sexta-feira, 6 de outubro de 2023

O Velho Moinho

 Perdida entre montes e vales, a aldeia Caneco distinguia-se de todas as outras pelos seus lindos e coloridos jardins.
Numa pequena casa da rua Chaleira, morava Daniel com 10 anos e a irmã Núria com 9 que, adoravam brincar nos baloiços do parque Estrelinha. Enquanto se divertiam, Daniel olhou para o monte lá próximo e viu um carro branco a percorrê-lo. Achando aquilo estranho, olhou para a irmã.
- Está um carro no monte.
- Devem ser turistas que andam a passear.
Continuando com a diversão, os irmãos brincaram na areia, na beira do lago e a correr, percorreram várias vezes o parque. Já cansados, sentaram-se num banco do jardim e ficaram a observar tudo.
- Agora, podíamos ir ver se já acabaram de reconstruir a ponte Maciça.
Aceitando a sugestão, Núria sorriu.
- Sim. Estou curiosa com o que fizeram.
Animados, correram até à ponte e viram flores a crescer. Enquanto observavam tudo, um carro branco com reboque aproximou-se e apressado apitou. Com o movimento, o reboque fazia um barulho que parecia latas a bater entre si.
- Que barulho esquisito!
Minutos depois, os irmãos regressaram a casa e o dia terminou.
Dias depois, os irmãos foram passear com o seu cão Xili e, ao passarem perto do lago, viram pedaços de vidro no chão. Sem saberem como é que os vidros lá tinham ido parar, pararam a pensar.
- Que esquisito!
- Se calhar fizeram aqui algum piquenique e podem ter partido alguma coisa.
- Se calhar foi isso.
Pouco depois, Xili afastou-se um bocado e começou a ladrar ao pé de um amontoado de ramos. Aproximando-se, os irmãos remexeram-nos e encontraram uma pequena caixa de madeira. No momento em que Daniel lhe pegou, Xili recomeçou a ladrar e ouviram uma voz.
- Agora que já carregámos, podemos ir.
- Encontrámos o melhor sitio para ser o nosso armazém. Ninguém suspeita de um velho e abandonado moinho.
Escondidos, os irmãos ouviram os homens a afastarem-se e, alguns minutos depois, saíram do esconderijo e apressaram-se a regressar a casa.
Já sentados no sofá pensaram no que tinha acontecido.
- O que ouvimos foi muito estranho.
- Pois foi.
- Aqui perto só há o moinho abandonado e, só pode ser lá o armazém.
- Temos que lá ir e tentar descobrir alguma coisa.
Na manhã seguinte, os irmãos saíram de casa e a correr, aproximaram-se do moinho. Lá, ouviram uns barulhos estranhos e uma voz.
- Zeca, já arrumei o nosso último serviço.
- Num tarda, temos que arranjar outro armazém. Fred, vem ajudar a fechar a porta.
- Vou só ligar ao Chico para ele tentar já começar a procurar compradores.
Segundos depois, ouviram a mesma voz.
“O serviço está feito. Quando quiseres, podes começar a vender.”
Continuando a achar as conversas estranhas, Daniel aproximou-se da porta que, não tinha fechado completamente. Espreitou para o interior do moinho e viu lá muitos caixotes de diversos tamanhos.
A correr, Daniel aproximou-se da irmã.
- Vamos embora! Depressa!
A correr, afastaram-se e ao chegarem à Praça Funil, pararam.
- O que aconteceu!?
- O moinho está cheio de caixotes. Uns grandes e outros mais pequenos.
- Vamos falar com o Dunas. Como ele é pastor, pode saber o que se passa no moinho.
- Sim. Vamos.
A correr, foram até casa do amigo e, encontraram-no na varanda.
- Olá Dunas.
- Olá rapaziada. O que se passa!? Parece que estão assustados.
