quinta-feira, 17 de novembro de 2022

O urso bebé

O sol estava a nascer e a aldeia Pitorras começava a despertar. Na rua Chicla, numa casa branca com um grande jardim, morava o Simão com 9 anos e os pais. Alguns metros depois, moravam também os irmãos André e Inês de 9 e 8 anos. Amigos desde criancinhas, o Simão, o André e a Inês adoravam explorar e, todos os espaços, eram oportunidades para a diversão. Pouco depois de o relógio da igreja bater as 10:00, os amigos encontraram-se na praceta Solidó e, começaram a planear o dia.                               - Podemos ir visitar o moleiro e, divertimo-nos com a Donzela.
- Acho melhor não. Ontem, a Donzela estava chateada e ia-me dando um coice.
- Pois foi. Ela é uma mula com muito trabalho e, não gosta muito de visitas.
- Têm razão.
- E se fossemos à oficina do Custódio ver se ele já fez mais algum carro de madeira?
- No outro dia, quando lá passei, ele estava a começar a fazer um carocha. Vamos ver se já o fez.
- É isso. Vamos lá.
Sorridentes, os amigos começaram a andar e, ao chegarem à oficina do amigo, viram-no a remexer em vários bocados de madeira. 
- Bom dia, Custódio.
- Bom dia, rapaziada.
- O que tens feito?
- A minha vida é fazer carros. Mas, de madeira.
- E são muito bonitos.
- Desde que fiz o primeiro, tenho sempre tentado melhorar.
- E tens melhorado.
- Sim. Só lhes falta o motor para andarem.
- Falta o motor e tamanho. Estes só podiam ser conduzidos por ratos. E, não podiam ser muito grandes.
- Tem razão.
- E, o que andam os meus amigos a fazer?
- Não tínhamos nada para fazer e por isso, decidimos vir aqui ver o teu trabalho.
- E fizeram muito bem em vir.
- Precisas de ajuda em alguma coisa?
- Por acaso, estava à procura de umas tábuas de cerejeira para acabar este trabalho mas, já devo ter usado as que tinha.
- Queres que vamos buscar mais?
- Isso é que era uma boa ação.
- Mostra-nos como são que, nós vamos à procura.
Custódio pegou num bocadinho que tinha e entregou-o aos amigos.
- Aqui está. Se encontrarem algum, tragam-no. Não importa o tamanho.
- Está bem. Vamos já.
- Obrigado amigos.
Já fora da oficina, os amigos sorriam felizes.
- Vamos ver no pinhal atrás da casa da dona Lúcia.
- Ok.
  Durante o caminho, os amigos correram, saltaram e riram felizes. Ao chegarem ao pinhal, começaram a procurar a madeira de cerejeira e, alguns metros depois, em cima de umas folhas secas estava o que procuravam.
Enquanto os apanhavam, começaram a ouvir barulhos parecidos com grunhidos fracos. Curiosos, pararam e ficaram à escuta. Minutos depois, perceberam que os barulhos vinham de uma caverna e, aproximaram-se silenciosamente.
Quando olharam lá para dentro, viram um urso pequenino enroscado noutro que, devia ser a sua mãe.
Segundos depois, a mãe ursa abriu os olhos e olhou para os amigos, grunhindo baixinho.
Sem saberem o que fazer, os amigos afastaram-se a correr e, pegaram nas madeiras, regressando à oficina do amigo Custódio, entregando-a.
- Obrigado amigos. Agora já posso acabar o carocha.
- Não é preciso agradeceres.
- Está na hora de irmos embora.
- Adeus rapaziada.
- Adeus Custódio.
Já na rua, os amigos conversaram.
- Temos que lá voltar.
- Sim.
- Amanhã, levamos uma pilha e voltamos lá.
- Exatamente.
- Então, amanhã encontramos-nos aqui às 14:30.
- Fica combinado.
- Ok.
No dia seguinte, ainda antes da hora marcada, os amigos reuniram-se.
- Vamos lá.
- Eu trouxe uns biscoitos para lhes dar. Espero que gostem.
- Se forem gulosos como eu, de certeza que gostam.
- Vá. Vamos é indo para não perdermos tempo.
Ao longo do caminho, os amigos cantavam e riam felizes.
Chegados ao pinhal, aproximaram-se da caverna e de repente, ouviram umas vozes. Rápidos, esconderam-se atrás da vegetação e ouviram:
“Pelo que o Euclides disse, deve ser aqui perto.”
“Espero que não andemos à procura dos ursos e eles não existam.”
“Para ele já ter um comprador para os bichos, é porque eles existem.”
“Eu só acredito, vendo.”
“És tão desconfiado.”
“Eu é que sei.”
“Está bem. Vamos é continuar a procurar.”
“Só se fores tu. Eu hoje já andei mais do que num ano inteiro. Vou mas é para casa e, amanhã logo se vê.”
“Eu faço como tu. Não vou andar por aqui sozinho.”
“Então, vamos embora. Amanhã voltamos à caça.”
Depois de os homens se irem embora, os amigos saíram do esconderijo.
- Não podemos deixar que eles apanhem os ursos.
- Pois não. Mas, o que pudemos fazer?
Em silêncio, os amigos pensavam numa solução.
- Já sei!
- O quê!?
- Lembram-se do senhor Virgílio da quinta Estrelinha?
- Sim.
- Podemos ir falar com ele e, se lhe contarmos que querem apanhar os ursos, ele de certeza que nos ajuda.
- Boa ideia.
