sexta-feira, 11 de abril de 2014

A Boneca Das 8 Saias

         Numa manhã de sol brilhante, as irmãs Rita de oito anos e Mariana de nove brincavam felizes com os seus nenucos. Enquanto se divertiam, a mãe Lúcia apareceu e disse-lhes:
         - Filhas, a tia Gertrudes telefonou e pediu para lá irem. Acho que tem lá uma prenda para vos dar.
         Rapidamente, Rita e Mariana saíram a correr e chegaram a casa da tia que feliz, lhes disse:
         - Olá meninas.
         Rita e Mariana responderam:
         - Olá.
         Continuando a conversa, Gertrudes disse:
         - Como já devem saber, pedi para cá virem pois tenho uma surpresa para vocês.
         Abrindo uma caixa, Gertrudes tirou de lá uma boneca e entregando-a às irmãs, disse:         - Esta boneca é para vocês. Tratem-na bem e deêm-lhe muito carinho.
         Felizes e agradecidas, as irmãs regressaram a casa e no quarto, Mariana disse:
         - Temos que lhe dar um nome.
         Concordando, Rita disse:
         - Pois é.
         Pouco depois, Mariana sugeriu:
         - Que tal, o nome Ema!? É tão fofinho.
         Rita concordou, dizendo:
         - Pois é. Fica então a ser a nossa boneca Ema.
         Preparadas para brincar, as irmãs começaram por pentear a boneca e viram que ela tinha oito saias. Curiosas, observaram-nas e viram que cada uma tinha as cores de uma bandeira.
         Enquanto reconheciam os diversos países, a boneca mexeu os braços e disse:
         - Olá Rita e Mariana.
         Surpresas por Ema falar, Mariana perguntou:
         - Tu falas!?
         Ema respondeu:
         - Falo e posso contar-vos coisas muito interessantes.
         Sem imaginar o que a boneca lhes poderia contar, Rita perguntou:
         - O que nos podes contar?
         Sorrindo, Ema respondeu:
         - Posso contar-vos como são os vários países que já visitei.
         Mariana perguntou:
         - Já visitas-te muitos?
Ema respondeu:
         - Já visitei oito. E tenho uma saia com a bandeira de cada um.
         Curiosa, Rita perguntou:
         - Como são esses países?
         Ema explicou:
         - Cada país é diferente nos hábitos e costumes. Na Inglaterra, gostam muito de chá e são muito supersticiosos. Para eles, tocar na madeira ou cruzarem-se com um gato preto é sinal de boa sorte mas passar por baixo de uma escada, entornar sal ou partir um espelho já é sinal de má sorte. Na Grécia, adoram teatro de marionetes, cinemas e discotecas e pensam que o alho afasta gripes e vampiros e, o olho grego é sinal de boa sorte. Na Suiça, adoram atividades ao ar livre e são muito cuidadosos com o lixo. Andam muito de bicicleta, comem muito chocolate, queijo, pão e adoram desporto. Em Itália, há a Torre de Pisa e o Coliseu De Roma que são sitios muito bonitos. Mas lá, o melhor é a comida com as pizzas, as lasanhas e as pastas. Não gostam de gatos pretos, nem de passar por baixo de escadas pois pensam que dá azar.
         Interrompendo, Mariana disse:
         - Tu sabes muitas coisas.
         A boneca Ema respondeu:
         - Sei e vou continuar a contar-vos coisas. Na França, quando entram em casa, descalçam-se e fazem sempre a separação do lixo para terem sorte. Mas, quando vêm um gato branco à noite, dizem que é azar. Na Holanda, acham que o cabelo ruivo traz infelicidade e quando alguém se casa, plantam um pinheiro à frente da casa para dar boa sorte. Em Espanha, dizem que dá azar cruzar com um gato preto e partir um espelho. Adoram dançar o flamenco e ver as touradas e, acham que se a palma da mão der comichão é sinal de que vão receber dinheiro. No Luxemburgo, acreditam que ver uma borboleta voar dá sorte, assim como usar meias brancas. Azar é partir um espelho e passar por baixo de uma escada.
         Sorrindo, Rita disse:
         - E quais são as superstições portuguesas?
         Ema respondeu:
         - Já sei que em Portugal, quando à noite se varre a casa para a rua e as corujas cantam é mau mas, se entornam vinho na mesa e se vestem o casaco às avessas, é sinal de sorte.
         Feliz, Mariana disse:
         - Tu sabes mesmo muitas coisas.
         Ema respondeu:
         - Eu sou uma viajante que anda sempre a aprender.
         Olhando para a boneca, Rita perguntou:
         - Mas, agora que te vai acontecer?
         Ema respondeu:
         - Agora, vou ficar aqui um tempo a aprender coisas de Portugal e, quando já souber mais vou para outro país.
         Quase a chorar, Mariana perguntou:
         - E depois ficamos sem ti?
         Ema sorriu e respondeu:
         - Quando eu for embora, deixo cá uma boneca igual a mim que também vos irá fazer companhia.