- Sabes porque é que o velho moinho está cheio de caixotes?
- Caixotes!?
- Sim. De vários tamanhos.
- Estranho! O velho moinho foi abandonado à tanto tempo que, lá dentro só deviam estar teias de aranha.
- E não é só isso.
- Pois. Vimos dois homens entrarem para lá e, ouvimos-los a falar de um serviço e da venda de algumas coisas.
- Isso é muito estranho.
- Então, não sabes o que se passa por lá?
- Não. Na última vez que lá fui, não vi nem ouvi nada.
- O que achas que podemos fazer?
- Eu e o Daniel vamos lá e tu, ficas por aqui à nossa espera. Se demorarmos muito, chama a policia e vão ter connosco.
- Não têm medo?
- Temos. Mas, vamos ser fortes.
- Então, está bem.
- Vamos lá, Daniel.
- É para já.
Então, os amigos afastaram-se e Núria ficou ansiosa.
Ao chegarem perto do moinho, Dunas e Daniel esconderam-se atrás de uns arbustos e ficaram à escuta.
Minutos depois, viram dois homens aproximar-se e, parar mesmo em frente à porta. Então, outros dois homens que estavam lá dentro, saíram.
- Então, já sabem. Vamos despachar o assunto senão o comprador desiste.
- Tem calma. Eu e o Neco levamos algumas caixas e vocês, outras.
- O armazém está aberto?
- Claro que não. A chave está debaixo da pedra amarela que está lá no chão.
- Ok. Vamos então despachar o assunto.
- Vamos lá.
Atentos, Dunas e Daniel não se mexiam e só sussurravam.
- Onde será o armazém?
- Aqui na zona, só há um sitio que pode servir de armazém.
- Diz!?
- O lagar abandonado.
- Tens razão.
- Mas, eu vou até lá enquanto, vais a casa ligar para a policia e depois vais com ele.
- Preferia ir contigo.
- Eu sei Mas, não podemos perder tempo.
- Ok.
Com cuidado, Daniel afastou-se silenciosamente.   
Vendo que a carrinha ainda estava no mesmo local, Dunas afastou-se a correr em direção ao moinho. Enquanto isso, Daniel chegou a casa e, enquanto marcava o número da policia contou à irmã o que tinham descoberto.
- Boa tarde, senhor agente. Estão a usar o velho moinho como armazém para coisas roubadas. Podem ir até lá?
- Boa tarde. Tem a certeza?
- Claro que tenho.
- Não se preocupe que, vou já enviar uma equipa para lá.
- Não demorem.
- Obrigado.
Terminada a conversa, Daniel e Núria saíram de casa a correr e, dirigiram-se para o moinho. 
Lá, viram a carrinha dos ladrões e, olharam para todos os sítios, à procura de Dunas. Segundos depois, ouviram um barulho parecido com o piar dos pássaros e, depois de procurarem a origem do barulho, viram Dunas atrás de umas ervas altas. Cuidadosamente, aproximaram-se dele.
- A policia deve estar quase a chegar.
- Ainda bem. Desde que foste embora, já chegaram mais dois homens e uma mulher. Estão todos lá dentro e, à pouco, deviam estar a comer pois ouvi-os dizer que as sandes estavam quentes.
Segundos depois, Núria viu os carros da policia chegar e foi com o irmão falar com eles.
- Boa tarde.
- Boa tarde, rapaziada. Agora, deixem que nós vamos tratar do assunto.
- Está bem.
Então, os agentes da policia entraram no moinho e minutos depois, saíram com os ladrões já algemados.
- Obrigado pela ajuda, amigos. O moinho está cheio de mercadoria roubada.
- De nada.
- Os negócios destes pilantras já são antigos mas, agora acabaram.
A policia foi embora e felizes, os amigos foram até ao parque Estrelinha onde se sentaram, orgulhosos da ajuda que tinham dado na captura dos ladrões.

