sábado, 6 de agosto de 2016

A Casa Dos Anões

        Numa fria manhã de inverno, Mili de 9 anos foi acordada pela mãe Elisa.
- Mili! Está a nevar! – exclamou ela.
Mili levantou-se rapidamente e aproximou-se da janela, onde viu a neve a cair.
- Que bonito! – exclamou Mili.
- Já à muitos anos que não nevava cá na aldeia – disse Elisa.
- Vou chamar os meus amigos e vamos brincar – disse Mili.
- Tem cuidado para não te magoares – recomendou Elisa.
- Está bem – disse Mili.
Equipada com uma grossa camisola de lã, Mili saiu para a rua e começou a fazer um boneco de neve. Pouco depois, o irmão Pedro juntou-se a ela e começou então uma divertida batalha de bolas de neve.
Algum tempo depois, regressaram a casa e cansados, sentaram-se no sofá. Pouco depois, Elisa aproximou-se.
- Preciso pedir-vos um favor – disse Elisa.
- O que é? – perguntaram os irmãos.
- Tenho aqui um bolo para a avó Chica e, queria pedir para lá irem levá-lo – respondeu Elisa.
- Está bem – disseram os irmãos.
Depois de se prepararem, saíram em direção à casa da avó e, ao atravessarem a praça viram uma casa com um colorido arco-íris na parede.
Curiosos, ficaram parados a observá-la e ouviram vozes a cantar.
         Aproximando-se cada vez mais, os irmãos continuaram em silêncio e, segundos depois viram a porta abrir e saíram de lá, três anões muito contentes.
- Olá – disse o Pedro.
- Olá – responderam os anões em coro.
- Quem são vocês? – perguntou Mili.
- Eu sou o Dumpa e eles são os meus amigos Golas, Rupas e Tocas – respondeu Dumpa.
- E vocês!? Quem são!? – perguntou Tocas.
- Eu sou a Mili – respondeu ela.
- E eu sou o Pedro – respondeu o irmão.
- O que levam aí? – perguntou Golas.
- É um bolo para a nossa avó Chica – respondeu Mili.
- Nós somos muito gulosos. Mas, não sabemos cozinhar – disse Dumpa.
- Porque não pedem ajuda? – perguntou Pedro.
- Nunca! – exclamou rapidamente Tocas.
- Porquê!? – perguntou Mili.
- Nós somos mais pequenos que vocês mas, também somos capazes – respondeu Dumpa.
Depois de se despedirem, Mili e Pedro foram entregar o bolo à avó e regressaram a casa.
Uma manhã em que o sol rompia devagarinho as nuvens, Mili foi até à casa dos anões e bateu à porta. Golas abriu-a e entrando, Mili viu vários cestos em cima da mesa.
- Que vão fazer? – perguntou Mili.
- Vamos fazer um piquenique – respondeu Dunga.
- Também queres vir? – perguntou Tocas.
- Está bem. Só tenho que avisar a minha mãe – respondeu Mili.
- Então, vai avisá-la e depois volta para irmos – disse Golas.
A correr, Mili foi até à sua casa e avisou a mãe.
Regressando a correr para junto dos amigos, Mili ajudou-os nos últimos preparativos e felizes, saíram para o piquenique.
Depois de andarem vários metros, chegaram à margem de um riacho onde viram uma tartaruga muito triste a chorar.
- Que tens, Zica? Porque choras? – perguntou Golas.
- Os meus amigos foram passear até ao pântano mas, eu tenho medo e fiquei aqui sozinha – respondeu Zica.
- Queres vir connosco? – perguntou Dunga.
- Onde vão? – perguntou Zica.
- Vamos fazer um piquenique – respondeu Tocas.
- Eu conheço um lugar muito bonito e sossegado. Lá, temos a companhia da Bóni, a grande árvore vermelha e dos pássaros que lá moram – disse Zica.
Felizes, os amigos andaram alguns minutos e então, viram a grande árvore que feliz, agitava as suas folhas.
- Olá Bóni – disse Zica.
- Olá – disse Bóni.
- Podemos fazer aqui um piquenique? – perguntou Zica.
- Claro que sim – respondeu Bóni.
Divertidos, Mili e os amigos estenderam a toalha e, no momento em que distribuíam os alimentos, coloridas borboletas apareceram.
Terminado o piquenique, Mili aproximou-se de Bóni.
- És muito bonita – disse Mili.
- Obrigada – agradeceu a árvore.
- Eu moro aqui perto e nunca te vi antes – disse Mili.
- Eu sou especial. Como muitas pessoas são falsas e más, eu quase sempre só mostro o meu lado triste mas, tu e os anões são diferentes – disse Bóni.
- Diferentes, como? – perguntou Mili.
- Sei que tens um coração meigo e bondoso e que és incapaz de fazer coisas más – respondeu Bóni.
Feliz, Mili regressou a casa e durante o resto do dia, não conseguiu parar de pensar nas palavras de Bóni.
No dia seguinte, Mili foi novamente visitar os anões e, ao bater à porta, Rupas abriu-a.
- Olá Mili – disse ele, todo sorridente.
Nesse instante, um cheiro delicioso surgiu no ar e Mili viu que Rupas tinha vestido um avental que estava cheio de farinha.
- O que estão a fazer? – perguntou Mili.
- Estamos a fazer um bolo de amoras mas, não está a correr tão bem como esperávamos – respondeu Rupas.
