quinta-feira, 9 de setembro de 2021

                                                     O segredo da tia Cornélia


Um novo dia estava a começar e os irmãos Bruno e André de 8 e 10 anos levantaram-se e foram até à cozinha. Lá, viram a mãe Solange que, cantava enquanto lavava a loiça.

- Bom dia, mãe.

- Bom dia.

- Podemos tomar o pequeno-almoço?

- Não só podem, como devem.

Entre risadas, os irmãos tomaram o pequeno-almoço e enquanto arrumavam a mesa, um cheiro a chocolate espalhou-se pela cozinha. Curiosos, aproximaram-se do forno e viram lá dentro um bolo.

- Estás a fazer um bolo?

- Que bom! É de quê!?

- Sim. Estou a fazer um bolo de chocolate.

- Adoro bolo de chocolate.

- Eu também. E quando leva o chocolate derretido por cima, fica melhor que bom.

- Pois. Mas, este bolo é para a tia Cornélia que, tem estado na cama com dores nos dedos dos pés.

- Dores nos dedos dos pés!?

- Sim. No inicio da semana ela teve um problema qualquer.

Nesse momento, o relógio do forno apitou e Solange aproximou-se.

- O bolo já está pronto. Agora, vou esperar que ele arrefeça e depois, tenho que o ir entregar.

- Se quiseres, eu e o Bruno vamos levá-lo.

- Isso era o ideal. Tenho tanta roupa para arrumar que, nem sei como.

- Não te preocupes que, nós vamos lá.

Depois de fechar o bolo numa caixa, Solange entregou-o aos filhos.

- Aqui está. Vão então até lá e entreguem-lho.

Já na rua, os irmãos começaram a andar e ao chegarem à casa da tia Cornélia, bateram à porta. Depois de esperarem um bocado, a porta abriu mas, só viram um gato preto.

Sem saberem o que fazer, os irmãos olharam um para o outro.

- O que fazemos?

- Vamos chamá-la. Tia Cornélia! Tia Cornélia!

Sem resposta nenhuma, Bruno e André olharam para várias partes da casa e, viram um fumo esquisito a sair debaixo de uma porta. Um pouco assustados, aproximaram-se e começaram a sentir um cheiro muito, muito desagradável.

- Pfffff! Que cheirete!

- É mesmo!

Nesse momento, o gato preto apareceu novamente e olhou-os muito quieto. Eles, sem saberem o que dizer ou fazer, ficaram quietos e em silêncio.

Segundos depois, viram a porta abrir um bocadinho e o gato a entrar novamente.

- Isto está cada vez mais esquisito.

- Pois está.

Enquanto pensavam o que iriam fazer, pousaram o bolo numa mesa e, instantaneamente ouviram:

“Aiiiiiiiiiiiii!!!”

Assustados, correram para a porta mas, quando a tentaram abrir, não conseguiram. Tentaram várias vezes mas, ela parecia colada pois, não se mexia nem um milímetro.

Segundos depois, olharam para a porta em que o gato tinha entrado e viram-na um bocadinho aberta.

- Vamos lá espreitar.

- Ok.

Em silêncio aproximaram-se e, no momento em que se preparavam para espreitar, a porta abriu completamente e então, viram a tia Cornélia com uma grande saia preta e um chapéu muito esquisito.

- Desculpem a demora mas, estava a arrumar umas coisas.

- Não à problema.

- A nossa mãe mandou-nos vir entregar este bolo.

- Muito obrigado. Digam à vossa mãe que já estou melhor e que, daqui a uns dias já saiu de casa.

Nesse momento, ouviram um barulho parecido com o de um trovão. Assustados, os irmãos abraçaram-se e olharam para a tia.

- Não se assustem! O barulho foi só o do meu caldeirão a começar a aquecer.

- Caldeirão!?

- Sim. Nunca viram nenhum?

- Não.

- Então, venham comigo que, vou vos mostrar o meu. Ele já está um bocado velho mas, ainda serve.

Cornélia abriu uma porta e olhou para os sobrinhos.

- Venham. Vamos descer as escadas que, o caldeirão está lá em baixo.

Os irmãos desceram os primeiros degraus e, de repente ficou tudo às escuras.

- Estou a ficar com medo.

- Eu também.

-Não tenham medo.

Cornélia bateu as palmas e instantaneamente as escadas iluminaram-se.

Admirados, André e Bruno olharam um para o outro. Ao chegarem ao último degrau, viram muitas prateleiras com vários frascos que mostravam uns líquidos muito coloridos.

- O que têm os frascos?

- Os frascos têm várias coisas. Poções, ensaios e ingredientes.

- Para quê!?

- Para as minhas magias.

Nesse instante, o caldeirão voltou a fazer barulho mas, desta vez o som parecia o de uma corneta.

- Ouviram!?

- Sim!

- Vou tirar um pouco da poção e ver se já está pronta.

Cornélia aproximou-se do caldeirão e, com uma grande colher de madeira tirou um pouco. Então, cheirou-a e fez uma careta.

- Está horrivelmente mal-cheirosa.

- Para que é a poção?

- É para acabar com os carrapatos.

- Acabar com os carrapatos!?

- Sim. Desde que fui ao bosque apanhar pinhões, tenho andado com os pés miseráveis.

- Mas, tia!? Como é que essa poção acaba com os carrapatos?

- Vou-vos contar um segredo. Eu sei fazer magias mas, não sou feiticeira.

- Magias!? Como!?

- À muitos anos atrás, conheci uma velha feiticeira e ela, ensinou-me.

- Deve ser muito fixe fazer magias.

- A magia é uma arte que deve ser usada com muito cuidado. As pessoas podem fazer o bem mas, também podem ser maldosas.

- Mas, a magia não serve só para transformar coisas?

- Não. A magia, quando é mal feita ou feita por alguém que quer fazer o mal, pode ser muito, mas muito perigosa.

- Então, já não quero aprender magias.

- Nem eu.

- Mas, acho que vocês trouxeram alguma coisa mágica.

- Não! Nós só trouxemos um bolo de chocolate.

- Então!? O bolo é quase uma magia culinária. Pensem lá, ovos, farinha, açúcar e, pouco depois têm um lindo e saboroso bolo.

Os irmãos riram.

- Pois é! E também não podemos esquecer as mãos da vossa mãe que, são muito hábeis.

Então, Cornélia cortou o bolo e deu uma fatia a Bruno e outra a André.

Pouco depois, os irmãos regressaram a casa felizes e divertidos.