quarta-feira, 7 de junho de 2023

O veado Sol

        O dia estava a começar e o sol tentava furar as nuvens que, teimosas não queriam desaparecer.
Na rua Canelada, morava Gonçalo de 12 anos que, adorava mexer nos seus caracóis louros.  
Naquela manhã, depois de tomar o pequeno-almoço, Gonçalo saiu para a rua. Lá, viu o carteiro Benjamim que sorridente, distribuía a correspondência.
- Bom dia, Gonçalo.
- Bom dia, senhor Benjamim.
- Hoje não vais à escola?
- Não. Os professores têm reunião e não dão aulas.
- Isso é que é sorte. Também gostava que as cartas me dessem uma folga de vez em quando.
- Havia de ser engraçado.
- Mais que engraçado. Era espetacular. Mas, elas não fazem isso e, lá tenho eu que as ir entregar.
- Então continue. Não quero que elas se chateiem.
- E eu também não quero isso. Então, vá. Adeus.
Continuando a andar, Gonçalo passou em frente do café Chilique e, viu que os seus amigos Rodrigo e Liliana lá estavam. Esperou por eles e, minutos depois, os amigos saíram e viram-no.
- Bom dia.
- Bom dia.
-Querem ir dar uma volta aqui pela aldeia?
- Sim. E aproveitamos e podemos ir ao bosque até ao tronco oco ver se o mocho ainda lá mora.
- Boa ideia.
- Vamos lá então.
Começaram a andar e algum tempo depois chegaram ao tronco oco mas, o mocho não estava lá. Então, olharam para vários sítios mas, não encontraram sinais dele.
Segundos depois, ouviram:
“Oohn, roon”
Sem reconhecerem aquele som de nenhum animal, os amigos ficaram quietos e calados. 
Pouco depois, o som repetiu-se:
“Oohn, roon”
- O que estará a fazer este barulho?
- Não faço ideia.
- Nem eu.
- Vamos seguir o som e ver o que é.
- Estás doido!? E se for algum animal perigoso?
- Aqui no bosque o mais perigoso que podemos encontrar devem ser as doninhas. Mas, duvido que elas estejam por aqui.
- Então vá. Vamos.
Andaram um pouco e, ouviram novamente:
“ Oohn, roon”
- Já devemos estar perto.
- Tens razão. Ouviu-se melhor o barulho.
- Vamos continuar mas, calados.
Em silêncio, os amigos andaram mais uns metros e, viram uns arbustos mexer.
- Parem! O animal deve estar atrás destes arbustos.
- Vamos devagarinho.
Ao chegarem ao arbusto, viram um pequeno veado deitado com uma grande ferida numa das patas dianteiras.
- Coitado.
- Eu vou lá.
- Eu também.
- E eu.
Aos poucos, aproximaram-se ainda mais dele e, viram então que, para além da ferida na pata, também havia outra na orelha esquerda.
“Oohn, roon”
“Oohn, roon”
-Temos que o ajudar. Ele parece estar cheio de dores.
- Mas, como!?
- Podemos levá-lo para o armazém do Chico madeireiro e tratar-lhe das feridas.
- Sim. Tenho a certeza de que ele não se vai importar.
- Então, vá.
- Mas, como levamos o veado?
- Eu vou buscar o carro de mão que tenho em casa.
- Ok.
Rodrigo afastou-se a correr e, enquanto esperavam, os amigos olharam melhor para as feridas do veado.
- A ferida da pata está com muitas ervas.
- Vamos tentar tirá-las.
Com muito cuidado, Liliana e Gonçalo tentaram tirar as ervas da ferida mas, o veado começou a bramar e a tentar fugir.
- Calma. Só te queremos ajudar.
Depois de várias tentativas falhadas, os amigos conseguiram tirar as ervas maiores e mais superficiais.
Pouco depois, Rodrigo regressou e, para além do carro de mão, trazia também algumas frutas e um bocado de tecido.
- Vamos começar. Temos que ter muito cuidado para não o aleijarmos.
  Então, estenderam o tecido no carro de mão e, devagarinho pegaram no veado. Também lentamente, mudaram-no para o carro de mão e, embrulharam-no no tecido.
- Agora, vamos com cuidado para evitar ao solavancos.
Ao longo do caminho, o veado queixou-se algumas vezes mas, os amigos tentavam ter o máximo de cuidado.
Já perto do armazém do amigo, Gonçalo viu que a porta estava aberta. Chegados à entrada, olharam para vários sítios à procura do amigo Chico mas, não o viram.
- Ele tem que estar perto. O armazém está aberto e por isso, ele não deve estar longe.
Segundos depois, ouviram um barulho parecido com o de um trovão e, viram uma nuvem de pó.
- Olá rapaziada. O que andam a fazer?