         A partir desse dia, as irmãs brincavam sempre com Ema e no dia em que a viram ir embora, ficaram com uma igual que trazia no seu vestido, uma bela fotografia de todas reunidas a brincar.

A Rosa Eterna


            Numa casa da aldeia Pirussas, morava Ana e os seus pais Ema e Ivo.
            Enquanto procurava um livro, Ana encontrou uma rosa numa gaveta.
            Aproximando-se da mãe, perguntou:
            - Mãe, que flor é esta?
            A mãe respondeu:
            - Essa flor ofereceram-ma quando nasceste.
            Surpresa por a flor estar tão bonita, Ana perguntou:
            - Como é que ela não está murcha?
            Ema explicou:

            - Ela é mágica e enquanto formos uma familia unida e amiga, são os nossos sentimentos que a mantêem viva. 

Os Bolinhos Da Avó Miquelina

            Numa bonita casa da aldeia Luminosa moravam as irmãs Sandra e Susana de 7 e 9 anos.
            Como estavam de férias, as irmãs iam muitas vezes para casa da avó Miquelina onde podiam brincar com outras crianças e onde se divertiam a correr e a saltar.
            Uma manhã, quando chegaram à cozinha da avó, Sandra e Susana viram em cima da mesa algumas taças e colheres perguntaram:
            - Que estiveste a fazer, avó?
            Miquelina respondeu:
            - Estive a fazer uns bolinhos para vocês.
            Sorrindo, Susana disse:
            - Que bom! Vamos adorar.
            Alguns minutos depois, Miquelina retirou os bolinhos do forno e colocou-os em cima da mesa, onde os enfeitou com coloridas pintarolas e bonitas estrelas de açúcar.
            Com os bolos agora ainda mais bonitos, Sandra disse:
            - Estão muito bonitos.
            Miquelina disse:
            - Para as minhas netinhas, tinham mesmo que ficar muito bonitos.
            Depois de os bolinhos arrefecerem um bocado, Sandra e Susana provaram-nos e deliciadas exclamaram:
            - Estão ótimos!
Curiosa, Susana perguntou:
- Avó, podemos também fazer uns?
Sorrindo, Miquelina respondeu:
- Claro que podem. Venham buscar dois aventais e eu vou-vos ensinar.
Já com os aventais, Sandra e Susana ouviram a avó dizer:
- Em primeiro, temos que separar as claras das gemas e bater as claras em neve. Depois, bater as gemas com a margarina e o açúcar e vamos juntando o leite e a farinha. A seguir, juntamos as claras e o fermento. No fim, espalhamos a massa por várias formas untadas e vão ao forno.
Susana olhou para a irmã e disse:
- Vamos começar.
Seguindo as indicações de Miquelina, as irmãs fizeram os bolinhos e felizes viram-nos a crescer e a ficarem cozidos no forno.
Ao retirá-los, Miquelina deu-os a provar às netas e estas, ao engolirem o primeiro bocado fizeram umas caras de desagrado.
Miquelina perguntou:
- Então!? Como estão os bolinhos!?
Sandra respondeu:
- Não estão nada parecidos com os teus. Têm um sabor esquisito e ficaram com uma forma estranha.
Miquelina disse:
            - Foi hoje a primeira vez que vocês cozinharam e no princípio é muito difícil que tudo corra bem. Eu, quando comecei a fazer estes bolos também não foi fácil e, depois de várias tentativas é que percebi o que estava a fazer mal.
Curiosa, Susana perguntou:
- O que era?
Miquelina olhou para as netas e disse:
- Qualquer bolo ou cozinhado tem que ser feito com carinho e com delicadeza. Temos que ser meigos e nesse caso, tudo vai correr bem.
Espantadas com o que estavam a ouvir, Sandra perguntou:
- Como podemos fazer isso!?
Miquelina respondeu:
- Isso é uma coisa que vocês é que têm que descobrir.
Pensando nas palavras da avó, Susana disse:
- Vamos tentar outra vez.
Sorrindo, Miquelina foi buscar os ingredientes e Sandra e Susana começaram a preparar a massa dos bolinhos. Quando Susana começou a bater suavemente as claras, Sandra foi bater as gemas com a margarina e o açúcar. Enquanto fazia isso, disse:
- Meu bolinho bonitinho, espero que fiques bem feitinho.
Depois de juntar o leite e a farinha disse:
- Com estes ingredientezinhos vais ficar mesmo bonitinho.
Quando juntou as claras e o fermento, Susana disse:
- Agora com estes dois ingredientes, vamos todos ficar sorridentes.
Ao espalharem a massa pelas formas, Sandra e Susana ajudaram a avó a lavar a loiça e ansiosas, esperaram que os bolos ficassem cozidos.
Depois de Miquelina retirar os bolinhos do forno, Sandra e Susana enfeitaram-nos e depois de os deixarem arrefecer, provaram-nos. Desta vez, as irmãs sorriram e Susana disse:
- Agora estão iguais aos que a avó faz.
Sorrindo, Miquelina provou um e disse:
- Não estão iguais. Estão melhores!
Olhando para a avó, Sandra disse:
- Melhores não podem estar. A avó tem mais prática e nós não temos nenhuma.
Pegando nas mãos das netas, Miquelina disse:
- Como vos disse, os bolinhos precisaram foi de sentir que estavam a ser importantes. A vossa vontade de os fazer bem, também ajudou e só assim, é que foi possível que ficassem tão bons.
Susana olhou para a avó e disse:
- Agora já podemos fazer mais bolos.
Sandra disse:
- Sim. Se a avó nos ensinar outras receitas, tenho a certeza de que vão ficar muito boas.
Sorrindo, Miquelina disse:
- Meninas, eu posso ensinar-vos várias receitas mas, lembrem-se mostrem carinho e vão ver que tudo vos corre bem.

A partir desse dia, Sandra e Susana começaram a perceber que a força interior existente nas pessoas, é capaz de transformar várias coisas e de ajudar a tornar os sonhos realidade.

