quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Mendigo Amigo


Na rua Pompom da aldeia Piririca, encostado a um velho muro de pedra estava o mendigo Pepe a olhar para as pessoas que passavam na rua.

Pepe era um homem que raramente se aproximava das outras pessoas e a sua única companhia era o cão Rufas.

Uma tarde, enquanto fazia festas a Rufas, Pepe viu os três amigos Gonçalo, Tiago e André a brincar nos baloiços. Gostando das crianças, aproximou-se e continuou a observá-las.

Alguns minutos depois, as crianças viram-no e sorriram. Sentindo que já lhes tinha mostrado que era amigo, Pepe aproximou-se um pouco mais e disse:

- Olá meninos!

Os amigos responderam:

- Olá!

Pepe sorriu e disse:

- Que bom que não têm medo de mim. São os únicos, porque as outras pessoas nem me dizem um olá. Eu sou o Pepe e moro neste jardim.

Espantado, Gonçalo apresentou-se e perguntou:

- Eu sou o Gonçalo. Como é que mora no jardim!?

Explicando a sua história, Pepe contou:

- Quando era pequeno, andava sempre a ajudar nas terras e por isso não andei na escola. Comecei a trabalhar muito cedo e era muito difícil. Quando fiquei sem pais, tive que vir viver para as ruas pedir esmolas.

Querendo saber mais, Tiago perguntou:

- Mas, como dorme na rua?

Pepe explicou:

- Nas noites de calor, durmo ou na relva ou nos bancos do jardim e quando chove, vou dormir para a cabana velha que está ao pé dos pescadores.

André perguntou:

- Não tem medo?

Pepe respondeu:

- Já perdi o medo.

Rindo, Gonçalo perguntou:

- Como é que se perde o medo?

Pepe explicou:

- Quando crescemos e vivemos muitas coisas, deixamos de ter medos e por isso, dizemos que o perdemos. Eu, como já tenho alguns anos, não tenho medo de quase nada.

Sorrindo, Tiago disse:

- Eu também gostava de não ter medos.

Olhando para os meninos, Pepe disse:

- Vamos para ao pé do lago que, vou-vos contar umas coisas.

Sentados na beira do lago, Pepe começou a falar:

- Uma vez, estava ao pé da estufa aberta e chegaram lá umas pessoas com uns penteados despenteados e com umas roupas muito esquisitas. Quando estavam a sair, ouvi-os dizer que nunca tinham visto frutos assim.

Rindo, Gonçalo disse:

- Na estufa não há frutos!

Pepe disse:

- Pois não. Mas eles viram as flores e pensaram que eram frutos.

Os amigos riram-se e Pepe disse:

- Há pessoas que não sabem distinguir flores e frutos. Outra vez, veio cá um homem que começou a cortar flores porque, a mulher fazia anos e ele não tinha dinheiro para lhe comprar uma prenda. O problema, foi que o segurança viu e obrigou-o a semear e cuidar do jardim até nascerem outras flores. Mas, o pior foi uma vez que um menino caiu ao lago e os patos não o largavam.

André disse:

- Pensava que o jardim era mais calmo.

Pepe disse:

- O jardim também nos ensina muitas coisas. Ensina-nos a importância da natureza, o valor da sua beleza e como ela nos faz bem.

André sorriu e disse:

- Nunca pensei que ela nos pudesse ensinar tanta coisa.

Pepe respondeu:

- A natureza ensina-nos muita coisa e algumas, nem notamos. Eu, como vivo aqui sinto que a natureza é a minha mãe. É a ela que conto algumas coisas e é com ela que percebo outras.

Olhando para uma borboleta, Tiago disse:

-Vou começar a espeitar a natureza e a trata-la como merece.

Gostando do que ouvira, Pepe disse:

- A natureza merece o nosso respeito e o nosso carinho. Sem ela, não conseguíamos viver e o nosso planeta não podia ter ninguém. Se não existisse natureza, não tínhamos nada que renovasse o ar que respiramos, nem tínhamos a água de precisamos para viver.

Sorrindo, Gonçalo disse:

- A natureza é mesmo muito importante.

Pepe olhou para o chão e disse:

- O problema é que as pessoas estão a acabar com a natureza.

Curioso, Tiago perguntou:

- Como?

Pepe explicou:

- Para além de cortarem as florestas e não as plantarem, cada vez inventam mais coisas para fazer mal ao planeta. Um dia destes, ouvi duas senhoras comentarem que o buraco da camada de ozono é cada vez maior e que não conseguem evitar que ele aumente. Também disseram que num pais qualquer, inventaram um produto que misturado com a água, consegue matar os animais que lá moram.