- Viemos aqui para te perguntar se podemos usar o teu armazém para tratar deste veado.
- Claro que podem. Mas, o que aconteceu?
- Quando o encontrámos no bosque ele já estava assim.
- Deve ter sido outro animal que lhe fez isso.
- Pois deve.
- Mas, vamos lá deixar de conversa fiada e, tratar-lhe das feridas.
Chico foi buscar o estojo de primeiros socorros, começando por desinfetar as feridas e fazendo os curativos. Terminado o trabalho, Liliana abraçou o veado que, aos poucos se levantou e deu uns passos pequeninos.
- Que bom! Daqui a uns dias já vai andar sem problemas.
- Pois vai.
- E agora!? Para onde o vão levar?
- Não sabemos.
- Têm que o levar para um sitio calmo. Nestes primeiros dias, ele não deve andar muito para as feridas cicatrizarem.
- Já sei. Podemos levá-lo para o telheiro da minha avó Hortênsia. Há lá sempre palha e, podemos arranjar-lhe uma cama.
- Parece-me bem. Vão lá levar-lhe comida e, de certeza que ele fica bom depressa.
- Obrigado, Chico.
- Não fui obrigado a nada.
- Adeus.
- Adeus.
- Será que a tua avó não se importa de lá deixarmos o veado?
- Se eu lhe pedir, tenho a certeza que não.
Começaram a andar e, ao chegarem à casa da avó Hortênsia, a Liliana foi falar com a avó.
- Olá avó.
- Olá Liliana.
- Avó, eu e o Rodrigo encontrámos um veado ferido e, fomos ao armazém do Chico fazer-lhe uns curativos. Mas, ele disse que o veado precisa num sitio calmo e sossegado. Então, lembrei-me do teu telheiro. Podemos levá-lo para lá?
- Podem. Vão andando que eu já lá vou ter.
- Obrigado, avó.
- Vão lá.
No telheiro, os amigos começaram a escolher o sitio onde deixariam o veado e, pouco depois, Hortênsia chegou e trazia um cobertor.
- Têm isto aqui para aconchegar o veado.
- Obrigado, avó.
Depois de prepararem tudo, deitaram o veado, cobriram-no e deixaram-no quieto e sossegado.
Os dias foram passando e sempre que podiam, Liliana e Gonçalo iam visitar o veado.
Numa tarde em que viram o veado a levantar-se sozinho, abraçaram-no felizes.
- Temos que lhe dar um nome.
- Pois é.
- Já sei!
- Então!?
- O que achas de Sol?
- É lindo.
- Então, é o Sol.
- Adoro.
Nos dias que se seguiram, os amigos continuaram a ir sempre visitar Sol e, uma tarde, viram-no a andar e a pular sem dificuldades.
- O Sol já está bom.
- Pois está.
- E agora!?
- Agora temos que o deixar ir.
- Vou ter muitas saudades.
- Eu também. Mas, ele não pode ficar aqui preso.
- Tens razão.
- Amanhã, vamos levá-lo ao bosque e, deixá-lo ir procurar a família.
- Sim. Eles devem estar com muitas saudades.
- Pois é.
- Então, vou tirar-lhe umas fotografias com o telemóvel para ficarem de recordação.
- Exato.
Depois das fotografias, os amigos foram para as suas casas.
No dia seguinte, Gonçalo e Liliana encontraram-se no alpendre e viram Sol deitado.
- Bom dia, Sol.
- O que será que ele tem?
- Deve ter percebido que tem que ir embora.
- Mas, ele pode continuar a ser nosso amigo.
- Pois pode. Mas, ele está triste mesmo assim.
- As despedidas são sempre difíceis.
- Então, o melhor é despacharmos-nos senão, ainda começo a chorar.
- Vamos lá então.
Então, levaram Sol até à entrada do bosque e soltaram-no. Ele, afastou-se a correr e a saltar e, com lágrimas nos olhos, os amigos acenaram-lhe adeus.
Enquanto se afastavam, os amigos encontraram Benjamim.
- O que se passa, rapaziada?
Liliana contou tudo o que tinha acontecido desde que encontraram Sol e, o carteiro ouviu atentamente.
- Não fiquem assim. Pode ser que o voltem a ver.
- Duvido.
- E eu também.
De regresso às suas casas, os amigos só conseguiam pensar em Sol.
No dia seguinte, Rodrigo foi à fonte da aldeia e, viu algumas ervas abanarem. Olhou melhor e, foi surpreendido por Sol que, encostou logo o focinho ao amigo.
Feliz, Rodrigo abraçou-o e, telefonou aos amigos, a marcar um encontro no Chilique.
Sem imaginarem qual seria a razão para o encontro, os amigos foram até lá. Ao chegarem, viram Sol e abraçaram-no felizes.
A partir desse dia, Sol ia diariamente visitar os amigos e, levava-os a locais muito bonitos no bosque.