O Sapateiro Pobre

Durante as férias, numa manhã de sol os amigos João, Lara, Filipe e Joana de 8 anos passeavam divertidos pela praça Rebola da aldeia Segredo.
            Ao chegarem à beira do lago do parque Suspiro, Lara viu uns patos recém nascidos e disse:
            - Que bonitos! Tão fofinhos e amorosos.
            Concordando, Filipe disse:
            - Sim. Só apetece pegar-lhes e fazer festinhas.
            Minutos depois, os amigos sentaram-se num banco de jardim e felizes, riam-se.
            Algum tempo depois, Joana olhou para um grande e velho plátano e viu lá perto um sapateiro que concentrado cozia um sapato. Curiosos, os amigos aproximaram-se e João perguntou:
            - Que está a fazer?
            Olhando para os amigos, o sapateiro respondeu:
            - Estou a arranjar sapatos.
            Querendo saber mais, Joana perguntou:
            - Mas, porque está a arranjar os sapatos que as outras pessoas estragaram?
            O sapateiro respondeu:
            - Muitas vezes, as coisas estragadas podem ser arranjadas e é isso que eu faço.
            Sem entender o que o sapateiro tinha dito, Filipe disse:
            - Não percebi nada mas, deve ser uma profissão chata.
            Depois de pousar o que tinha nas mãos, o sapateiro olhou para Filipe e disse:
            - Não é uma profissão fácil mas, como tenho que trabalhar já aprendi a não reclamar. Aqui na aldeia, já todos me conhecem como o Chico sapateiro.
            Sorrindo, os amigos apresentaram-se:
            - Eu sou o João.
            - Eu sou a Lara.
            - Eu sou o João.
            - E eu sou a Joana.
            Depois da apresentação, os amigos olharam para o sapato que Chico estava a arranjar e Joana perguntou:
            - Como é que arranja os sapatos? Lá em casa, quando se estragam não os arranjamos.
            Chico sorriu e respondeu:
            - Um sapato pode-se estragar de várias maneiras mas, em muitos casos os problemas são fáceis de resolver.
            Tirando um sapato de uma saca e mostrando-o aos amigos, Chico disse:
            - Este, só precisa de ser cozido para ficar bom mas, à outros que precisam de cola e de outras coisas. No outro dia, tive que cozer uns que pareciam ter sido mordidos por um cão. Tive que os cozer e colar em vários sítios.
            Olhando fixamente para Chico, João perguntou:
            - Porque escolheu ser sapateiro?
            Chico respondeu:
            - Eu não escolhi ser sapateiro mas, como a vida está difícil e o dinheiro não nasce das árvores tive que começar a trabalhar assim.
            Sorrindo, Joana perguntou:
            - Já é sapateiro á muito tempo?
            Mostrando agora uma expressão séria, Chico respondeu:
            - Já sou sapateiro á 5 meses, desde que descobriram a doença da minha filha Anabela.
            Querendo saber mais, Lara perguntou:
            - O que tem a sua filha?
            Com os olhos cheios de lágrimas, Chico respondeu:
            - A minha filha tem uma doença grave e os tratamentos são caros. Por isso é que tive que começar a trabalhar como sapateiro.
            Sensibilizados com o problema, os amigos perguntaram:
            - Como podemos ajudar?
            Chico respondeu:
            - Como o problema é a falta de dinheiro, vocês não podem ajudar mas, agradeço a vontade.
            Sem saberem o que fazer, os amigos afastaram-se e sentaram-se na beira do lago. Depois de pensarem um bocado, Lara disse:
            - Lembrei-me que a minha avó Dolores sabe fazer uns bolos muito bons. Se calhar, podíamos vendê-los e assim sempre íamos conseguindo algum dinheiro.
            Rapidamente os amigos exclamaram:
            - Boa ideia!
            Preparados para começar, os amigos a casa da avó Dolores e Lara explicou:
            - Avó, conhecemos o sapateiro que está no parque e ele contou-nos que a filha está doente e que não tem dinheiro para a tratar. Por isso, eu e os meus amigos queríamos ajudá-lo e pensámos em vender do bolo que fazes muito bem.
            Feliz por a neta querer ajudar, Dolores foi á cozinha e pouco depois entregou-lhes um saco com bombons e rebuçados, dizendo:
            - Podem levar isto e mais logo venham cá que eu vou fazer o bolo.
            Animados, os amigos dividiram-se pela aldeia e a pouco e pouco começaram a vender as guloseimas.    
            Algum tempo depois, Lara foi a casa da avó buscar o bolo e feliz vendeu-o rapidamente, conseguindo obter 5 euros.
            Mais tarde, quando os amigos se reuniram, foram para casa de Filipe prontos para contar o dinheiro que tinham conseguido amealhar. Depois de o contar e recontar, Joana disse:
            - Neste primeiro dia conseguimos 13,50 euros.
            Contente, Filipe disse:
            - Se continuarmos assim, vai ser fácil.
            Nos dias seguintes, os amigos continuaram a vender as guloseimas e assim iam conseguindo juntar algum dinheiro.
            Numa manhã, os amigos reuniram-se e começaram a contar o dinheiro que tinham conseguido ao longo dos dias e atingiram os 44,75 euros.
            Felizes, fecharam o dinheiro num envelope e dirigiram-se ao parque. Quando lhe entregaram o envelope, Chico disse:
            - Muito obrigado. Com este dinheiro e algum que aqui tenho já dá para a minha filha fazer uma sessão de tratamentos.
            Os dias foram passando e numa tarde em que os amigos passeavam pelo parque, passaram pelo local onde Chico costumava estar e não o viram.
            Ao se aproximarem do quiosque Farripa, Lara perguntou ao vendedor Carlos:
            - Onde está o senhor Chico?
            Carlos respondeu:
            - O Chico foi com a filha fazer uns tratamentos.
Curioso, João perguntou:
            - E sabe se está tudo bem?
            Carlos respondeu:
            - Pelo que sei, os tratamentos estão a ter resultados muito bons. Acho até que a filha dele já está mais livre de perigo.
            Não conseguindo esconder a felicidade, os amigos sentiam-se muito bem pois tinham ajudado alguém a viver.


