sexta-feira, 3 de março de 2017

Os Instrumentos Mágicos

             
                Numa manhã, enquanto os raios de sol tentavam furar as nuvens, os irmãos Ricardo e Mariana acordavam com muita preguiça. Depois de se prepararem, foram tomar o pequeno-almoço e ouviram a mãe Custódia a atender o telefone.
         - Quando acordarem, digo-lhes – disse ela.
         Depois de desligar o telefone, Custódia foi à cozinha e lá encontrou os filhos.
         - Filhos. A avó Chica ligou a dizer que vai arrumar o sótão e perguntou se vocês a querem ir ajudar – disse ela.
         - Eu quero. Gosto tanto de ajudar a avó – disse Mariana.  
- E eu também. Da última vez, encontrei um pião e ela deu-mo – disse Ricardo.
- Então, acabem de tomar o pequeno-almoço e vão – disse Custódia.
Após terminarem, os irmãos correram até à casa da avó. Lá, abraçaram-na e entusiasmados começaram aos saltos.
- Olá netinhos. Ainda bem que estão cheios de energia pois, temos muito trabalho para fazer – disse a avó, sorrindo.
Já no sótão, começaram por guardar algumas bugigangas em sacos e arrumaram--nos a um canto. De seguida, varreram o sótão e, enquanto limpavam o vidro de uma pequena janela, viram lá ao pé uma arca de madeira muito antiga. Curiosos, tentaram abri-la mas, o fecho enferrujado não facilitou a tarefa.
- Avó! O que está aqui dentro? – perguntou Ricardo.
- Não faço ideia. O vosso avô nunca o abriu para me mostrar o lá está guardado – respondeu Chica.
- Se calhar, está lá algum tesouro – disse Mariana.
- O tesouro deve ser alguma das invenções estrambólicas do vosso avô – disse Chica.
- Mas, podemos tentar abrir? – perguntou Ricardo.
- Claro que sim – respondeu Chica.
Depois de várias tentativas falhadas, Ricardo pegou num ferrito e começou a raspar a ferrugem. Minutos depois, ouviu-se um “click” e Mariana conseguiu abrir o fecho.
Levantando o tampo, os irmãos viram que lá dentro, estavam alguns instrumentos musicais. Pegando num tambor, Mariana começou a tocar mas, o único som que ouviu foi um “ai”.
Surpresa, Mariana largou o tampo que, ao cair fez o mesmo som.
- Quem está aí!? – perguntou ela.
- Sou eu – respondeu o tambor.
- Eu quem!? – perguntou Mariana.
- O tambor que deixaste cair – respondeu o tambor.
Olhando para o tambor, Mariana ficou em silêncio durante alguns segundos.
- Tu falas? – perguntou ela.
- Sim – respondeu o tambor.
- Como!? Se os instrumentos não falam? – perguntou Mariana.
- Eu sou mágico – respondeu o tambor.
- Como podes ser mágico? – perguntou Mariana.
- Vou contar a minha história, a minha e dos outros instrumentos. Uma noite, depois de um espetáculo, os músicos arrumaram-nos num canto do palco e, de um momento para o outro, quando tudo estava escuro, começou uma chuva de pirilampos e a partir daí, começámos a falar – respondeu o tambor.
Nesse momento, os outros instrumentos começaram a sair da arca.
O primeiro foi o trompete que, ao tossir, fazia uns sons grossos parecidos ao do apito do comboio.
- Ainda bem que já saí daquele mofo. Quase não conseguia respirar – disse o trompete.
De seguida, saiu a pandeireta que feliz se abanava.
- Agora já me posso mexer. Estava tão apertada que quase não conseguia respirar – disse ela.
Seguiu-se o acordeão que se esticava lentamente.
- Pensei que nunca mais ia conseguir tocar. Parecia que estava preso por cordas invisíveis – disse ele.
Depois foi a vez das castanholas saltarem para fora da arca e enquanto sacudiam o pó que as cobria, sorriam.
- Que bom! É ótimo voltar a ter liberdade – disseram as castanholas.
A seguir, saiu a flauta que cansada, mal conseguia respirar.
- Aquele pó, deixou-me mesmo estafada. Acho que já não aguentava mais continuar a soprá-lo – disse a flauta.
Por último, saiu o triângulo.
- Estava a ver que não conseguia sair – disse ele.
Felizes com a liberdade, os instrumentos ficaram lado a lado e sorriam.
Alguns dias depois, Mariana e Ricardo regressaram a casa da avó Chica. Já no sótão, os irmãos reuniram-se com os instrumentos que já não sorriam.
- Porque estão tristes? – perguntou Ricardo.
- É que, nós queríamos tocar mas, este sótão é muito escuro e temos medo – respondeu a pandeireta.
- Já sei o que podemos fazer – disse Mariana.
- O quê!? – perguntaram os instrumentos.
- No parque dos Sapinhos, há um coreto e vocês podiam ir para lá tocar – respondeu Mariana.
- Boa! Mas, como vamos para lá? – perguntou o acordeão.
- Eu peço à avó Chica e ela leva-vos lá – respondeu Ricardo.
A correr, Ricardo foi até ao pé da avó.
- Avó! Na velha arca, estavam guardados uns instrumentos musicais mágicos e, queríamos pedir-te para os levares pró coreto para que outras pessoas os possam ouvir – pediu Ricardo.
- Mágicos! Como!? – perguntou Chica.
- Eles falam e tocam sozinhos – respondeu Mariana.
- Não mintam que é muito feio – disse Chica.
- Nós não estamos a mentir – disse Ricardo.
- Vem ver, avó – disse Mariana.
Seguindo os netos, Chica foi ao sótão. Lá, organizados por tamanhos, os instrumentos começaram a tocar uma linda música.
Terminada a música, Chica bateu as palmas.
- Quando me disseram que eles eram mágicos, pensei que fosse invenção vossa. Mas, agora vi que é mesmo verdade – disse Chica.
- Então, avó. Ajudas-nos a levá-los para o coreto? – perguntou Ricardo.
- Claro que sim – respondeu Chica.
Depois de transportarem cuidadosamente os instrumentos para o carro, foram para o parque onde o coreto, parecia esperar por eles.
Já preparados, os instrumentos começaram a tocar.
Aos poucos, as pessoas que passeavam no parque começaram a ouvir as músicas e aproximavam-se do coreto. Surpresas por não verem nenhuns músicos a tocar, não se afastaram e viram o espetáculo até ao fim.
Felizes, os irmãos subiram ao coreto e bateram as palmas assim como todas as outras pessoas.
Segundos depois, caiu do céu mais uma chuva de pirilampos e magicamente, os instrumentos desapareceram e no ar, ficou uma melodia calma e suave.
A partir desse dia, a melodia ficou no coreto e muitas vezes o seu som era ouvido no parque.