quarta-feira, 10 de maio de 2023

A festa dos animais

        Numa manhã cinzenta, toda a floresta Verdasca estava triste e os animais não saíam das suas tocas e abrigos. 
Na grande caverna do urso Tóbi, ele e os esquilos Kiko e Kóki conversavam.
- Hoje não podemos apanhar avelãs.
- Nem andar a passear pelas árvores.
- Está um dia triste e só apetece ficar quieto em casa.
- Tu tens sorte pois a tua casa é grande. A nossa é muito pequena e não podemos fazer nada.
- O que querem fazer?
Depois de pensarem um bocado, Kóki sorriu.
- O que acham de fazermos uma festa?
- Sim!!!
- E podemos chamar os outros animais para participarem.
- Exato.
- Vou dizer ao papagaio Chóli para espalhar a noticia da festa.
Enquanto isso, Kiko e Tóbi começaram a preparar a festa. Enfeitaram-na com flores e plantas, apanharam alguns frutos e esperaram que os amigos e os outros animais chegassem à caverna.
Algum tempo depois, Kóki regressou na companhia do castor Zuca, do veado Fira e da raposa Tafa. 
- Vamos fazer uma grande festa.
- O que podemos fazer?
- Não é preciso fazerem nada.
Pouco depois, um bando de pássaros entrou na caverna.
- Aqui estamos, prontos para animar a festa.
Segundos depois, mais alguns animais chegaram à caverna, entre eles, a coelha Fira que vinha muito apressada.
- A tartaruga Sofi está a chorar!
- Porquê!?
- Como anda muito devagar, não vai conseguir chegar a tempo.
- Temos que a ajudar.
- Mas, como!?
- Temos que pensar numa solução.
Olhando para os amigos, Tóbi pensava em silêncio.
- Já sei!
- O quê!?
- A maneira de trazer a Sofi até nós.
- Como!?
- A Repa é a mais rápida de todos…
Nesse momento, Repa apareceu com mais flores.
- Repa, tens que ir buscar a Sofi que, está longe.
- Eu não. Estou zangada com ela e não a vou buscar!
- Esta festa é para todos os animais e, não podemos deixar nenhum de parte.
Kiko aproximou-se e olhou muito sério para Repa.
- Todos nós moramos nesta floresta e precisamos uns dos outros. Vamo-nos lembrar do que significa mesmo a palavra amizade.
- Mas, como faço para a encontrar?
- Os pássaros vão contigo e ajudam-te.
- Está bem.
Poucos segundos depois, vários pássaros levantaram voo e conduziram Repa até Sofi que, chorava.
- Sofi, sobe para as minhas costas pois, a festa espera-te.
- Já não estás zangada comigo?
- Não. Vamos esquecer a zanga e, continuar a amizade que tínhamos antes.
Feliz, Sofi subiu para as costas de Repa e rapidamente chegaram à festa.
Ao verem as amigas chegar, Tóbi começou a bater as palmas e todos os outros convidados também.
Após o inicio da festa, mais animais  apareceram e a diversão foi muito grande.
No final da festa, todos cantaram e bateram as palmas felizes pela amizade que tinham entre todos.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

A princesa Carlota

        No alto do monte Fugido, o castelo Florido, com as suas altas torres parecia tocar o céu.
Lá, morava o rei Zerpelino, a rainha Georgina e a princesa Carlota que, adorava sentar-se na beira do lago Azul e ver os peixinhos que pareciam dançar.
Numa tarde de outono, enquanto brincava com o seu gato Pipas, Carlota olhou para os seus pés e viu que os dedos tinham formas esquisitas e estavam cheios de borbulhas.
- Os meus pés são horríveis. Parecem dois lagartos velhos, cheios de escamas e marcas – disse ela.
Ao acabar de dizer isto, Carlota olhou novamente para os pés.
- Parecem os dedos das bruxas.
Abraçada a Pipas, Carlota pensava numa solução para o seu problema e viu um fumo esquisito no meio da floresta.
Subindo até à torre de vigia, viu a casa de onde o fumo saia e, estranhando nunca a ter visto, foi ter com a mãe.
- Mãe!? Quem mora na casa da floresta? - perguntou ela.
- Nessa casa. Mora a bruxa Gabriela e o seu ajudante Supimpas – respondeu a mãe.