- Querem que vos ajude? – perguntou Mili.
- Sim – respondeu Rupas, feliz.
Guiada por Rupas, Mili chegou à cozinha que estava muito, mas mesmo muito confusa. Aproximando-se, Mili viu Dunga a mexer muito depressa uns ovos e desse modo, era impossível evitar que não saíssem para fora da taça.
- Dunga, não mexas tão depressa – disse Mili.
- Tem que ser, tem que ser – disse Dunga, recomeçando a mexer.
Sem conseguir fazer Dunga parar, Mili foi até perto de Tocas e viu que ele estava muito concentrado a contar amoras.
- 3 para mim, 3 para o Golas, 3 para o Jita e 3 para o Dunga – disse Tocas.
- Que estás a fazer? – perguntou Mili.
- Estou a prepara as amoras para o bolo – respondeu Tocas.
- Precisas de ajuda? – perguntou Mili.
- Tenho que ir apanhar ainda algumas framboesas – respondeu Tocas.
- Posso ir também? – perguntou Mili.
- Claro que podes – respondeu Tocas.
Feliz, Mili saiu com Tocas e depois de andarem alguns metros, começaram a apanhar as framboesas.
Enquanto isso, Mili viu caído no chão um ninho cheio de passarinhos bebés.
- Tocas! Olha o que aqui está – disse Mili.
Tocas aproximou-se e ao ver os passarinhos, pegou cuidadosamente no ninho.
- Coitadinhos! Devem estar cheios de fome – disse Tocas.
- O que lhes podemos dar para comerem? – perguntou Mili.
- Vou-lhes dar uma framboesa – disse Tocas, escolhendo uma bem madurinha e colocando-a no ninho.
Os passarinhos comeram-na rapidamente e Tocas deu-lhes outra. Felizes, os passarinhos começaram a piar de agradecimento e Mili ficou a observá-los.
- E agora!? Não os podemos deixar sozinhos – perguntou Mili.
- Eu e os outros, tomamos conta deles – respondeu Tocas.
- E eu também ajudo – disse Mili.
Cuidadosamente, Tocas pegou no ninho e levou-o para casa. Lá, prepararam uma bonita gaiola azul clarinha e penduraram-na perto da porta, ao lado de um bonito vaso de malmequeres.
Todos os dias, Mili fazia os possíveis para ir à casa dos anões mas, nem sempre conseguia, o que a entristecia muito.
Numa manhã em que o azul do céu estava escondido por feias e grossas nuvens cinzentas, Rupas foi até à janela e pareceu-lhe ver uma sombra escura a voar. Assustado, correu até junto dos amigos.
- A bruxa encontrou-nos. Via-a a voar e de certeza que os vem apanhar – disse Rupas muito assustado.
- Tens a certeza? – perguntou Dunga.
- Sim. Vi no céu a sua sombra – disse Rupas agitando os braços.
Nesse momento, Mili bateu à porta.
- Não abram! É ela que nos vem apanhar! – exclamou Rupas.                  Aproximando-se de uma janela, Tocas deu uma rápida espreitadela e viu Mili em frente à porta.
- Não é nenhuma bruxa. É a Mili – disse Tocas.
Depois de abrirem a porta, Mili entrou.
- Que aconteceu!? Porque demoraram tanto tempo? – perguntou Mili.
- Pensámos que fosse a bruxa má – respondeu Dunga.
- Qual bruxa má? – perguntou Mili.
- A bruxa que nos quer apanhar – respondeu Rupas, já mais calmo.
- Quando morávamos na outra casa, ela ia todos os dias voar para lá e dizia que nos ia apanhar. Ela às vezes, fazia uns sons esquisitos e a casa tremia – disse Tocas.
Nesse momento, uma rajada de vento fez os ramos das árvores abanar.
- Cuidado! Ela chegou! – gritou Rupas com medo.
- Rupas, acalma-te! Não vem aí bruxa nenhuma. O vento é que fez as árvores abanarem – sossegou-o Mili.
- Não! É mesmo ela! – exclamou Rupas.
- Tem calma pois, as bruxas não existem – disse Mili.
- Existem, existem – disse Rupas.
Nesse momento, os outros anões olharam para Rupas que, continuava muito assustado.
- Vamo-nos sentar pois, quero contar-vos uma história – disse Mili.
Já sentados, os anões ficaram à escuta.
- Eu, era muito medricas e tinha medo de tudo, até da minha sombra. Todos os meus amigos gozavam comigo e eu, com vergonha, chorava. Mas, um dia mudei – disse Mili.
- O que fizeste? – perguntou Dunga.
- Numa manhã, fui ao parque e enquanto brincava no escorrega, apareceu um menino e enquanto conversávamos, eu falei-lhe dos meus medos. Ele também contou que tinha medo das mesmas coisas e, foi então que decidimos vencer esses medos – respondeu Mili.
- Mas, como conseguiste? – perguntou Tocas.
- No princípio foi difícil mas, nunca desisti e sempre acreditei que conseguia. E consegui – respondeu Mili.
- Eu também vou conseguir – disse Rupas, já mais confiante.
        Durante o resto do dia, Mili e os anões brincaram e divertiram-se muito.
        A partir daí, Mili e Pedro aproveitavam os momentos para visitar os anões e, a partir daí todos ficaram mais felizes.