- Vamos lá já, para não perdermos tempo.
Ao chegarem à quinta Estrelinha, o senhor Virgílio recebeu-os muito contente.
- Olá a todos!
- Olá senhor Virgílio. Podemos falar consigo?
- Claro que sim. Vamos até à cozinha que, a minha Dores deve lá ter bolachas.
Ao chegarem à cozinha, foram recebidos com abraços e beijos.
- Logo hoje que não fiz nenhum bolo é que recebemos visitas. Mas, o que me vale é que eu tenho sempre umas bolachas escondidas para o Virgílio não as comer.
- Sorte a delas!
- Sorte a delas!?
- Sim. Sorte das bolachas porque se eu as encontro, não deixo nenhuma para amostra.
- Pois, pois!
- Mas, agora vamos ao que interessa. O que me queriam contar?
- Senhor Virgílio, no outro dia fomos ao pinhal buscar madeira para o Custódio e, vimos um urso grande e um pequeno. Desde então, temos lá ido todos os dias mas, hoje vimos dois homens que, andam à procura deles para os venderem.
- Eles não podem fazer isso!
- Mas fazem se não forem impedidos.
- Vou falar com alguns amigos e, depois digo-vos algo.
- Ficamos à espera.
- Não se preocupem que, vou já falar com eles.
- Amanhã, viemos cá para saber o que fazer.
- Fica combinado. Até amanhã.
- Até amanhã.
De regresso às suas casa, os amigos esperaram ansiosos pelo dia seguinte e, pensaram no que poderiam fazer para afastar os homens.
Na manhã do dia seguinte, ainda antes das 9:30, os amigos encontraram-se e, foram até à quinta do amigo.
- Durante a noite, fartei-me de pensar em alguma coisa que pudéssemos fazer mas, não consegui.
- Eu pensei que podíamos abrir um grande buraco à frente da caverna e, tapá-lo depois com ramos para que, quando eles os calcassem, caíssem lá dentro.
- Essa ideia não é má de todo mas, é impossível.
- Porquê!?
- Tinha que ser um buraco muito grande e fundo e, nós não o conseguíamos abrir a tempo.
- Tens razão.
- Então!? Pensaram em mais alguma coisa?
- Não.
- Não.
- Vamos esperar pelo senhor Virgílio para sabermos se ele pensou em algum plano.
- Olhem! Ele vem ali com outros senhores.
Segundos depois, já ao pé dos amigos, Virgílio sorriu.
- Olá amigos.
- Olá.
- Como vos tinha dito, falei com estes comparsas e, pensámos numa maneira de proteger os ursos dos homens.
- Como!?
- É fácil. Eu e os meus comparsas vamos lá para dentro com umas cordas e escondemos-nos. Vocês ficam cá fora escondidos e, quando os virem chegar, imitam os sons das corujas. Lá dentro, nós vamos estar à escuta e, quando vos ouvir-mos, vamos usar as cordas e algumas pedras para os apanharmos. Enquanto isso, vocês correm até ao café do Fininho e chamam a policia.
- Boa ideia!
- Sim. Mas, temos que ser rápidos.
- Vamos quando?
- Assim que o Bartolomeu e o Zacarias chegarem com as cordas, vamos logo.
- Está bem.
Algum tempo depois, os amigos do senhor Virgílio chegaram e, depois de todos se +prepararem, entraram na caverna. Rapidamente, André, Inês e Simão foram esconder-se atrás de umas ervas altas e, ficaram de vigia.
Os minutos foram passando e, num momento em que os amigos já duvidavam se os homens apareceriam, ouviram.
“Vamos lá buscar o animal.”
“Sim. Vamos depressa.”
“Eu levo a lanterna e tu, as cordas.”
“Pois. O trabalho complicado fica sempre para mim.”
“Deixa-te de reclamar. Vamos é despachar isto.”
“Vá, então.”
Ao ouvirem aquilo, os amigos começaram a imitar as corujas.
“Uuh uuh, uuh uuh,uuh uuh.”
Atentos Custódio, Bartolomeu e Zacarias ouviram os sons e prepararam-se.
Quando viram os homens entrar na caverna, os amigos afastaram-se a correr o mais depressa que conseguiam até que, chegaram ao café do Fininho.
- Senhor Fininho! Podemos usar o seu telefone!?
- Claro que sim. Mas, o que aconteceu para virem a correr tanto!?
- Depois contamos-lhe.
- Estejam à vontade com o telefone.
- Obrigado.
Simão pegou no telefone e, depois de ver o número da policia, marcou-o e, esperou que atendessem a chamada.
“Quartel da policia da Pitorras, bom dia. Em que posso ajudar?”
- Bom dia. Eu sou o Simão e estou a telefonar-vos porque estão uns homens no pinhal a tentar apanhar o urso bebé que lá está.
Depois de acabar o telefonema, os amigos aproximaram-se da policia. No momento em que todos se preparavam para entrar, ouviram:
“Agora já não podem levar o urso.”
Nesse momento, Custódio, Bartolomeu e Zacarias saíram da caverna e, traziam consigo, três homens presos pelas cordas.
“Aqui estão os caçadores.”
“Os caçadores, caçados.”
“Vamos já levá-los para o quartel. Têm muito que contar.”
- Podemos ir lá dentro?
- Claro que sim.
Felizes, os amigos entraram na caverna e viram o urso bebé e a sua mãe ursa.

A partir desse dia, sempre que tinham tempo livre, os amigos iam à caverna ver o urso que chamaram de Kiko e brincavam com ele.