Sem pensar duas vezes, Carlota saiu a correr e foi para a floresta, decidida a falar com a bruxa.
Ao chegar perto da casa, Carlota viu várias vassouras e também alguns chapéus pontiagudos pendurados num cordel.
Abraçada a Pipas, Carlota sentia uma mistura de curiosidade e medo mas, decidiu não desistir e cautelosa, tocou à campainha. Pouco depois, a porta abriu-se e Carlota viu um anão que vestia roupas muito coloridas e brilhantes. 
- Quem és tu e o que queres? - perguntou Supimpas.
- Eu sou a princesa Carlota e queria falar com a bruxa Gabriela – respondeu ela.
- Mas, que queres falar? - perguntou Supimpas.
- Quero-lhe perguntar se tem alguma poção que, me faça ter uns pés bonitos – respondeu Carlota.
- Eu vou falar com ela e pergunto-lhe – disse Supimpas.
A correr, Supimpas afastou-se e alguns minutos depois, regressou.
- A Gabriela diz que tem a solução. Anda comigo – disse Supimpas.
Sentindo um arrepio, Carlota foi atrás de Supimpas e por fim, chegaram ao pé de Gabriela que, com um vestido negro, agitava alguns frascos.
- Está aqui a Carlota.
Gabriela pousou os frascos e olhou muito séria para Carlota.
- Vou fazer-te uma poção que, vai tornar os teus pés mais bonitos que os da Cinderela – disse ela.
Depois de pegar em alguns pós, Gabriela começou a preparar a poção.
- Ratati, Ratatá
Rinhonhi, Rinhonhela  
Que os pés da princesa Carlota  
Fiquem melhores que os da Cinderela.
Acabadas as palavras, uma grande nuvem de pós envolveu os pés de Carlota e ela, começou a sentir um calor esquisito neles.
Quando a nuvem desapareceu, Carlota olhou para os pés e viu que estavam iguais.
- Porque é que estão iguais? - perguntou ela, triste.
- A magia demora a fazer efeito e, só amanhã é que eles ficam bem – respondeu Gabriela.
Acreditando na explicação, Carlota despediu-se.
- Até amanhã. Vou-me embora esperar que a magia aconteça – disse Carlota.
Ao regressar ao castelo, Carlota não contou a ninguém o que tinha feito e, esperava ansiosa pelos resultados.
No dia seguinte, ao acordar, Carlota olhou para os pés e viu que, continuavam iguais. 
- Está tudo igual. Continuo com os pés horríveis – disse ela.
Não conseguindo evitar o choro, Carlota sentia-se horrível e só tinha vontade de desaparecer. Abraçada a Pipas, ela foi para o jardim e continuando a chorar, sentou-se a observar as flores.
Alguns minutos depois, apareceu uma nuvem brilhante que pousou na margem do repuxo. Ao olhá-la mais atentamente, Carlota viu surgir uma fada ainda mais brilhante e com um lindo vestido.
Sem conseguir falar, Carlota ouviu a fada dizer:
- Não chores.
- Choro porque tenho os pés mais feios de sempre – disse Carlota.
- Eu sou a fada Aliane e vou-te ajudar – disse ela.
- Ninguém me pode ajudar. Já fui à bruxa Gabriela mas, nem ela conseguiu que ficassem bem – disse Carlota.
Interrompendo-a, Aliane sorriu.
- Vai ter comigo à estátua redonda e, vou-te provar que consigo o que desejas – disse Aliane.
No momento em que Carlota se preparava para fazer mais uma pergunta, Aliane sorriu-lhe.
- Espero lá por ti.
Confusa com o que tinha acontecido, Carlota pegou em Pipas e foi até à beira da estátua redonda. Lá, começou a aparecer uma luz muito brilhante e segundos depois, apareceu Aliane.
- Já está tudo preparado.
Nesse momento, apareceram várias borboletas que rodearam Carlota e então, Aliane abriu e fechou as mãos.
- Patati, pataté. Rinhonhi, rinhonhé. Transforma estes pés.
Rapidamente, Carlota sentiu um frio gelado nos pés e, num piscar de olhos as borboletas desapareceram.
Ao olhar para os seus pés, Carlota viu-os bonitos e brilhante e sem qualquer marca do que eram antes.
Sorrindo, Carlota olhou para a estátua redonda e, onde estava Aliane, estava agora uma bonita coroa de flores.

