sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

É Natal, É Natal


         Um novo dia começava e Cláudia acordou desejosa de começar a preparar a árvore de natal e o presépio.
         A correr, subiu até ao sótão e levou para a sala todo o material que ia utilizar.
         Depois de preparar o presépio, começou a espalhar as bolas e as fitas pela árvore. No momento em que pendurava a última estrela, a mãe Sílvia aproximou-se.
         - Filha, podes ir á loja do senhor João comprar o que está escrito nesta lista? – perguntou ela, entregando-lhe um papel.
         - Sim, posso – respondeu Cláudia.
         Durante o trajeto, Cláudia olhava sorridente para todas as montras que, enfeitadas com motivos natalícios, pareciam espalhar magia no ar.
         Ao chegar à frente da loja, Cláudia viu uma menina que tinha vestidas umas roupas muito velhas e, com algum medo, parou a observá-la. Pouco depois, o senhor João apareceu à porta.
         - Bom dia – disse ele.
         - Bom dia – disse Cláudia.
         - Então, o que se passa? – perguntou o senhor João.
         - A minha mãe mandou-me vir fazer umas compras – respondeu Cláudia.
         - Vamos então tratar disso – disse o senhor João.
         No interior da loja, Cláudia estava muito pensativa e olhava várias vezes pelo vidro da montra.
         - O que se passa? – perguntou o senhor João.
         - Quem é aquela menina que está ali fora? – perguntou Cláudia.
         - É a Ana – respondeu o senhor João.
         - Onde é que ela mora? – perguntou Cláudia.
         - Mora na casa ao lado da oficina do Zeferino – respondeu o senhor João.
         - Mas, essa casa é tão velha – disse Cláudia.
         - Pois é. Mas, ela e os pais são muito pobres e não têm outro sitio onde viver – explicou o senhor João.
         No momento em que João acabou de falar, a porta abriu-se e Ana entrou a tremer de frio.
         - Olá, Ana. O que andas a fazer na rua com este frio? – perguntou o senhor João.
         - Olá. A minha mãe pediu-me para vir aqui, ver se tem pão de ontem – respondeu Ana.
         - Para que queres o pão de ontem que já está rijo? – perguntou o senhor João.
         - É para comermos – respondeu Ana.
         - Não queres antes, pão de hoje? – perguntou o senhor João.
         - Nós não temos dinheiro para pagar – respondeu Ana.
         - Isso não é problema. Leva estes que, eu é que os dou – disse o senhor João.
         - Muito obrigado – agradeceu Ana, saindo da loja.
         Em silêncio, Cláudia observava tudo com muita atenção e segundos depois, aproximou-se do senhor João.
         - Porque é que ela queria o pão duro? – perguntou Cláudia.
         - Eu, quando tenho pão duro, não o vendo, dou-o. E, como ela e os pais não têm dinheiro, só pedem desse – respondeu João.
Sem saber o que pensar, Cláudia comprou o que era preciso e regressou a casa. Enquanto entregava as compras à mãe, Cláudia lembrou-se de tudo o que tinha acontecido na loja.
- Mãe. Apareceu na loja uma menina com as roupas muito velhas e que pediu ao senhor João, pão duro – contou Cláudia.
- Devia ser a filha dos novos moradores da rua Oralilas – disse Sílvia.
Nesse momento, o pai Filipe entrou em casa.
- Acabei de passar na oficina do Zeferino e contaram-me que, durante a noite, algumas telhas da casa lá do lado, caíram – contou ele.
- Se vierem ventos mais fortes, aquela casa vai acabar por cair – disse Sílvia.
- Ainda á tão pouco tempo foram para lá uns moradores novos – disse Filipe.
Ao ouvir aquilo, Cláudia aproximou-se.
- De que casa estão a falar? – perguntou ela.
- Estamos a falar da casa ao lado da oficina – respondeu Filipe.
- Da casa velha? – perguntou Cláudia.
- Sim - respondeu o pai.
- O maior problema não é a casa cair. O pior é que, quem lá está a morar pode aleijar-se e fica sem ter onde viver – disse Sílvia.
- Eu não conheço os moradores – disse Filipe.
- Eu conheço a menina – disse Cláudia.
- Conheces!? – perguntou Filipe.
- Sim. Hoje, quando fui à loja do senhor João, ela foi lá pedir pão duro porque não podia comprar do mole – respondeu Cláudia.
- Segundo me contaram, eles são mesmo muito pobres – disse Sílvia.
A correr, Cláudia foi ao seu quarto e guardou num saco, algumas camisolas, algumas calças e regressou para perto da mãe.
- Mãe. Eu vou dar estas roupas à Ana – disse Cláudia.
Saindo de casa, Cláudia foi até á loja do senhor João.
- Senhor João, tenho aqui roupas para dar á Ana. Quando ela cá vier, pode dar-lhas? – perguntou Cláudia.
- Claro que sim – respondeu o senhor João.
De regresso a casa, Cláudia sentia-se muito feliz.
Na manhã seguinte, um novo pensamento ocupava a cabeça de Cláudia e, enquanto tomava o pequeno almoço, contou aos pais.
- Já é quase natal. Posso convidar a Ana para vir cá nesse dia? – perguntou ela.
Surpresos pela iniciativa da filha, Sílvia e Filipe sorriram.
- Podes convidar a Ana e os pais – disse Filipe.
Com muita alegria, Cláudia saiu de casa e foi á casa da amiga. Lá, bateu à porta que foi aberta segundos depois pela mãe.
- Bom dia – disse Cláudia.
- Bom dia - respondeu a senhora.
- A Ana está em casa? – perguntou Cláudia.
- Sim. Está na sala – respondeu a senhora.
- Posso falar com ela? – pediu Cláudia.
- Vou chamá-la – disse a senhora, afastando-se.
Pouco depois, Ana apareceu.
- Olá – disse Cláudia.
- Olá – respondeu Ana.
- Queres ir com os teus pais, passar o natal a minha casa? – perguntou Cláudia.
Depois de olhar para a mãe, Ana olhou novamente para Cláudia.
- Nunca festejei o natal – disse Ana.
- Então, este ano podes festejar – disse Cláudia, olhando para a mãe da amiga.
- Vamos mãe!’ – perguntou Ana.
- Se quiseres, sim – respondeu a mãe.
- Eu quero – disse Ana.
- Então, fia combinado – disse Cláudia.
Depois de se despedirem, Cláudia regressou muito feliz a casa.
- Mãe! Ela aceitou! – exclamou Cláudia.
- Ainda bem. Então, temos que começar a preparar as coisas para que tudo seja perfeito – disse a mãe.
O tempo foi passando e o dia de natal chegou finalmente.
Feliz, Cláudia foi até á casa da amiga e levou-os até à sua.
 Lá, Ana ficou maravilhada com a árvore de natal e com o presépio e adorou ver um filme de natal.
O final do dia chegou e, quando Ana e a mãe se preparavam para regressar a a casa, Sílvia e Filipe aproximaram-se.
- Como o natal é uma época de ajuda e amizade, queremos convidar-vos a partilhar esta casa – disse Filipe.
Com lágrimas nos olhos, Joana olhou para o marido Daniel.
- Obrigado – disse ela.
Deste modo, Ana viveu o primeiro natal onde sentiu mesmo o que ele significa.