quinta-feira, 8 de maio de 2014

A Vergonha De Teresa


         Numa manhã de sol quente, Teresa de 16 anos olha-se ao espelho e triste observa as cicatrizes que tem espalhadas pelo corpo.
         Depois de se preparar, Teresa vai ter com a mãe que lhe entrega um saco e diz:
         - Filha, ontem comprei-te umas roupas e gostava que as visses.
         Pegando no saco, Teresa vai para a sala e começa a ver o que a mãe tinha comprado. Lá, vê umas calças justíssimas, um vestido comprido de alças, uma saia e uma blusa de decote em bico. Depois de olhar atentamente para as roupas, Teresa arruma-as no saco e começa a folhear algumas revistas procurando a dieta ideal.
         Enquanto isso, Carla entra e pergunta:
         - Então! Gostaste das roupas que te comprei?
         Rapidamente, Teresa responde:
         - Não! As roupas são horríveis para mim.
         Sem perceber o porquê daquela resposta, Carla pergunta:
         - Mas, porquê!? Não gostas mesmo de nenhuma?
         Teresa pega no saco e entregando-o à mãe, diz:
         - Como queres que goste de alguma!? Essas roupas são para quem tem um corpo bonito, sem cicatrizes e o meu é horrível.
         Aproximando-se mais, Carla diz:
         - Eu sei que o teu corpo tem muitas marcas mas, não deves dar importância a isso.
          Rapidamente, Teresa responde:
         - Como queres que não dê importância a isso!? O meu corpo parece quase um espantalho cheio de remendos.
         Percebendo que não ia conseguir mudar o pensamento da filha, Carla saiu do quarto e deixou Teresa a pensar.
         Segundos depois, Teresa agarra o seu peluche preferido e tratando-o como um humano, diz-lhe:
         - Sou horrível. O meu corpo é tão feio que pareço uma criatura extraterrestre. Como se não bastasse todas as cicatrizes, também esta gordura e estrias não ajudam nada. Nem quero imaginar o que as pessoas diriam ao ver as minhas pernas.
         Enquanto dizia isto, Teresa não conseguiu evitar as lágrimas que começaram a cair-lhe pela cara.
         Nos dias seguintes, Teresa fazia questão de mostrar o seu corpo ao mínimo e além disso, as saídas de casa eram raras.
         Passado algumas semanas, com a chegada das férias Teresa continuava a usar calças e a fazer o possível para esconder o corpo.
         No início de mais uma semana, durante o pequeno-almoço, o pai Joel disse:
         - Como sabem, vão começar as minhas férias e já tenho tudo programado para irmos passar uns dias noutro local.
         Rapidamente, Teresa perguntou:
         - Onde!?
         Joel respondeu:
         - Onde é, não vos vou dizer. Quero que seja uma surpresa.
         Feliz com a notícia, Teresa abraçou o pai e disse-lhe:
         - Que bom. Obrigado, pai.
         Chegado o dia da viagem, a felicidade de todas era muita e todos os outros problemas foram esquecidos.
         Após algumas horas de viagem, chegaram a Lagos onde viram uma praia lindíssima com a areia mais clara que a neve.
         Depois de se alojarem, foram dar um pequeno passeio pela praia e Teresa olhava com inveja para as outras raparigas que exibiam o seu corpo perfeito, sem quaisquer cicatriz ou marca.
         Na manhã seguinte ao chegarem à praia, Teresa não ficou em fato de banho e assim recusou todos os convites para ir à água.
         Algum tempo depois, Teresa viu uma rapariga estender a toalha ao seu lado e ao olhá-la, viu que não tinha nenhum cabelo.
         Pouco depois, Carla percebeu que a filha estava a olhar a outra rapariga e aproximando-se, perguntou:
         - Sabes quem é aquela rapariga?
         Teresa respondeu:
         - Não.
         Carla disse então:
         - A rapariga é a Joana. A filha da Lizete e do Heitor.
         Querendo saber mais, Teresa perguntou:
         - O que lhe aconteceu?
         Carla respondeu:
         - Ela tem uma doença que não lhe deixa ter cabelo.
         Sentindo-se um pouco estranha, Teresa perguntou:
         - E não a tratam?
         Carla respondeu:
         - Segundo sei, os médicos andam a estudar o problema mas não está a ser fácil.
         Depois de olhar novamente para Joana, Teresa perguntou:
         - Será que posso ir falar com ela?
         Carla respondeu:
         - Não só podes como acho que vai ser bom para as duas.
         Apressadamente, Teresa embrulhou-se na toalha e aproximou-se de Joana, dizendo:
         - Olá.
         Joana respondeu:
         - Olá.
         Sorrindo, Teresa apresentou-se:
         - Sou a Teresa e tenho 16 anos
         Joana também se apresentou:
         - Eu sou a Joana e tenho 15.
         Após a apresentação, Teresa começou a sentir-se preparada para continuar a conversa e perguntou:
         - Posso falar contigo?
         Joana respondeu:
         - Se não te fizer impressão estares a falar com uma careca, podes.
         Teresa sorriu e disse:
         - Sabes, eu vim falar contigo porque também tenho um problema.
         Não percebendo ao certo o que Teresa queria dizer, Joana perguntou:
         - Que tens?
         Sentindo-se um pouco mais confiante, Teresa tirou a toalha e mostrando as cicatrizes, disse:
         - Eu tenho muita vergonha do meu corpo, cheio de cicatrizes e marcas.
         Querendo saber mais, Joana perguntou:
         - Mas porque tens tanta marca no corpo?
         Mais confiante, Teresa respondeu:
         - À uns anos tive um problema com tendões e tive que ser operada às duas pernas. Depois, tiveram que me tirar uns sinais esquisitos e por último, caí e parti a cabeça.
         Ao acabar de falar, Teresa sentiu algo esquisito e percebeu que, assim como Carla tinha dito, aquela conversa tinha-lhe feito muito bem.
         Depois de conversarem mais um pouco, Teresa regressou para perto da mãe e disse-lhe:
         - Mãe, não imaginas como foi bom ir falar com a Joana.
         Surpresa, Carla perguntou:
         - Que aconteceu!?
         Teresa explicou:
         - Falei-lhe na vergonha que tenho do meu corpo e, quando acabei de lhe contar tudo, percebi que não me posso sentir inferior por isto.
Feliz por perceber que a filha tinha conseguido ultrapassar aquele sentimento de inferioridade, Carla disse:
- Como viste, apesar de tudo a Joana é feliz e não é o seu problema que a inferioriza.
Sorrindo, Teresa concordou:
- Pois é. A partir vou fazer o possível para perder a vergonha.
Gostando do que a filha estava a dizer, Carla sorriu e disse:
- Então, espero que as roupas que te comprei sejam usadas de modo a marcar essa tua mudança.
Feliz, Teresa abraçou a mãe e disse:
- Claro que sim. Agora vou mostrar a todos que, mesmo diferente sou feliz.

Desde esse dia, Teresa tornou-se uma rapariga muito mais aberta e feliz.

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