Pegando-lhe, Carlota colocou-a na cabeça e, a partir desse dia, esqueceu a tristeza e tudo a deixava feliz e contente.

domingo, 29 de janeiro de 2023

Um Cão Especial

Rodeada por longos campos de papoilas, a aldeia Pingada era a mais bonita dos arredores. Felizes, os seus habitantes adoravam cuidar dos seus jardins e mostrá-los com orgulho a todos os visitantes. Perto do repuxo da praça Plim Plim, o quiosque Pinguinhas mostrava os jornais que revelavam as noticias mais recentes e o vendedor Ambrósio, sorria e saudava quem passava perto. 
- Bom dia, dona Filó. Bom dia, Ambrósio. Temos noticias frescas?
- Frescas não, fresquíssimas!
- Tem que ser.
- Exatamente.
- Tenho que ir. Adeus.
- Adeus.
Segundos depois, um cão aproximou-se e parou a olhar para Ambrósio.
- Também queres ler um jornal? Tenho o Futebolas ou, preferes outro?
“Au!! Au!!”
- Estou a ver que não é o teu género. Se preferes de fofocas, tenho aqui tantas revistas que, nem sei o nome de todas.
“Au!!Au!!”
- Também não. Então, só resta política.
Nesse momento, a dona Marieta aproximou-se.
- Olá Ambrósio. Já falas com o cão?
- Olá. Estava a perguntar-lhe o que é que ele queria ler mas, parece-me que ele é sempre do contra.
- Em vez de ler, ele deve querer é comer. Já são 12:30 e, ele ainda não deve ter comido nada hoje.
- Por falar em comer, é o que vou fazer.
- Tem que ser. Bom almoço.
- Adeus.
Segundos depois, Ambrósio pegou na sua sandes de presunto e começou a comê-la. Enquanto isso, o cão continuava sentado à frente do quiosque. Então, Ambrósio tirou um bocado da sua sandes deu-o ao cão que o comeu rapidamente.
- Estou a ver que o que querias era comida.
“Au!!Au!!”
Minutos depois, a dona Ernestina aproximou-se.
- Boa tarde, Ambrósio.
- Boa tarde. Precisa de alguma coisa?
- Precisar até preciso.
- Então diga. Talvez a possa ajudar.
- A minha netinha vai hoje lá a casa e, queria dar-lhe uma prenda. Mas, não sei o quê.
- Que idade é que ela tem?
- Tem 2 anos e meio.
- Com essa idade, as crianças gostam de coisas coloridas. Acho que tenho ali um livro indicado para ela.
- Mostre-me.
Ambrósio virou-se e alguns segundos depois, mostrou à dona Ernestina um livro com capa fofa e colorida onde, as personagens podiam ser mudadas de lugar.
- Neste livro, para além das cores garridas, ela pode mexer em tudo sem qualquer perigo.
- É o que vou levar. Obrigado.
Depois da venda, Ambrósio voltou a ficar sozinho com o cão.
Minutos depois, chegaram à praça duas crianças que a correr, subiram para a borda do repuxo. Pouco tempo depois, ouviu-se um “splash”, seguido do barulho de algo a bater na água “tchap!tchap!” Nesse momento, o cão começou a correr e a ladrar e, ao chegar ao repuxo, saltou lá para dentro. Então, mordeu o carapuço da criança e puxou-lhe a cabeça para fora de água.
Ambrósio aproximou-se a correr e pegou na criança, tirando-a para fora.
Nesse momento, a mãe das crianças aproximou-se a correr.
- João!!! João!!!
- O seu filho está aqui. Molhado e assustado mas, bem.
- Oh! Obrigado. Muito obrigado.
- O agradecimento não é para mim mas sim, para este cão.
- Como!?
- Isso mesmo. Este rafeiro foi a primeira ajuda que o seu filho teve.
- Isso é impossível.
- Não é não. Ele, assim que percebeu que o seu filho precisava de ajuda, correu para cá e saltou lá para dentro onde, pelo carapuço , puxou a cabeça do menino para fora de água. Eu, apenas o tirei para fora.
- O meu João, foi salvo por um cão. Parece uma história.
Já mais calmo, João abraçou o cão.
- Mãe, podemos ficar com ele?
- Se o dono deixar.
- Ele não tem dono. Só costuma estar aqui a fazer-me companhia.
- Então, podemos?
- Claro que sim.
- Boa!!
- Que nome lhe vão dar?
- Já sei!
- Então?
- O quiosque é o Pinguinhas e ele, vai ser o Pingas.
- Boa ideia.
- Só quero pedir uma coisa.
- O quê!?
- De vez em quando, venham cá com ele para que fique a saber as noticias do mundo.
Todos se riram felizes e assim, o Pingas encontrou uma família que o passeava e levava ao quiosque onde Ambrósio o recebia muito feliz.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