O Papagaio Da Dona Aurora

         Numa manhã de verão, Carlitos de 8 anos ajudava a mãe Florbela a arrumar a garagem e divertido, distribuía por caixotes as ferramentas do pai Timóteo.
         Enquanto fechava um caixote com fita adesiva, a mãe disse-lhe:
         - Carlitos vou a casa da dona Aurora pedir-lhe uma vassoura emprestada. Queres vir?
         Carlitos respondeu:
         - Quero.
         Durante o caminho, Carlitos corria e pulava feliz. Ao chegarem à casa, Florbela bateu à porta e segundos depois, Aurora abriu-a dizendo:
         - Bom dia.
         Florbela respondeu:
         - Bom dia. Queria perguntar-lhe se não tem nenhuma vassoura que me possa emprestar.
         Aurora disse:
         - Tenho ali uma que não uso porque me risca o chão dos quartos. Podes usá-la à vontade.
         Agradecendo, Florbela disse:
         - Muito obrigada.
         Enquanto Aurora foi buscar a vassoura, Carlitos olhou para uma janela e viu lá uma gaiola com um papagaio. Curioso, aproximou-se e disse:
         - Olá papagaio.
         Pousado no seu poleiro, o papagaio respondeu:
         - Olá.
         Surpreso por o papagaio falar, Carlitos perguntou:
         - Como te chamas?
         O papagaio respondeu:
         - Eu sou o Fifas.
         Carlitos apresentou-se:
         - Eu sou o Carlitos e tenho 7 anos.
         Soltando uns sons, Fifas perguntou:
         - Carlitos é nome de gente?
         Carlitos respondeu:
         - É. É o meu nome.
         Fifas soltou mais uns sons e disse:
         - Tens um nariz que parece uma batata.
         Não gostando do que o papagaio lhe estava a dizer, Carlitos disse:
         - E tu ainda estás muito verde, da cor da erva.
         Rapidamente, Fifas disse:
         - Com esse nariz abatatado e esse cabelo despenteado, pareces um espantalho.
         Carlitos disse:
         - Mas eu não estou preso e tu estás.
         Fifas respondeu:
         - Eu estou preso porque sou um animal de estimação e os meus donos tomam conta de mim.
         Carlitos disse:
         - Pois, mas assim não podes sair daí.
         Fifas disse:
         - Eu não quero sair daqui. Lá fora só há pessoas feias como tu.
         Carlitos fez uma careta para o papagaio e disse:
         - Tu é que és feio e mal - educado.
         Enquanto Carlitos olhava o papagaio, Zacarias o marido da dona Aurora chegou e disse:
         - Olá Carlitos. Estou a ver que já conheces o Fifas, o nosso papagaio resmungão.
         Carlitos respondeu:
         - Olá senhor Zacarias. Sim, já conheço o Fifas.
         Zacarias disse:
         - Sabes, o Fifas é muito resmungão e por isso temos que o ter sempre fechado em casa. Já experimentámos de tudo para que ele fique bem comportado mas, nunca conseguimos nada.
         Atento ao que ouvia, Carlitos perguntou:
         - Porque é que ele ficou tão mal educado?
         Zacarias respondeu:
         - O antigo dono só lhe ensinou coisas feias e é por isso que ele se porta assim mal. Já tentei ensinar-lhe a ser bem comportado mas, nunca consegui nada.
         Carlitos olhou para Fifas e disse:
         - Eu, quando me porto mal sou sempre castigado. Se calhar, ele também tem que ser.
         Zacarias disse:
         - Se calhar tens razão. Só não sei é como é que o posso castigar.
         Carlitos disse:
         - Se o deixar uns dias na rua sem comer, pode ser que ele aprenda.
         Zacarias disse:
         - Vou experimentar fazer isso. Pode ser que resulte.
         Nos dias seguintes, Carlitos esteve sempre em casa a brincar. No fim de semana seguinte, voltou a casa da dona Aurora para entregar a vassoura e ao ver Fifas disse-lhe:
