo.
- Eu ajudo-te – disse André.
Dias depois, ao chegar à escola, André viu Diogo e aproximou-se dele.
- Ainda bem que já voltaste. Estou farto de estar sempre sozinho – disse André.
- E eu estava farto de estar sempre parado – disse Diogo.
Com o passar dos dias, André e Diogo estavam cada vez mais companheiros e a amizade entre ambos, crescia de dia para dia.

A partir daí, a solidão deixou de existir e André e Diogo, agora amigos inseparáveis, partilhavam os momentos da vida.