André olhou muito sério para Pepe e disse:

- Há pessoas muito más.

Pepe disse:

- Elas não percebem é que também estão a fazer mal a elas mesmas.

Concordando, Gonçalo disse:

- Pois não.

Olhando para uma grande árvore, Pepe disse:

- Aquela árvore, entende quando as pessoas são más.

André perguntou:

- Como é que ela faz isso!?

Pepe respondeu:

- Às vezes, quando cá vêm algumas pessoas e ela percebe que são más, deixa cair algumas folhas e fica com o tronco mais escuro.

Rindo, Tiago disse:

- Ah! Ah! Ah! Que mentira tão esquisita.

Muito sério, Pepe disse:

- Isto não é mentira. Mas, só acreditam se quiserem.

Gonçalo olhou para Tiago e disse:

- Tiago, está calado e não digas mais nada disso.

Vendo que estava a ficar tarde, André disse:

- Está na hora de irmos embora. Gostámos muito de falar com o Pepe, pode ser que voltemos cá outro dia.

Pepe disse:

-Também gostei muito de falar com vocês. Espero que voltemos a falar.

Os amigos despediram-se e foram-se embora.

No fim de semana seguinte, os amigos foram ao jardim ao pé de Pepe e quando o encontraram, viram-no muito triste. Foram ao pé dele e ele contou-lhes:

- Ontem, veio aqui um homem e esteve-me a dizer que eu tinha que sair do jardim. Agora, não sei onde hei-de viver.

Pensativos, os amigos começaram a pensar numa solução para aquele problema. Alguns minutos depois, André disse:

- O Pepe sabe muita coisa do jardim. Vamos ao clube União Natural e pode ser que eles nos ajudem.

Correndo para o clube, os amigos foram falar com o director Germano e Gonçalo contou-lhe:

- No jardim da rua Pompom, mora um homem que não tem casa nem nada.

Germano interrompeu e disse:

- Quando eu era pequeno, já o velho homem lá morava.

Tiago olhou para Germano e disse:

- As pessoas têm medo dele e pensam que ele lhes quer fazer mal.

Rapidamente, André disse:

- O Pepe não faz mal a ninguém. Ontem, estivemos a falar com ele e ele não se cansou de falar do parque e da natureza. Ele sabe muitas coisas.

Germano disse:

- Como vocês são crianças, ele deve ter gostado da vossa companhia.

Gonçalo olhou melhor para Germano e disse:

- Ele sabe tanta coisa, que era bonito se as contasse às crianças.

André interrompeu o amigo e disse:

- Podia ensinar a trabalhar com a natureza e a cuidar dela.

Achando uma ideia bonita, Germano disse:

- Como estamos na primavera, vou ver o que posso fazer.

De regresso ao jardim, os amigos encontraram Pepe e disseram-lhe:

- Falámos com o presidente Germano e pode ser que ele arranje alguma coisa gira aqui para o parque.

Sem saber o que os amigos tinham falado, Pepe ficou calado a observá-los.

Alguns dias depois, os amigos regressaram ao jardim e, no coreto viram muitas cadeiras. Nesse momento, apareceu Germano e disse:

- Está tudo preparado para que o Pepe possa falar com as crianças.

Pouco depois, apareceu Pepe que ao olhar para o coreto, perguntou:

- Que vai acontecer ali?

Germano respondeu:

- Preparámos aquilo, para o Pepe falar do jardim e da natureza para quem quiser ouvir. Daqui a pouco, os meninos da escola primária da freguesia, vêm cá.

Sem saber o que dizer, Pepe ficou calado a olhar para os amigos.

Entretanto, chegaram os meninos e envergonhado, Pepe falou-lhes da importância da natureza e de todos os cuidados que ela merece.~

No fim, depois de um grande aplauso, Germano levou Pepe até uma pequena casa, dizendo-lhe:

- Esta é a sua nova casa. A partir de agora, vai deixar de dormir no jardim e aqui terá tudo o que necessita.

Com lágrimas nos olhos, Pepe só conseguiu dizer:

- Obrigado.

Os amigos aproximaram-se e felizes disseram:

- Bem-vindo.

A partir desse dia, Pepe começou a partilhar as suas histórias com todos os habitantes de Piririca, sendo respeitado por toda a aldeia.

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