         - Olá Fifas.
         Fifas respondeu:
         - Olá.
         Querendo saber se Fifas já estava mais educado, Carlitos perguntou:
         - Como tens passado?
         Fifas respondeu:
         - Tenho passado muito frio e muita fome. Parece que o meu dono se esqueceu de mim.
         Carlitos sorriu e perguntou-lhe:
         - Sabes porque é que ele te está a fazer isto?
         Fifas respondeu:
         - Acho que é por eu ser mal educado.
         Carlitos disse:
         - É por isso mesmo que estás a ser castigado. Tens que começar a ser educado e assim já voltas para dentro de casa.
         Fifas olhou para Carlitos e perguntou:
         - Como é que eu posso ser educado?
         Carlitos respondeu:
         - Tens que começar a ser simpático com as pessoas.
         Fifas perguntou:
         - Como!?
         Carlitos explicou:
         - Não podes dizer coisas feias e quando falares tens que dizer coisas bonitas que as pessoas gostem de ouvir.
         Atento, Fifas perguntou:
         - Que coisas bonitas é que eu posso dizer?
         Carlitos respondeu:
         - Podes dizer que as pessoas são bonitas, que gostavas de ser amigo delas e outras coisas.
         Fifas perguntou:
         - Se eu fizer isso fico bem educado?
         Carlitos explicou:
         - Se fizeres sempre isso, vais ver que com o tempo todos vão gostar de ti.
         Fifas disse:
         - A partir de agora vou tentar ser bem educado.
         Carlitos disse:
         - Não podes tentar. Tens que ser mesmo.
         Depois de dizer isto, Carlitos e a mãe regressaram a casa.
         Dias depois numa tarde de sol, Carlitos foi visitar Fifas mas a gaiola não estava no local habitual e curioso perguntou à senhora Aurora:
         - Onde está o Fifas?
         A dona Aurora respondeu:
         - O Fifas está na cozinha.
         Carlitos perguntou:
         - O que é que ele fez?
         Dona Aurora respondeu:
         - Não sei o que aconteceu mas, ele agora está bem comportado e é muito educado com as pessoas.
         Sorrindo, Carlitos disse:
         - Se calhar ele aprendeu que a má educação não é boa para ninguém.
         Dona Aurora disse:
         - Talvez tenha sido isso. Se quiseres podes ir vê-lo.
         Carlitos disse:
         - Vou lá já.
         Ao chegar à cozinha, Carlitos viu Fifas perto da janela e aproximou-se, dizendo:
         - Olá Fifas.
         Fifas respondeu:
         - Olá Carlitos.
         Sorrindo, Carlitos disse:
         - A dona Aurora disse-me que agora já te portas bem.
         Fifas disse:
         - Sim. Agora acho que já sou bem-educado.
         Carlitos disse:
         - Pelo que a dona Aurora me disse, agora já és muito bem-educado.
         Fifas soltou um som parecido com um sorriso e disse:
         - Obrigado. Sem ti, ainda me portava mal.
         Carlitos sorriu e disse:
         - Não precisas agradecer.
         Fifas disse:
         - Ontem, quando estava na rua passou um menino e eu disse-lhe olá. Ele foi ao pé de mim e disse que eu era muito bonito.
         Feliz, Carlitos disse:
         - Agora já tens outro amigo e, se te continuares a portar bem ainda vais arranjar muitos mais.
         Fifas olhou Carlitos e disse:
         - Eu agora vou ser muito bem-educado e vou fazer muitos amigos.
         Ao regressar a casa, Carlitos foi para o seu quarto desenhar e pintar um papagaio.

         Dias depois, Carlitos foi visitar Fifas e ao ver vários outros pássaros pousados na gaiola, ficou muito feliz por ver que o amigo já não estava sozinho e com a felicidade que sentia, até as suas penas estavam mais brilhantes.