O Cavalinho Mágico

    A manhã começou com o sol a tentar furar as nuvens e, toda a aldeia Pirraça despertava.
Numa pequena casa da rua Rodinhas, Daniel de 9 anos acordou e, preparou-se para ir para a escola.  No percurso, encontrou o amigo João e foram juntos o resto do caminho.
Durante as aulas, Daniel esteve o mais atento que conseguiu.
Ao regressar a casa, a mãe Leticia e o pai Gustavo aproximaram-se com um saco azul decorado com um grande laço vermelho.
- O que é isso? - perguntou o Daniel.
- É uma prenda que a tia Clarabela enviou para ti – respondeu a mãe.
Feliz, Daniel abriu-a rapidamente e viu um bonito cavalo de baloiço branco com, algumas estrelas douradas. Maravilhado, Daniel sentou-se e começou a baloiçar.
Segundos depois, apareceu uma nuvem muito brilhante e bonita.
Instantaneamente, Daniel esfregou os olhos e quando os voltou a abrir, viu o cavalinho a sorrir.
- Olá Daniel – disse o cavalinho.
- Olá – respondeu o Daniel.
- Queres ir comigo ao Mundo Encantado? - perguntou o cavalinho.
- Eu não posso. Tenho que fazer os trabalhos da escola – respondeu o Daniel.
- Então, vai fazê-los depressa para irmos – disse o cavalinho.
- Vou já – disse o Daniel.
Algum tempo depois, Daniel regressou para ao pé do cavalinho.
- Já fiz tudo – disse ele.
- Então, podemos ir – disse o cavalinho.
Nesse momento, a nuvem brilhante voltou a aparecer e, envolveu Daniel e o cavalinho, transportando-os para a beira de um lago.
Depois de olhar para todos os lados, Daniel viu o cavalinho caído no chão e aproximou-se.
- Estás bem? - perguntou ele.
- Sim – respondeu o cavalinho.
- Onde estamos? - perguntou o Daniel.
- Estamos no Mundo Encantado. Aqui, a magia anda no ar e a alegria está sempre presente- respondeu o cavalinho.
- Quem mora aqui? - perguntou o Daniel.
- Aqui vivem todas as personagens das histórias encantadas – respondeu o cavalinho.
- As personagens das histórias? - perguntou o Daniel.
- Sim. Se olhares para o lago, vês ali ao fundo o patinho feio e, atrás daquele monte estão as casas dos três porquinhos – explicou o cavalinho.
- Posso ir ver? - perguntou o Daniel.
- Claro que sim. Vamos – disse o cavalinho.
Começaram a andar e enquanto subiam o monte viram sete anões a apanhar flores.
- Olá amigos – disse o cavalinho.
- Olá – responderam todos em coro.
- Este é o Daniel e estou-lhe a mostrar o nosso mundo encantado – disse o cavalinho.
- Nós somos o Dunga, o Zangado, o Mestre, o Dengoso, o Soneca, o Atchim e o Feliz e, estamos a apanhar flores para a Branca de Neve – disse o Dunga.
- Onde está a Branca de Neve? - perguntou o Daniel.
- Está em casa a preparar um bolo para os anos do Atchim– respondeu o Soneca.
- Quantos anos é que ele faz? - perguntou o Daniel.
- Não sabemos ao certo. Acho que faz cento e muitos – respondeu o Mestre.
- Já é muito velho – disse o Daniel.
- Aqui, a idade não tem importância – disse o Mestre.
- A Capuchinho Vermelho, continua a ser uma criança mas, já deve ter quase 100 anos – disse o Feliz.
- E o lobo mau? - perguntou o Daniel.
- Esse, nunca nos diz a idade mas, já deve ter quase 100 anos – respondeu o Zangado.
- Este mundo é fantástico. Ninguém fica velho – disse o Daniel.
- Pois não – disse o Soneca.
Nesse momento, uma menina aproximou-se a correr.
- O meu irmão está com muitas dores de barriga – disse ela.
- Onde é que ele está? - perguntou o Dunga.
- O Hansel está atrás do Grande Plátano – respondeu a Gretel.
- Vamos lá – disse o Mestre.
Alguns minutos depois, ao chegarem ao Grande Plátano, viram então Hansel a chorar.
- Como estás? - perguntou o Dunga.
- Estou com muitas dores de barriga – respondeu Hansel.
- O que comeste? - perguntou o Mestre.
- Comi um bocado da casa de chocolate – respondeu Hansel.
- A casa de chocolate já é muito velha e por isso, faz mal à barriga – disse o Mestre.
- Tens que ser menos guloso – disse a Gretel.
- Vou tentar – disse Hansel.
Enquanto isso, viram alguém a fugir de uma multidão de homens. Assustado, Daniel olhou para o cavalinho.
- O que se passa? - perguntou o Daniel.
- É o Ali-Babá que está a fugir dos 40 ladrões – respondeu o cavalinho.
Felizes, Daniel e o cavalinho andaram um pouco e, viram em cima de umas ervas um lindo brilhante sapato.
- Algo me diz que o sapato é da Cinderela – disse o cavalinho.
- Como é que ela o perdeu? - perguntou o Daniel.
- Ela é muito distraída e, deve ter estado até tarde a brincar no lago e depois, deve ter ido com tanta pressa para casa que, se esqueceu – disse o Soneca.
- Por sorte não passou aqui o Gato das Botas senão, já o tinha roubado – disse o cavalinho.
Depois de andarem alguns metros, viram uma grande caixa de vidro vazia, rodeada de flores.
- O que é isto? - perguntou o Daniel.
- Foi aqui que a Bela Adormecida esteve a dormir, antes de o príncipe a acordar – respondeu o Feliz.
Enquanto olhavam para a caixa, ouviram:
“Pára! Pára!”
Segundos depois, ouviram ainda:
“Quem quer casar com a Carochinha que é formosa e bonitinha!?”
- A Carochinha continua à espera do noivo – disse o Atchim.
- Todos os dias são iguais. Ela chama, chama mas, põe defeitos em tudo e por isso, não encontra noivo – disse o Dengoso.
- Qualquer dia encontra alguém – disse o Daniel.
- Ela queria o patinho feio que agora está muito bonito mas, ele não quer nada com ela – disse o Soneca.
Feliz, Daniel viu que se tinha formado um arco-íris. 
-Tão bonito – disse ele.
- Está na hora de regressarmos a casa – disse o cavalinho.
Instantaneamente, a nuvem brilhante apareceu e, depois de envolver Daniel e o cavalo, levou-os para o quarto onde os deixou.
Ao abrir os olhos e vendo que já estava no seu quarto, Daniel olhou para o cavalo de madeira que, lhe piscou o olho enquanto baloiçava.
Feliz, Daniel sorriu e nunca esqueceu a viagem onde, a fantasia e a imaginação estavam bem presentes.